quarta-feira, maio 04, 2005
Quarto luga-ar, quarto luga-ar, olê, olê, olêê...
E então minha pujante, quase européia Manaus, uma das nove ilhas de riqueza do Brasil, é a quarta cidade mais rica do país. Espoquem os morteiros, aumentem a fonte das manchetes dos jornais, vamos celebrar! A construção do gasoduto Coari-Manaus, conquista de dez entre dez políticos amazonenses (comunistas, pefelistas, petebistas e pessedebistas, todos papais do tubão da Mamãe Petrobras), fica para escanteio. Injustamente; foi a exploração do petróleo, em todas as cidades com o maior PIB per capita do Brasil, a responsável pelos resultados da pesquisa do IBGE. Já são refeitos os scripts das propagandas partidárias locais. Vem aí os "Graças ao trabalho incansável do deputado [de quem é a vez?], Manaus é a quarta cidade mais rica do país!" e os "Essa é mais uma conquista do deputado [Vamos, pessoal, a fila é grande!], que tanto lutou, em Brasília, pela aprovação do gasoduto Coari-Manaus!".
Em sua recente boa-ação pela calha do Rio Juruá, Eduardo Braga distribuiu energia, médicos e hospitais. Silas Câmara ali, do ladinho, no programa do PTB, segunda-feira. Os ribeirinhos, agradecidos, louvavam o governador e seus peixes-piloto pela bondade e misericórdia de ter lembrado daqueles rincões do mais absoluto Nada Amazônico.
Não quero soar ingrato, mas mesmo vendo toda essa riqueza que transborda de nossas ruas, favelas e invasões de terra, escolas, postos de saúde, nossa Santa Casa e nossos hospitais universitários maravilhosamente equipados, ainda acho que poderíamos estar mais bem servidos. A despeito de termos à frente apenas São Paulo, Rio e Brasília e sermos esse oásis tropical, cheio de oportunidades, empregos, benfeitorias públicas e segurança pública invejáveis, suspeito que há muito mais dinheiro, mas muito mesmo, entrando nos cofres do Amazonas. Tudo bem, temos tudo do bom e do melhor. Carros alemães pra todos, casas populares no Jardim das Américas, charutos cubanos, bolsas Luis-Vitton, canetas Mont Blanc e contratões com o governo. Mas poderíamos ir além. Poderíamos deixar paulistas, cariocas e brasilienses pra trás e disputar, de igual pra igual, com os xeques sauditas. Rhiad é o limite, irmãos arigós e cunhantãs do meu Amazonas!
Combinemos assim, amazonenses. Vamos todos espocar o Don Perignon e abrir as latas do mais nobre caviar Beluga. Vamos tirar os Bentleys das garagens, comprar nossos bilhetes de trem-bala ou do metrô de superfície (lembram?), acionar nossos pilotos particulares e vamos, todos os ricaços da ricaça Manaus, comemorar em Urucurituba ou em Santo Antônio do Içá. Mas lembremos de levar nossa equipe particular de médicos especialistas para o caso de uma emergência. Por aquelas bandas a saúde do povo é tamanha que não se precisa de médicos e professores, essas regalias supérfluas. Além disso, Mamãe Petrobras também manda, de vez em quando, médicos e professores em barcos-escola - e melhor, não só durante campanhas eleitorais.
Arremate da receita: tome todos os complexos e detalhados números da pesquisa do IBGE, adicione duas colheres de sopa de dedução, uma pitada de noz-moscada e um copo de transparência, e teremos um país miserável, com nove manchas de óleo e o letreiro BR, além de uma dinheirama pra cada vag... servidor público de Brasília. Não somos 26 estados e um Distrito Federal. Somos 9 filiais da Petrobras e um Ralo Federal.