quarta-feira, maio 11, 2005

Não tente isso em casa.


Claro, palavrão é feio, chulo, às vezes até escroto. Mas indispensável em certos momentos-chave. Na hora certa, com o ouvinte certo – ou sem ouvinte – é quase bonito, às beiras da elegância. Acho que foi em A Partilha, aquele filme adaptado da peça do Falabella (é isso?), que vi a Andréa Beltrão (é isso?) mandar alguém ir tomar no olho do cu com uma dicção tão perfeita e firme, e num momento tão crucial, que a platéia do cinema gritou “u-hú!”. O que dizer então do Dadinho, digo, Zé Pequeno, em Cidade de Deus?

Eu falo palavrão, mas muito raramente. Palavrões são como alguns poucos foguetes de sinalização à disposição numa ilha deserta. Ou seja, não podem ser desperdiçados com qualquer situação. Se seu time tomou um gol, se você é um afortunado motorista manauense ou se furaram a fila no banco, troque seus palavrões por coisas mais politicamente corretas como um “pôxa”, um “caramba” ou um singelo “que pena”. Meu primeiro palavrão foi desperdiçado, e dele nunca esqueço por causa da bofetada desdentante que tomei da minha mãe. Ouvi o Matinha (figura da minha infância que merece um post exclusivo) dizendo na rua que alguém estava todo fodido e achei aquela palavra bonita, nova, adulta. Fui pra casa, cheio de novidade, contar para a mamãe que tinha alguém na rua todo fodido. Ainda hoje tenho dores no lado esquerdo do rosto (minha mãe é destra) em dias frios.

Esse post é mais uma amostra da paciência (e capacidade) que tenho tido para elucubrações mais nobres e relevantes para a história do Brasil. E já que o tema é esse, aproveito para fechar esse momento raro e necessário (falar palavrão) com uma piadinha fofa que me contaram dia desses.

No convento, uma freirinha costura um véu novo e se machuca:

- Merda, furei o dedo!
- Porra, falei “merda”!
- Caralho, falei “porra”!
- Puta que o pariu, falei “caralho”!
- Ah, foda-se, eu não quis vir pra cá mesmo!

Motivado por este post da Themis.