terça-feira, maio 31, 2005

Enfim, o povo foi às ruas!


Eu dizia que pararia de beber, àquela época em que cerveja em Manaus era Antarctica, assim que os pingüins do rótulo da garrafa enfim se abraçassem. Achava que aquele era o supremo desafio à realidade, protegendo-me da abstinência com condições inexeqüíveis. Agora vejo a mobilização social que ocorre em São Paulo, o coração do país. Aí traço outro desafio, este aparentemente invencível: deixo de repetir-me em queixas a esse país sem-vergonha assim que, entre as paradas evangélicas de 2 milhões de pessoas e as paradas gays de 1.8 milhão de pessoas, ao menos 1.000 pessoas cheguem à Avenida Paulista pra dizer alguma coisa, qualquer coisa (uma faixa, uma camiseta preta, umas listras verde-amarelo no rosto) sobre o que tem vindo à tona na privada da vida pública nacional.

Não que marchas evangélicas, caras pintadas gazeteiros e travestis fazendo caras e bocas ao som de música techno não sejam importantes. Longe de mim dizer uma coisa dessas, são manifestações de suma importância para o momento atual do país, como os flash-mobs e as festas do abraço, importadas instantaneamente das ruas de Manhattan para as ruas de São Paulo.

Mas pra que falar repetidamente sobre política ou sobre os desgostos que esse arremedo de política nos dá nesse país, se podemos fazer e falar sobre coisas tão mais interessantes, como a questão que não queria calar na última semana. Não, não era sobre a dimensão da sujeira que essa CPI vai alcançar. Era se existem, em São Paulo, mais crentes ou mais gays.