terça-feira, maio 31, 2005
Café sem amor pelo trabalho dá nisso...
Um colega sabotador, uma servente distraída ou um comprador desatento abasteceu as máquinas automáticas de café do escritório com café sem cafeína. Provou, querendo ou não, o que eu já disse: ninguém gostaria de estar trabalhando.
Ah, como eu queria uma máquina fotográfica aqui comigo...
Enfim, o povo foi às ruas!
Eu dizia que pararia de beber, àquela época em que cerveja em Manaus era Antarctica, assim que os pingüins do rótulo da garrafa enfim se abraçassem. Achava que aquele era o supremo desafio à realidade, protegendo-me da abstinência com condições inexeqüíveis. Agora vejo a mobilização social que ocorre em São Paulo, o coração do país. Aí traço outro desafio, este aparentemente invencível: deixo de repetir-me em queixas a esse país sem-vergonha assim que, entre as paradas evangélicas de 2 milhões de pessoas e as paradas gays de 1.8 milhão de pessoas, ao menos 1.000 pessoas cheguem à Avenida Paulista pra dizer alguma coisa, qualquer coisa (uma faixa, uma camiseta preta, umas listras verde-amarelo no rosto) sobre o que tem vindo à tona na privada da vida pública nacional.
Não que marchas evangélicas, caras pintadas gazeteiros e travestis fazendo caras e bocas ao som de música techno não sejam importantes. Longe de mim dizer uma coisa dessas, são manifestações de suma importância para o momento atual do país, como os flash-mobs e as festas do abraço, importadas instantaneamente das ruas de Manhattan para as ruas de São Paulo.
Mas pra que falar repetidamente sobre política ou sobre os desgostos que esse arremedo de política nos dá nesse país, se podemos fazer e falar sobre coisas tão mais interessantes, como a questão que não queria calar na última semana. Não, não era sobre a dimensão da sujeira que essa CPI vai alcançar. Era se existem, em São Paulo, mais crentes ou mais gays.
segunda-feira, maio 30, 2005
A diverticulite do PT
Ninguém, ninguém mesmo, deveria fazer chacota com a morte deste PT que eles, os petistas, imaginaram e sonharam. Hoje vejo esse partido debatendo-se à morte, e de certa forma me entristeço, apesar de nunca ter sido seu eleitor. Tenho visto, nas piscadas de olhos entre uma matéria e outra dos jornais e revistas, aquela cena de O Exterminador do Futuro 2, na qual o robô vilão cai numa caldeira de metal incandescente e, nos seus últimos momentos, toma a forma de todos aqueles de cujo corpo fizera uso durante sua “vida”; debatendo-se aos berros com mil rostos, mil corpos e mil disfarces. É o PT, é a idéia infantil do PT morrendo. Porque o PT foi concebido, como o socialismo, para outros mundos, mundos perfeitos, sem a imunda e viciada interferência humana, essencialmente capitalista.
Esse partido nasceu pelos motivos errados. Não se funda um partido por ideologias como justiça ou ética. Justiça e ética não são idéias, são princípios fundamentais da vida em grupo, pilares obrigatórios da civilização, sem os quais nada fica de pé. E o PT, gerado e cercado pela ignorância sofrida de brasileiros cheios de boa alma e vazios de informação, ganhou simpatia e poder.
Ladrões não têm bandeira ou ideologia, têm fome, apenas fome. Deputados ladrões são como prostitutas; fazem e dizem o que se pede que façam e digam, e cada “eu te amo”, cada “você é o melhor!” tem seu preço. Aquele grupo que mesclava intelectuais comunistas com semi-analfabetos de cordas vocais potentes acabou. Para mim, um triste descrente na raça humana, é melancólico ver a utopia e a burrice dessa gente ruindo. Ingênuos e arrogantes como só a esquerda sabe ser – a direita é arrogante, mas nada ingênua -, essas pessoas que queriam nos governar menosprezaram a experiência da direita em matéria de poder; seus truques, sua sabedoria política. Fizeram pouco caso da habilidade de históricas raposas da roubalheira política. Beijaram, abraçaram e até dormiram com quem não deviam. Burros e irresponsáveis como um pobre com um cartão de crédito recém-adquirido, foram às compras, enforcaram-se e enguiçaram. Agora a conta chegou, ela sempre chega, com juros e correção monetária. Por dinheiro, as prostitutas juram amor e até aceitam uns tapas, meus queridos e ingênuos garotos petistas. Vocês, pré-adolescentes com hormônios demais e capacidade de menos para a política, ainda precisam comer muito feijão com arroz.
Não me doem os dinheiros que se vão do meu bolso com a ruína dessa gente. Já fui assaltado outras vezes, serei ainda muito mais, mas dessa vez pago a conta sem raiva. É como se eu pagasse por um jardim que não floresceu, presente de um vizinho bem intencionado, tagarela e burrinho. Pago pra nunca mais precisar ouvir falar daquele jardineiro nem daquele vizinho. Poderia cobrar o prejuízos do vizinho, mas prefiro que ele fique “pianinho” comigo, envergonhado com a lição que lhe dou abrindo minha carteira e pagando a conta.
A morte desse partido precisa ser didática. Seu cadáver precisa ser dissecado por todos nós. Pra mim, com meu entediado ceticismo, essa é uma oportunidade única na vida desse país. Oportunidade de aprender a pensar, de aprender a valorizar a inteligência, o poder de mudar as coisas de forma chata, metódica e planejada, sem estripulias. Eu sei, dói ver esse William Wallace chinfrim perdendo a cabeça em praça pública, pagando por sua arrogância e por sua incompetência, enquanto as hienas dos bastidores procuram por novas carcaças. Mas não tiremos as crianças da sala, deixemos que se impressionem mesmo, que tenham pesadelos de madrugada. Elas precisam ver esses rostos e corpos se debatendo no metal incandescente, como no filme, tomando a forma grotesca dos Jucás, dos Jéffersons, dos Rorizes, dos Fleurys e dos Waldomiros. Mostremos aos nossos filhos, ainda que nos doa, como morre a burrice, para que eles aprendam, com seus estomaguinhos engulhados e seus pelinhos arrepiados, a livrar-se dessas experiências tão penosas e inúteis. E voltemos para nossa cadeirinha de vítima. Sei também, vamos continuar sendo roubados, mas ao menos será por gente competente, tarimbada no sagrado ofício do roubar. Porque dolorido não é ser apenas assaltado, é ter o assalto anunciado por um adolescente estabanado e sem estilo, cheio de espinhas, a gritar “Isso não é um assalto, pessoal! Tamos pegando esse dinheiro docês pra dar pros pobre!”.
Notas de segunda-feira
Um grupo de turistas visitou Brasília sexta-feira. E produziu uma das cenas mais hilárias da semana passada.
Guerra, e não o clima, é a maior causa da fome no mundo, segundo a ONU. Das 36 nações que enfrentam grave falta de comida, 23 estão na África.
Um casal malaio decidiu vender o bebê que está perto de nascer por 8.000 dólares, dinheiro de que precisam para pagar a cirurgia cardíaca do filho mais velho, de sete meses. Jamal Harun, de 41 anos, e sua esposa, Siti Rogayah Sharudin, de 21, grávida, pedem 30.000 ringgit (7.895 dólares), para dar ao filho em adoção, valor proposto por um casal de Cingapura. Falando sério, o que você faria no lugar de Jamal e Siti?
Globo escala Vera Fischer para levantar "América". Sei que meu grande chapa Amaury (que aprecia muito as notas das segundas) vai discordar meigamente, mas a Vera Fisher nunca levantou nada em mim. Ah, eu ia falar de América, mas chutar cachorro morto não tem graça*.
Mas continua a nota: “Até o momento, Vera ainda não foi chamada e passa as horas escrevendo, produzindo e editando os seus filmes de terror, feitos em sua própria casa e que trazem no elenco seus amigos e familiares. No próximo final de semana, uma nova produção caseira está a caminho”...
...peraí, como é que é?!
Luís Figo não dá mais nem “bom dia” a Wanderley Luxemburgo depois de ter sido “promovido ao mercado”, ou seja, mandado para o banco de reservas do Real Madrid. Vou lhes dizer uma coisa, custe o que me custar: o Luxemburgo e o Ciro Gomes têm meu respeito.
Simplificando o que complicaram: idiota não é o Diogo Mainardi. Idiota é quem o discute.
Na última quinta-feira aconteceu, em São Paulo, a Marcha para Jesus, onde 2.000.000 de evangélicos se amontoaram para proclamar sua fé. Como o mercado religioso evolui mais rapidamente do que a velocidade dos micro-chips, já há grupos de evangélicos homossexuais, que ainda brigam por seu espaço dentro do mundo crente.
Mais: já há butiques especializadas em “moda evangélica”. Nicho de mercado é isso.
E São Paulo não pára (a não ser quando chove, claro). Semana passada a cidade se candidatou oficialmente a Sede da Olimpíada Gay de 2009. O time paulistano de vôlei gay já treina intensamente para a edição de 2006. Ué, mas o vôlei já não era essencialmente um esporte gay?!
Pergunta da Hellen, minha “teórica da conspiração” preferida: por que será que os maiores prêmios da Megasena sempre saem para uma única pessoa?
Os franceses disseram “Não” à Constituição Européia. Seus maiores argumentos eram os de que a nova constituição era liberal demais e que pouco contribuiria para as questões sociais. Esses “esquerdinhas” não têm jeito mesmo... Vão continuar na pobreza e na incultura, esses franceses...
* Chutar cachorro morto é figura de expressão, viu?
sexta-feira, maio 27, 2005
Como aplicar um golpe de Estado
Graças à sua inabilidade política (sentir-se à vontade no cargo e improvisar discursos diários não demonstra habilidade política alguma) e à inabilidade política de seus generais, o presidente Lula vem sofrendo ataques cirúrgicos da oposição, que já ensaia um clima de “crise institucional”. A oposição é o PSDB de Arthur Neto, Tasso Jereissati e Fernando Henrique. Colômbia, Bolívia e Equador, vizinhos brasileiros, também passam por crises institucionais. Então eu lembrei dum texto do jornalista Paulo Henrique Amorim, publicado no Observatório de Imprensa no dia 30 de março de 2004, que transcrevo abaixo.
Paulo Henrique Amorim
As lições de 64. Como aplicar um golpe de Estado.
Acredito que, na América Latina, todo presidente trabalhista é uma vítima em potencial de um golpe de Estado. Acredito que no Brasil sobrevivem instrumentos muito úteis a um golpe de Estado. Acredito também que esses instrumentos são testados no Brasil e na América Latina com freqüência. Não são nenhuma novidade. Apesar do júbilo que percebi entre os que, ao relembrar '64, observaram que "isso não se repetirá", pois, entre muitos motivos, "as instituições democráticas estão mais fortes", peço licença para discordar.
Há várias maneiras de dar um golpe de Estado hoje no Brasil. Não imagino como um golpe de Estado possa acabar - se com um tiro no peito no Palácio do Catete, ou com o incêndio do La Moneda. Mas, conheço várias maneiras de botar o golpe para andar.
Não pretendo, aqui, competir com Curzio Malaparte, que, no auge do fervor fascista, escreveu o manual "Técnica do Golpe de Estado". Pretendo, apenas, demonstrar que a técnica está ao alcance de todos.
Para tratar de um assunto que conheço melhor, vamos ver, primeiro, como se pode dar um golpe pela televisão.
Recomenda-se inicialmente aplicar no canto direito do vídeo, embaixo, a expressão "ao vivo". Em seguida, combinar imagens de baixo e de cima, feitas de helicóptero. E fazer com que os repórteres andem, quase corram, e narrem com dificuldade de respirar. Cria-se assim um ambiente de dramaticidade. De urgência. "Está para acontecer", "a história que se faz à sua frente, ao vivo". O espectador precisa ter a sensação de que também ele é capaz de dar o golpe.
Para que utilizar essa técnica? Para cobrir a "baderna". Por exemplo, uma greve em serviço público. Um confronto entre grevistas e a polícia. A paralisação dos transportes, como ocorreu na queda de Allende. O fechamento do porto de Paranaguá, recentemente, teria sido um cenário quase perfeito. Com imagens de helicóptero, aquelas filas de caminhões intermináveis. Não podia ser melhor para um golpe.
Como se sabe, a quase-obra-prima do golpe da mídia foi em abril de 2002, quando as quatro redes de televisão da Venezuela usaram a melhor tecnologia disponível. Nos quatro dias antes do golpe, as quatro estações colocaram "talk-shows" no ar, ao vivo, com respeitáveis "comentaristas", freqüentemente inflamados, que desancavam o presidente eleito. Nos intervalos, comerciais "pagos" por importantes grupos ligados à industria do petróleo conclamavam a população a ir a uma passeata contra o presidente eleito: "Nenhum passo atrás ! Levante-se. Às ruas!" - era a chamada.
Até que houve a tragédia que impulsionou o golpe. Na passeata, no confronto de manifestantes contra e a favor do presidente eleito, apareceu um livre-atirador e 11 pessoas morreram. As quatro redes fizeram uma cobertura exaustiva, desse jeito, ao vivo, com narrações ofegantes, e responsabilizaram a polícia do presidente eleito.
(Um cadáver é um fermento poderoso para golpes. A história do Brasil registra a morte do Major Rubem Vaz, no crime da Rua Toneleros, e como contribuiu para o golpe contra Getúlio.)
Com "a baderna" nas ruas e a frenética cobertura da televisão, o presidente eleito saiu do Palácio, mas não renunciou. A oposição tomou o Palácio e deu-se o golpe. As emissoras de tevê censuraram qualquer noticia sobre o presidente eleito. O presidente da "Abert" venezuelana, a associação que reúne as redes de televisão, foi um dos signatários do decreto que fechou o Congresso Nacional.
O golpe da Venezuela, como se sabe, durou 48 horas. Mas demonstrou de forma inequívoca que a televisão pode fazer mais do criar as condições para um golpe. Ela, de fato, pode dar o golpe.
Uma questão de método: o que é uma "baderna"?
Depende de quem controla os meios de comunicação. O que, no Hemisfério Norte, se pode chamar de "reivindicação salarial", no Hemisfério Sul, a depender do interesse da rede de televisão, do numero de pessoas na rua e da presença do helicóptero ou do moto-link, se pode chamar de "baderna".
Um instrumento importante para a televisão dar o golpe é a utilização das "pesquisas" de opinião pública.
(Para que não haja dúvidas, devo explicar, preliminarmente, que o UOL, onde trabalho, é controlado pela Folha de São Paulo, que também controla o Datafolha. O Datafolha é o único instituto de pesquisa que não vende pesquisas a candidatos. E é nessa relação institutos-tevê-candidatos que, na minha opinião, se encerra o pecado capital da indústria de pesquisas no país.)
Primeiro, ao se preparar um golpe para depor o presidente eleito, é muito importante dar destaque às pesquisas de opinião publica. Falo, claro, de pesquisas em que o presidente eleito fique mal. Dar na escalada do jornal da tevê. Fazer computer-graphics fortes. Poucas telas, para não confundir. Poucos elementos por tela, para ressaltar o mais importante. Usar cores primárias. Confirmar os dados da pesquisa com "comentaristas", de preferência os donos dos próprios institutos de pesquisas, para evitar duvidas ou interpretações ambíguas.
O importante é fazer com que o resultado de cada pesquisa pareça o resultado de uma eleição. Para que a legitimidade do presidente eleito se submeta a vários "turnos": cada pesquisa é uma nova eleição.
A pesquisa na manchete da televisão é uma forma infalível de corroer a legitimidade de um presidente eleito. Cria a sensação de que a pesquisa contém um resultado inapelável, assim como deveria ser inapelável, por quatro anos, o resultado da eleição presidencial: "bom, se a popularidade dele está assim. não tem jeito, ele tem que cair fora".
É muito importante o golpista usar uma tecnologia que, até onde sei, foi usada com perfeição por um grande estadista, o Presidente Richard Nixon dos Estados Unidos. O interessado - como era Nixon -- tem que conhecer o resultado da pesquisa com antecedência, para criar fatos políticos que a pesquisa venha a confirmar. Ou preparar a defesa, caso o resultado da pesquisa venha a ser desfavorável aos organizadores do golpe.
Nixon condicionava a data de solenidades públicas e de eventos da Presidência à data da divulgação da pesquisa. Ele tinha na Casa Branca equipes para tratar de cada instituto de pesquisa: para cada Ibope, um grupo de trabalho. O objetivo era criar um ambiente tão favorável que a Casa Branca soubesse - e muitas vezes pudesse mudar - as perguntas que a pesquisa ia fazer no campo.
Essa é uma técnica tão eficaz que pode ser usada igualmente pelos organizadores do golpe. Não é monopólio de quem está no poder.
Também não é novidade. Vi com meus olhos, na suíte presidencial do Hotel Plaza, de Nova York, quando o então presidente Fernando Collor recebeu, de manhã, o resultado de um Ibope que o Jornal Nacional divulgaria à noite.
Quanto mais perto da eleição, essa ligação de institutos de pesquisa com redes de tevê se torna ainda mais relevante.
Na ultima eleição para Presidente do Brasil, houve dois episódios que demonstram como essa associação pode ajudar um golpe de Estado.
"Desconstruída" a candidatura Roseana Sarney, era importante para o candidato José Serra "desconstruir" a candidatura Ciro Gomes, imediatamente após o início da campanha no horário gratuito da tevê. Serra precisava se aproximar, o mais rápido possível, do embate direto com Lula, quando, então, se comprovaria que Serra estava "mais preparado" para governar.
Ao fim da primeira semana da propaganda eleitoral gratuita, dois institutos de pesquisas - nenhum deles era o Datafolha - conseguiram mostrar números que "desconstruíram" a candidatura Ciro Gomes. Soube, na época, embora não pudesse confirmar - como não posso, até agora - que dois fortes empresários do setor financeiro (um deles também ligado à industria de telefonia) fizeram uma vaquinha para financiar as pesquisas que levassem a esse resultado: "desconstruir" Ciro Gomes.
Ainda no primeiro turno, tenho sérias desconfianças de que, a certa altura, Anthony Garotinho passou ao segundo lugar, na frente de Serra.
Segundo o site americano www.voterfraud.org, uma das formas de fraudar uma eleição é precisamente manipular pesquisas de intenção de voto meses bem antes da eleição.
Para quem quer dar um golpe no presidente eleito, as pesquisas meses antes da eleição são um poderoso instrumento. Devidamente "trabalhadas", elas matam os candidatos indesejáveis e começam a plantar a semente da instabilidade: o inimigo está fraco.
A rigor, os institutos de pesquisa de opinião pública só precisam acertar uma pesquisa: a de boca de urna, no dia de eleição. Todas as outras são precárias. Ainda mais que a indústria da pesquisa de opinião pública no Brasil é tão transparente quanto era a indústria do bingo.
Um instrumento poderoso para derrubar um presidente da República eleito é fazer com que uma instituição financeira - de preferência americana - contrate uma pesquisa de opinião pública.
Aí, é a sopa no mel. Porque, se o Presidente candidato à reeleição se sair mal na pesquisa, torna-se alvo de duas armas mortíferas: a perda de legitimidade e a subseqüente condenação dos mercados financeiros internacionais.
Isso aconteceu na ultima eleição, com efeitos dramáticos. O então presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato José Serra foram para a televisão dizer que a eleição de Luís Inácio Lula da Silva significava "a argentinização" do Brasil. Essa impressão se confirmava em pesquisas contratadas por um dos maiores bancos americanos, o Bank of America. Quanto mais Lula subia nas pesquisas, mais o Brasil se aproximava do abismo. O banco americano Goldman Sachs, onde pontifica um respeitado economista brasileiro, Paulo Leme, criou o "dólar Lula": cada vez que Lula subia nas pesquisas, o dólar subia junto.
Não é à toa que às vésperas do segundo turno, o dólar chegou a R$ 3,78 e o risco-país a 1.813 pontos. Hoje, o dólar está perto dos R$ 2,90 e o risco, acima dos 500 pontos.
Como uma das vantagens de encomendar uma pesquisa é receber o resultado antes da divulgação, é possível - como talvez já tenha acontecido no Brasil. A instituição financeira deixa vazar a informação mais útil e ganha montanhas de dinheiro na bolsa e no mercado do dólar.
Outro fator importante nesse conjunto de instrumentos para derrubar um presidente eleito são os economistas dos bancos internacionais e as agências de risco: eles têm um poder incontrastável. Como uma brigada anônima, que se manifesta através dos noticiosos financeiros na Internet, eles decidem se os investidores do mundo inteiro devem ou não investir num país. A revista Carta Capital contou que, uma vez, em Nova York, o Primeiro Ministro da Itália, Massimo Dalema, resolveu conhecer o economista de um banco que decidia se os investidores deviam ou não comprar títulos do Governo italiano. Conheceu: o jovem não falava italiano nem conhecia a Itália.
Se as pesquisas na televisão já "demonstrarem" uma deterioração da legitimidade do presidente eleito, uma confirmação que venha do exterior, de preferência de Wall Street, pode ser muito útil a um golpe. Dá-se então o ciclo da auto-alimentação: as pesquisas saem na tevê: "a legitimidade do presidente eleito está em baixa". Com isso, as agencias de risco se assustam e o risco-país dispara. Aí, as tevês dão em manchete: “O risco-país disparou". E a legitimidade do presidente eleito piora ainda mais.
É o golpe do risco-país, uma atualização do que Malaparte chamou, prosaicamente, de "golpe de Estado".
Porém, a forma infalível de dar um golpe de Estado é roubar a eleição. Não me refiro à eleição de George Bush, à apuração na Florida ou ao golpe da Suprema Corte, liderada pelo Marechal-Juiz Anthony Scalia.
Diz-se que o Brasil é um exemplo ao mundo: que a votação eletrônica brasileira é à prova de fraude. Em 1982, no Rio de Janeiro, vi uma eleição à prova de fraude ser manipulada, na digitação dos votos, por obra de uma associação do então SNI com o candidato do Governo, Moreira Franco, e o apoio da Rede Globo e do jornal O Globo. Tudo para impedir a eleição de Leonel Brizola ao Governo do Estado. Foi o chamado escândalo da Proconsult.
Depois do fiasco da eleição de 2000, até hoje a imprensa americana (e os democratas) tem sérias duvidas sobre a lisura da próxima eleição presidencial na Florida. Eu, de minha parte, acredito em tudo. A Proconsult pode ressuscitar. Quem assistiu a Matrix sabe que roubar uma eleição, na Florida ou em Madureira, é uma questão de software.
Recentemente, o ex-presidente do México, Miguel de la Madrid publicou um livro em que conta como roubou a eleição para dar a vitória a Carlos Salinas de Gortari. De la Madrid confirma o que sempre se imaginou: a apuração começou a revelar que o candidato da oposição Cuauhtémoc Cardenas venceria. O Governo anunciou que os computadores tinham quebrado e a apuração recomeçaria do zero. Salinas se elegeu. E hoje vive refugiado na Irlanda.
Há uma forma branda, quase indolor de dar o golpe. Criadas as condições necessárias, com a aplicação das técnicas acima mencionadas, é possível dar um golpe com a instituição do regime parlamentarista. Foi o que se fez com o Presidente João Goulart. E pode perfeitamente ser feito ainda. É uma técnica também disponível e que deve estar na cabeça de muitas pessoas.
De pessoas que, por exemplo, tenham lido o discurso de posse do ex- Ministro José Serra na presidência do PSDB. Ele falou três vezes em "parlamentarismo" e nem uma só vez em "segurança" ou "segurança pública".
O golpe parlamentarista, porém, exige que o Presidente da Câmara seja Ranieri Mazilli, que, docemente constrangido, aceite assumir a Presidência da República. E o Presidente do Senado seja Auro de Moura Andrade, que considere o poder "vago", caso o presidente Lula vá comer churrasco na Granja do Torto.
Vejam que não falei em derrubar o Presidente Lula com a ajuda do General Vernon Walters, nem dos militares subordinados ao General Mourão Filho.
Falo de instrumentos modernos para dar um golpe de Estado. São também instrumentos disponíveis, que estão na prateleira dos nossos tempos, e que a sociedade brasileira já usou e testou. Para que um golpe seja bem sucedido, basta combinar esses elementos na exata medida e na seqüência certa.
Porém, um golpe contra o presidente Luis Inácio Lula da Silva, só será bem sucedido, se, antes, for feito um trabalho catequético e a sociedade brasileira se convença de que o presidente não está "preparado".
Eleger-se com os votos da maioria dos brasileiros não tem importância, se as pessoas se convencerem de que ele não está "preparado". "Preparado" para quê? Não importa. Depois de o Brasil ser governado por Fernando Henrique Cardoso, um homem notoriamente "preparado", ter um presidente "despreparado" é motivo suficiente para se pensar em derrubá-lo.
Quem define o que é "preparado"? Tanto quanto definir "baderna", definir o que é ser "preparado" cabe a quem tiver o poder de definir. Isso pode parecer um disparate, mas não é. Veja-se a ultima leva de historiadores do Governo João Goulart. Eleito duas vezes vice-presidente da Republica, Goulart era, porém, um "despreparado".
Imaginem - ponderam esses importantes historiadores -- que João Goulart pretendeu fazer uma Reforma Agrária sem saber que Reforma Agrária fazer. Que reforma agrária Jango queria? A do Homestead Act dos Estados Unidos, na Guerra Civil; ou a do General MacArthur, no Japão, depois da Segunda Guerra?
Francamente, Jango não estava preparado para tratar disso.
Tinha mesmo que ser deposto.
Na mosca, Tutty
De Tutty Vasquez, no site NoMínimo:
Desabafo de Guga após sua eliminação na primeira rodada em Roland Garros: “Feliz é o Rubinho que pode pôr a culpa no Schumacher!”
Se continuar chegando em sexto, sétimo lugar, Michael Schumacher ainda vai arrumar muita confusão com Rubinho Barrichello nesta temporada. O piloto brasileiro acha que é dono dessas colocações.
quarta-feira, maio 25, 2005
Tobias Schneebaum
Tobias Schneebaum retorna, 45 anos depois, às suas lembranças
“Eu sou um canibal... Não importa para que canto escondido da minha mente eu empurre essas palavras, elas surgem na superfície do meu cérebro como as notícias nos painéis eletrônicos que dão a volta nos prédios da Times Square” – Tobias Schneebaum
O nova-iorquino Tobias Schneebaum teve origem semelhante à de muitos americanos de sua geração. Nascido em 1921 e criado no Low East Side de Nova Iorque, cresceu no Brooklyn, estudou durante algum tempo para tornar-se rabino, mas virou pintor. Nos anos 50, quando já era figura respeitada na cena artística nova-iorquina, admitiu que a rotina de galerias e festas o tornara vazio. Impressionado por fotos de Macchu Picchu e pelo Homem Selvagem de Bornéu, um show que vira numa calçada de Coney Island quando ainda era criança, conseguiu uma bolsa para pintar no Peru. Ali começaria a jornada pessoal que até hoje arrepia e fascina a todos os que dela ouvem. Tobias abandonou os estudos logo depois de sua chegada, quando ouviu falar sobre a tribo Amarakaeri. Munido de mochila e calçando um par de tênis, entrou na mata sem equipamento algum, sem mapa, sem nada. A região, chamada Mãe de Deus, ainda nem existia nos mapas. Tobias tinha apenas uma diretiva: manter o rio à sua direita.
Seria dado como morto, sete meses depois, pelo Departamento de Estado americano. Mas em 1956 Tobias saiu da mata, completamente nu, com pinturas e cicatrizes indígenas por todo o corpo. A partir dali se manteria em silêncio por muito tempo. Seriam necessários 14 anos para que Tobias contasse o que ocorrera naquele ano em que esteve desaparecido. E ele o fez. Contou sobre os rituais tribais de que participou, chocando apresentadores e seus públicos ao falar das experiências sexuais com homens e mulheres da aldeia. Contou, para ouvintes incrédulos, do massacre de que participara, quando “sua” tribo atacou uma tribo inimiga. Depois do massacre, Tobias comera a carne dos mortos junto à tribo Amarakaeri. Perturbado pela experiência, ele decidiria voltar para casa. Assim nascia Mantenha o Rio à sua Direita – Um Conto Canibal Moderno, o livro no qual o tímido historiador, antropólogo e pintor, um judeu homossexual que mal conseguia se livrar de ratos mortos, contava a sua história. Era 1969, e o lançamento do livro pela Grove Press causava frisson na mídia, com várias aparições em programas de auditório. Tobias dizia que “era mais fácil falar de canibalismo do que de homossexualidade”.
Então os cineastas David e Laurie Gwen Shapiro descobriram o livro numa caixa de livros velhos, jogada no lixo duma rua de Nova Iorque. Ao lerem a história de Tobias, viram ali um tesouro escondido e decidiram saber se aquele homem ainda estava vivo.
Quando David e Laurie o encontraram, Tobias ainda dava aulas de pintura, história e antropologia em Nova Iorque, o que o mantinha independente. Então com 79 anos de idade, morava num apartamento que abrigava provavelmente o maior acervo pessoal de arte Asmat. Apesar das três cirurgias na bacia, do furor do Mal de Parkinson e dos conselhos dos amigos e familiares, estava de partida para Nova Guiné, onde encontraria membros da tribo Asmat, razão de seu mestrado em Antropologia. Fora essa especialização pioneira na tribo Asmat o que mantivera o pequeno apartamento nas últimas décadas. Durante as filmagens dessa viagem, David e Laurie o convenceram a enfrentar seus demônios pessoais e voltar ao Peru. Tobias insistia que os Amarakaeri estavam extintos e que não tinha interesse em trazer de volta aquelas lembranças. Depois que David e Laurie lhe disseram que um antropólogo sul-americano confirmara a existência de membros da tribo, Tobias aceitou voltar a Madre de Dios, hoje Parque Nacional Manu. Não só a tribo não estava extinta – contava ainda com cerca de 200 membros – como ainda estavam vivos alguns dos que conheceram Tobias. E eles o reconheceram. É essa a cena mais impressionante de Keep the River on You Right, o premiadíssimo documentário que saiu dessa história. Aclamado pela crítica e pelo público, Keep the River on Your Right é tão comovente quanto bizarro. Arte, amor, sexo, auto-conhecimento, aventura e redenção estão misturados nesta história verdadeiramente incrível.
Tobias continua dando aulas de história para estudantes da Universidade Barnard, onde expõe sua visão controversa sobre arte, sexo e cultura. E ainda hoje, como foi no programa de Mike Douglas em 1969, é impossível não se emocionar e se fascinar com sua história. Como dizem algumas das pessoas que o conhecem, Tobias é um dos homens mais interessantes, enigmáticos e chocantes que já foram documentados.
Assisti metade do filme numa madrugada de dois anos atrás, na HBO, e nunca mais consegui localizá-lo. Se você, que lê isso, tiver acesso a essa jóia, compre o filme e o livro (além de Keep the River..., Tobias também escreveu Wild Man, Where the Spirits Dwell e Secret Places: My life in New York and New Guinea). Mande cópias pra mim, gratifico muito bem.
segunda-feira, maio 23, 2005
Você já v-v-viu?!
Era uma bela segunda-feira. Ruth foi trabalhar e, enquanto dirigia, sentiu algo diferente, coisa de mulher. Tudo estava igual, desde o mesmo noticiário sem notícias no rádio até os mesmos rostos no trânsito, mas Ruth sentia que aquele não seria um dia comum. Nutricionista sem grandes feitos ou emoções, estava ansiosa sobre a pequena entrevista que daria, ao vivo, para o jornal local. Assim que chegou ao escritório levou um susto. Seu Juarez, o porteiro, e Dona Conceição, do café, estavam gagos, completamente gagos. E não se incomodavam, falavam naturalmente seus “b-bom d-dia, Dona Ru-ru-th”. Ruth deu uma volta em torno do corpo, em câmera lenta, e viu gente gaguejando ao telefone, viu as fofoqueiras do bebedouro gaguejando sílabas e venenos, viu homens – gagos, claro - contando da pelada do sábado. Todos eram gagos, absolutamente todos. Quando ligou pra casa pra contar à filha adolescente o que estava presenciando, Jaqueline respondeu com um seco “E daí, m-m-m-mãe? Se todo m-mundo é ass-ass-ssim, qual o problema?”.
Então a repórter, aluna mediana do terceiro período de um mediano curso de Letras de uma faculdade mediana, chegou, de terninho verde-musgo e com um cinegrafista barrigudo a tiracolo. Ruth foi recebê-la e ajustar o ponto eletrônico na orelha. A repórter era gaga, e a voz do ponto repetia “o s-s-som está b-b-bom, d-dona Ru-ru-ruth?!”. Ruth ria por dentro, meio assustada. Foi ao ar às 12:18, bem entre a longa matéria sobre a feira de construção que a rede de tevê promovia em seu shopping e uma reportagem curta sobre os preparativos para a chegada do Papai Noel, em dezembro próximo, no mesmo shopping.
Então o inferno e o céu de Ruth começaram. Sentindo-se confiante e com a dicção completamente normal, falou, até demais, sobre leguminosas e carboidratos, feijão com arroz e sanduíches. Esse era o céu de Ruth. Mas a repórter, fora do quadro enquanto Ruth falava, esticou-se e sussurrou ao cinegrafista “m-meu Deus, Ra-ra-ra-fa, o que ess-essa m-mulher está f-fa-fazendo?!”, e Rafael, o cinegrafista barrigudo, dava de ombros, também confuso e deixando a imagem de Ruth tremer. Ruth ficou nervosa, perdeu o fio da meada, a linha de raciocínio. A repórter, desesperada, lhe disse “n-não, n-não tem p-p-p-problema...”, tentando tranqüilizá-la. Era o inferno de Ruth, que não conseguiu continuar a entrevista, interrompida às pressas por uma matéria pronta sobre uma palestra de auto-ajuda que seria apresentada no shopping da rede de tevê.
Depois daquilo, Ruth virou celebridade às avessas e foi até no programa do Jô. O Brasil inteiro ria dela, espalhando pela Internet o vídeo tosco de seu inferno particular. Pelas redes corporativas de email corriam correntes de arquivos MPEG e MP3, e funcionários de escritórios, nos corredores, nos bebedores e nas baias improdutivas repetiam aos colegas “Ei, j-j-j-á viste aq-aq- aquele v-vídeo da nut-nut-nut... ihhh...nutricionista que não gag-gag-gagueja?!”
Notas de segunda-feira
Visitantes de um zoológico do Japão assustaram-se quando um urso panda vermelho, um bichinho de 50cm, levantou-se e apoiou-se nas duas patas traseiras - o que nunca havia sido registrado. A imagem correu o mundo e está desde a semana passada me causando pesadelos horríveis. Annie Wilkes, quanta saudade...
Nada como Mônaco. Ali os carros de F1 não correm, desfilam. Como disse o Piquet, é como correr de moto dentro do apartamento. Concorrem às mulheres mais bonitas da Europa, com os barcos mais bonitos do mundo, os mais ricos banqueiros e astros do futebol e do cinema. A corrida desse ano foi fantástica! Fantástica porque o alemão perdeu, e isso é a melhor coisa da F1 esse ano.
Claro, Burrinho Barrichelo (ou Rubinho Burrichelo) não poderia passar sem fazer das dele, né? Na ultima volta o alemão, malvado e ambicioso que só ele, ultrapassou o fracassado mais bem pago do mundo. Burrinho ficou puto. Disse que um grande campeão como Michael não precisava fazer aquilo. Burrinho, só o Burrinho, ainda não entendeu que Michael só é um grande campeão porque ultrapassa, há anos, gente incompetente como ele.
O recorde de vitórias em Mônaco permanece com o "Rei de Mônaco", como era chamado Senna pela imprensa européia; permanece também o recorde de poles de Senna, que o alemão, com seis anos a mais de F1, ainda não bateu.
Saddam de cueca (eca!) - Poucas coisas me embrulham o estomago... E o pessoal dos Direitos Humanos ficou puto. Terão dois trabalhos: ficar e desficar. Bons tempos aqueles em que a vítima preferencial dos fotógrafos do Sun era a Diana, com aquela estampa.
Manchester United States - Os EUA estão tão mal na fita que os ingleses, que não chiaram quando um bilionário russo comprou o time do Chelsea com dinheiro sujo, agora fazem protesto porque o Manchester United foi comprado por um americano. Nem a intenção de também repatriar David Beckham acalmou os ânimos na Inglaterra.
A NBC denunciou que o exercito americano está contratando mercenários. São drogados, estupradores, matadores, etc., todos pagos com U$ 15 mil só na assinatura do contrato. Os valores sobem, e muito, depois. Ganham cidadania americana, dólares, medalhas, etc. Deveriam abrir um posto de recrutamento em Cuiabá.
Alexandre Pires e Netinho uniram-se para montar uma gravadora, a Da Massa. Vão dar chances a artistas esquecidos e novos talentos. Faltam os novos talentos. Já os artistas esquecidos podem começar com os próprios Alexandre e Netinho.
O The New York Times diz que soldados americanos torturam e matam afegãos. Note o tempo do verbo, por favor. Um coronel americano defende seu exército alegando que milhares foram assassinados por Saddam sem que o mundo protestasse tanto. Ah, tá...
Uma menina de dez anos de idade deu à luz um filho no Rio Grande do Sul. Dos males o menor: pelo menos é um menino, que, salvo algum acidente, não vai sair no tapa com a mãe pelas mesmas bonecas e vestidinhos.
Ah, os cariocas... Um jacaré do papo amarelo foi capturado pelos bombeiros próximo a um shopping. Um dia antes uma jibóia havia sido capturada numa área residencial. A história, por si só, já é uma saborosa ironia para o povo do Amazonas.
Ah, os cariocas não demoraram a apelidar o jacaré de Ronaldo e a cobra de Cicarelli. Por que, não sei.
Mais do mesmo - Caroline Bittencourt (aquela mesmo) disse que sua filha rasga fotos de Daniela Cicarelli em casa. E as mulheres seguem perguntando-se por que ainda não dominam o mundo…
Um alemão passou um ano vivendo com a esposa morta. Explicou à polícia que queria ficar o maior tempo possível com ela, até que ele mesmo morresse. Alemão diferentão, esse. Os que já conheci por aqui sempre vêm ao Brasil pelo mesmo motivo. Abandonam suas múmias vivas por lá e vêm conhecer a genuína sem-vergonhice brasileira in loco.
As notas desta segunda-feira contam com a colaboração de Marco Benigno. Tudo bem, é meu primo, mas é estudado, competente e trabalha de verdade. O cargo não é de confiança? Então, há pessoa mais confiável do que um parente? Ora, o resto é hipocrisia.
sexta-feira, maio 20, 2005
Uma nação de cornos mansos
Estamos sendo provocados, testados ao limite, nos últimos dias, tenho certeza. A bizarrice que se tornou ser brasileiro está ficando insuportável, e acho que falta muito pouco para que até os intelectuais apolíticos de plantão se revoltem. Começo a assistir um Jornal Nacional crivado, feito um cachorro por carrapatos, de reportagens sobre CPI, corrupção nos correios, compra de votos pelos Garotinhos, prisões de prefeitos em Alagoas e fitas pornográficas em Rondônia. Não há mais notícias, não há mais fatos, só há o colapso moral e institucional em que parecemos ter caído. Mas o mais assustador é o silêncio, a resignação e a passividade com que o brasileiro, já meio anestesiado por sua própria história, ouve as notícias. Os boletos bancários, o dinheiro contado do ônibus, o restaurante a quilo mais barato, a junção de plástico que precisa ser trocada no encanamento do banheiro e o preço da gasolina tomam todo o tempo, a paciência e a atenção das pessoas, e ninguém parece enxergar a gravidade da própria situação. Vejo analistas políticos enxergando o lado bom do Brasil, comparando-nos aos argentinos, aos colombianos, aos bolivianos e aos equatorianos, todos passando por crises graves, com confrontos nas ruas, iminência de golpes de estado e etc., e não consigo concordar. O Brasil parece estar pior ainda, mas o pior é que não reage. Não tem panelaço, não tem apitaço, não tem greve nem barricada, não tem gritaria, não tem protesto na Praça da Sé, não tem nada.
Mas o Jornal é interrompido; meu fígado é salvo pelo gongo. Quando começo a acreditar em intervenção divina, como se Deus jogasse, penalizado, uma toalha branca no ringue, a meu favor, William Bonner anuncia 20 minutos de propaganda política, e eu paro novamente, procurando, em terror, as câmeras escondidas de uma pegadinha de mau gosto qualquer, produzida por algum programa da RedeTV. Então surgem Joaquim Roriz e Anthony Garotinho, e com eles a certeza de que estou no Mundo Bizarro, do Super-Homem ao contrário, do Tudo ao contrário. Garotinho, acusado de compra de votos em Campos, sem direitos políticos, fala ao Brasil como candidato à presidência, em programa salpicado por trabalhadores (capacete de operário e sorriso perfeito) sorrindo, fazendo sinal de positivo com o polegar, agricultores felizes, cercados de verdejantes plantações e crianças rechonchudas nos carrosséis dos parquinhos. A locução fala dos 40 anos do partido que “é o responsável pelo fortalecimento da democracia brasileira”, e lembro, pálido e meio tonto, da censura prévia de Joaquim Roriz ao Correio Brasiliense, por conta das denúncias de envolvimento do governador com grileiros de terras. O programa parece não acabar, mas preciso assistir, engolir, tomar de gute-gute até o fim. É meu dever, é nossa sina. Me nego à alienação, não por princípios, mas por incapacidade biológica; Não saber o que eles fazem é incômodo como estar sem tomar banho há dois dias.
Os jingles continuam, Garotinho fala mais, Roriz fala mais, todos falam mais. Mais brasileiros felizes aparecem, polegar em riste, pelos quatro cantos do país. Então tudo pára, e o Jornal volta. E então volta a reportagem, interrompida, sobre a perda de direitos políticos do casal Garotinho. Assim, bizarro assim, como se algo na Matrix brasileira tivesse pifado. Desligo a tevê e olho pela janela, procurando alguma fenda no céu, algum traço disforme das casas que me dê a certeza do bug, mas está tudo OK. Acendo meu cigarro e penso que o mais bizarro é o silêncio da rua, o desânimo das pessoas, parecendo aquelas hordas de torcedores saindo do Maracanã, em silêncio, aos 30 minutos do segundo tempo de uma goleada adversária. Estamos todos derrotados, não conseguimos mais sequer vaiar, muito menos reagir, gritar. Temos tanta coisa pra fazer, tanta conta pra pagar, que esquecemos de querer algo mais dessa triste bizarrice que se tornou ser brasileiro.
quinta-feira, maio 19, 2005
Leia e tire suas conclusões
No último dia 7 de abril um homem alto e magro foi encontrado vagando pelas ruas de Sheerness, na ilha de Sheppey, ao sudeste da Inglaterra. Vestia paletó e gravata finos, que estavam encharcados e pingavam. Depois de levado ao Medway Maritime Hospital, foi examinado. Até aquele momento não pronunciara uma palavra sequer, e não respondia às perguntas e estímulos dos médicos, apesar de estar fisicamente bem. A equipe do hospital, que não conseguira encontrar qualquer etiqueta nas peças de suas roupas, então lhe deu lápis e papel, na esperança de que escrevesse seu nome. O homem, entre os 20 e os 30 anos, começou a desenhar. Alguns minutos depois havia desenhado detalhadamente um grande piano de cauda, e os médicos e enfermeiros não entendiam o porquê daquilo. O que poderiam fazer, então? Levaram-no até a capela do hospital e o puseram à frente do piano. Michael Camp, um dos assistentes sociais do hospital descreveu o que viu como “impressionante... ele tocou durante várias horas, sem parar”. As outras pessoas que presenciaram a cena também ficaram impressionadas com a beleza da música.
Desde que o Homem-piano (apelido que rapidamente lhe foi dado) foi encontrado, autoridades da Inglaterra têm se esforçado para encontrar alguém que o conheça, mas apesar da grande quantidade de ligações e emails recebidos, ninguém parece conhecer o pianista do mar. Orquestras foram contatadas por toda a Europa, mas nenhuma o reconheceu. Já se passaram seis semanas desde que foi encontrado, e o homem segue sem falar absolutamente nada. Intérpretes do leste europeu já tentaram ajudar, mas o homem é extremamente tímido e fica nervoso perto das pessoas. Seus únicos momentos de calma são ao piano. A equipe do hospital acredita que algumas das músicas que ele toca sejam originais seus, o que faria dele um compositor – uma nova pista para o mistério. A imprensa internacional inteira fala do assunto, se você não acredita neste Malfazejo. Cheque a CNN, o Times, a BBC, a ABC...
A imprensa britânica já compara o Homem-piano a David Helfgott, o pianista virtuose que sofreu um colapso enquanto tocava, interpretado em 1996 pelo ator Geoffrey Rush em Shine, mas eu discordo, e aqui aproveito para fazer um “O Malfazejo Recomenda”.
Em 1998 Giuseppe Tornatore (de Cinema Paradiso) dirigiu A Lenda de 1900, traduzida para o português como A Lenda do Pianista do Mar. O filme conta a história de Danny Boodmann T.D. Lemon Nineteen Hundred, ou simplesmente 1900. Isso mesmo, o nome dele é 1900. Interpretado por Tim Roth (de Cães de Aluguel e Pulp Fiction), 1900 é abandonado, recém-nascido, pelos pais dentro do Virginian, um navio que leva imigrantes para a América. Encontrado por um caldeireiro, 1900 é criado a partir daí dentro dos limites da sala de máquinas, tendo como sua família os trabalhadores do Virginian. Conforme cresce, 1900 começa a bisbilhotar os conveses superiores até que, no meio da noite, entra no salão de bailes e começa a tocar o grande piano de cauda de forma impressionante. A tripulação e os passageiros vão checar o que há e 1900 ouve que o que está fazendo é contra as regras. A partir daí começamos a nos apaixonar pelo personagem, que responde com um singelo “foda-se” a qualquer coisa ou pessoa de que não goste. A história é contada por Max, trompetista, que conhece 1900 quando este já tem 27 anos de idade, sem nunca ter saído do navio. Sem sucesso, Max passa anos tentando convencer 1900 a experimentar a terra firme. O lendário pianista só pensa melhor quando se apaixona por uma moça que vê no convés, o que rende uma das mais belas cenas de que lembro no cinema.
O filme de Tornatore é, para mim, uma obra-prima, como Cinema Paradiso. Com trilha de Ennio Morricone e um roteiro que amarra muito bem o enredo com a música, é emocionante, fascinante e inspirador. Com o talento de Tim Roth e Pruitt Taylor Vince (o excelente Max), Tornatore prova o visionário que é, com ângulos de câmera criativos e a mão que poucos têm para emocionar sem pieguice. Um filmaço, digno de fazer parte do acervo pessoal de qualquer pessoa. Assista e depois me diga se não estou certo.
O horror, o horror
Membros da bancada evangélica da Câmara Municipal de Manaus oram, de mãos dadas, depois de verem arquivado o processo contra o colega Sabino Castelo Branco por quebra de decoro parlamentar.
quarta-feira, maio 18, 2005
Bonitinha e Ordinária
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Os grifos são meus
A jornalista Ana Paula Padrão estréia em agosto no SBT com um telejornal que pode confrontar com o "Jornal Nacional" durante pelo menos 15 minutos por dia. O contrato, assinado na quinta, prevê que ela entrará no ar entre 18h e 21h. "Prefiro apresentar antes das 21h. [Concorrer com o ‘JN’] Não é descartável. É mais difícil concorrer com novela do que com jornal", disse Padrão à Folha, já como funcionária do SBT. Anteontem, um procurador da jornalista oficializou à Globo o pedido de rescisão de contrato. Ela teria pelo menos mais um ano a cumprir com a emissora. Padrão diz que tentou entregar à Globo um cheque do SBT pagando a multa rescisória, de R$ 3,729 milhões, que é a soma de tudo o que ela recebeu desde julho de 2002 e receberia até junho de 2006. A Globo nega ter recebido o cheque e diz que irá à Justiça exigir que Padrão cumpra seu contrato, que, diz a emissora, "não prevê rescisão unilateral". "É mentira. Não receberam porque não quiseram", reage Padrão. Para trocar 18 anos de Globo pelo incerto SBT pelos próximos quatro anos, Padrão se apoiou em um contrato bem "amarrado", mas afirma que incluiu cláusula "antigeladeira". Além de um salário de cerca de R$ 250 mil (três vezes o que ela ganhava), o documento prevê até o quanto ela terá para gastar para montar equipe e com viagens. "Tenho um orçamento legal no contrato e carta branca para montar a estrutura." Padrão já monta seu time no SBT. O primeiro nome é o de Guta Nascimento, do "Jornal Hoje". Ela será editora-executiva e a acompanhará em um "tour" por afiliadas. O telejornal terá núcleos em São Paulo, Brasília e Rio. "O formato será o de notícia de forma coloquial. Algumas pessoas que estão na minha cabeça podem ser o diferencial", conta. Padrão nega que tenha saído da Globo porque não lhe deram a bancada do "JN". "Que vantagem eu teria de fazer aquele jornal sem personalidade?", provoca. "Eu queria o meu jornal em outro horário. Não quero mais chegar em casa às 2h da manhã", diz. Conta que tenta há dois anos engravidar, sem sucesso: "Os médicos dizem que tem a ver com o horário".
Já não bastava ser linda, inteligente e charmosa? Ainda precisava ser escrota?
Definitivamente, Ana Paula Padrão subiu ao topo da minha lista de paixões platônicas.
terça-feira, maio 17, 2005
O Malfazejo recomenda
Tudo bem, a Paula Toller é a embalagem bonitinha - e insossa - para as músicas do cara, mas é muito bom vê-lo cantar as coisas que fez. Há participações especiais de Léo Jaime, Dinho Ouro Preto e Herbert Viana. O repertório é Leoni, músicas e letras, o que dispensa muito mais comentários. Para os trintões, nostalgia. Para os mais novos, bom motivo pra parar de achar que a Paula é, além de linda - e insossa -, ótima letrista.
2. Esse Outro Mundo
3. As Cartas Que Eu Não Mando
4. Doublê de Corpo
5. 50 Receitas
6. Só Pro Meu Prazer
7. Como Eu Quero
8. Falando de Amor
9. Lágrimas e Chuva
10. Fotografia
11. 40 Dias no Espaço
12. Fixação
13. Canção Pra Quando Você Voltar
14. Porque Não Eu?
15. Nosferatu
16. POT-POURRI - Alice (Não Me Escreva Aquela Carta de Amor) Conspiração Internacional
17. Garotos II - O Outro Lado
18. POT-POURRI - Carro e Grana / A Fórmula do Amor
19. Educação Sentimental
20. Os Outros
21. Exagerado
segunda-feira, maio 16, 2005
Notas de segunda-feira
Pirataria - O ex-embaixador dos Estados Unidos na ONU Ken Adelman disse, em artigo publicado nesta segunda-feira no jornal The Washington Times, que o Brasil faz parte do "eixo do mal da propriedade intelectual", ao lado da China e da Índia. Afinal, as pretensões brasileiras ao posto de líder de qualquer coisa no cenário mundial começam a vingar. Somos os líderes de um dos eixos do mal. Discurso, discurso, presidente!
Vou aderir à ferramenta das enquetes. Que besteira você acha que o nosso presidente dirá essa semana?
Uma rebelião na penitenciária de segurança máxima Risdon, na capital da Tasmânia, na Austrália, acabou com o atendimento das autoridades às exigências dos presos. A exigência? 15 pizzas.
O monotemático Jorge Nobre, a besta-fera perdida no tempo, que me traz à lembrança aquele soldado japonês que continuou em guerra numa casamata por décadas depois do fim da II Guerra, escolheu-me para inimigo. A justificativa do cão raivoso babão? “Aqui eu sou ditador, faço o que quiser”. Ah, a carência de atenção...
Eu não indico leituras apenas por amizade. Indico gente boa, que escreve muito bem, gente que admiro. Alguns falam bobagens, mas de forma tão legal que valem a indicação. FDR, Alexandre Soares Silva e Cézar Miranda são virtuoses da escrita, por exemplo, e são Wunderblogs. Jorge Nobre, eu te linkei aqui no post, mas não te indico aí do lado. Não vale a pena como seus amigos mais dotados.
A Polícia Civil de São Paulo fez na quarta-feira (11) a primeira apreensão da chamada "cápsula do medo", apontada como uma das drogas sintéticas mais potentes usadas por jovens em danceterias e raves. Segundo o diretor do Denarc (Departamento de Investigações Sobre Narcóticos), Ivaney Cayres de Souza, a nova droga é trazida da Europa. Cada cápsula provoca pelo menos 80 horas de alucinação, o que significa que, tomando uma hoje, você vai ver martelos marchando, elefantes cor-de-rosa atravessando ruas, flores gargalhando e cachorros conversando com tartarugas até mais ou menos quinta-feira.
Ribamar Bessa Freire, o professor que assina a coluna semanal TaquiPraTi, segue iluminando o obscuro, ignorado e deturpado debate sobre a questão indígena em Roraima. Sugiro a leitura, toda segunda, amigos – ah, e agora inimigos também!
O Bar Laranjinha, aqui em Manaus, inteiramente voltado a atender turistas do Tropical Hotel que chegam às cuias para ver as apresentações de Boi-bumbá, agora os acomoda nos fundos do bar, onde os loirinhos só podem ouvir a música de um mini-system no volume 5, enquanto as cunhantãs saltitam sobre um tapete de camurça, que evita ruídos. Tudo por decisão judicial a favor da nata da honestidade e da ética manauense, os moradores dos apartamentos de 1 milhão na orla do Rio Negro, fiscais da Receita Federal, donas de restaurantes caros, deputados cassados e empresários sonegadores de impostos.
Tudo bem, fica até interessante fazer turismo assim, escondido, feito um culto evangélico em Havana. Para os donos dos dólares é até um tempero a mais, um “perigo gostoso”. E como tudo o que é proibido tem mais sabor, os turistas chegam afoitos ao bar, e cada vez em maior número. O único problema é acomodar tanta gente num porãozinho tão pequeno. A gente somos inútil mesmo.
O seriado Chavez não acabou, como estava previsto, no último sábado. Minha avó agradece, Seu Sílvio.
Fui num pagode ontem, pela primeira vez. Confesso, imaginava que chegaria num lugar abarrotado de gente feia e suada; na minha imaginação, patricinhas gorduchas, de aparelhinho colorido nos dentes, estariam cantando um “lerê-lerê-rê-rê” irritante e repetitivo, fumando cigarrinhos pretos de canela. No meu preconceito, via machos olhando para a bunda da minha esposa, às vezes até a tocando. Imaginava que, se isso acontecesse e eu protestasse, eu seria trucidado por uns jujiteiros embriagados de chope quente servido em copos de plástico. Imaginava coreografias obscenas, letras imundas e banheiros pútridos. E digo uma coisa: é exatamente isso.
sexta-feira, maio 13, 2005
Eu me abstenho
O extremo do partidarismo (vamos chamar assim) de Danilo Amaral está na faixa em que o bom senso e a elegância máxima ainda prevalecem, e fica extremamente difícil discordar, ainda que se discorde, de seu habilíssimo texto sobre os Wunderblogs. Seu discurso soa, aos ouvidos dos gritalhões, Direita pura, mas isso é um reducionismo injusto. Ademais, como eu já disse, não enxergo Direita e Esquerda no Brasil. Como em quase todos os outros aspectos da inteligentsia brasileira, não passamos de um protótipo de nação, cuja construção foi abortada por falta de verba e de vontade política – com o perdão do jargão esquerdista.
Mas Danilo, e isso não é culpa dele, divide demais o obscurantismo que imperava até os Wunder e aquilo no que o mundo se tornou depois que esses craques da escrita decidiram agir, ainda que com o discurso (sofisticado ou frívolo?) da total inércia orgulhosa. Se é jeca gritar frases empoeiradas nas portas das fábricas contra o que seria “isso tudo que está aí”, é também de extremo mau gosto orgulhar-se por um conservadorismo que, num país tão caolho, patife e imoral como esse, não passa de piada sem graça. Ser conservador no Brasil é assinar um atestado de canalhice. Ridicularizar a insatisfação alheia (vamos simplificar assim) é tão sofisticado e tão profundo quanto zoar de quem – veja só – não sabe se vestir adequadamente no inverno londrino. Se essa moçada divertida e interessante (justiça seja feita, é verdade) de que Danilo fala tem um defeito, é exatamente empunhar uma bandeira ideológica que nivela por baixo, junto à esquerda, o que é o pensar político. Rebater a idiotice comunista (a gritaria contra a liberdade, a propriedade privada e o lucro) com a idiotice paulofrancista (escrever artigos sobre “a honestidade do uísque” servido dos lobbies dos hotéis europeus) é um desperdício enorme, um chute pra fora debaixo das traves do adversário.
Querem os Wunder, o Danilo e boa parte da classe média brasileira, dizer apenas que está tudo ótimo, que sua biblioteca anda imponente, que seu vinho está com um buquê fantástico e que o dólar está quase dizendo “se dê esse presente, vá a New York visitar seus amigos!”. Essa direita brasileira (vamos chamá-la assim) não renasceu com a sofisticação e o toque de “dane-se” dos Wunderblogs. Esses rapazes e moças, que engatinhavam quando Figueiredo ainda cavalgava, apenas tiveram a mesma idéia – e as mesmas oportunidades tecnológicas – que todos nós, maiores ou menores ‘escritores’, tivemos, o que, em resumo, é tentar aparecer. Vaidade, nada mais. Os ‘haves’ brasileiros, provocados pelo português trôpego de um governo esquerdista que dá motivo a todo momento, não resistiram. Quando, enfim, a tal esquerda dos ‘not haves’ assumiu, com sua ignorância, essa Direita pensante, com suas armas de precisão, limitou-se a se posicionar em cantinhos estratégicos e curtir uma de franco-atiradores. Olha, passou uma gafe ali, pega, pega! Esta, a proposta da Direita pensante brasileira. Seinfeldizar a vida, reduzir tudo aO Nada, mas um Nada sofisticado, não um Nada qualquer, jeca e suado.
No final das contas, como diria Rita Lee (cujas posições políticas desconheço), tudo vira bosta. A Direita pensante, esses rapazes e moças tão sofisticados quanto fúteis, ri de quem não sabe diferenciar um Merlot de um Chardonay, enquanto a Esquerda gritalhona repete-se latinoamericanamente. Se já era escassa a paciência dos “sem lado” com a chatice e a burrice da esquerda, agora tudo ficou pior. A trincheira que se levantou do outro lado é careta, preconceituosa, botocuda e arrogante. Ou seja, meus amigos do meio: ponham seus capacetes e defendam-se; de um lado chovem balas de AK-47 e volumes nunca lidos dO Capital, do outro latinhas de caviar e sapatinhos Jimmy Choos.
Quem diria, era Rita Lee quem tinha razão, afinal.
Ouçam o poetinha, por favor...
Quando ouço falar que a revista Playboy está cantando Daiane dos Santos para um ensaio, concordo plenamente com os homens que dizem que uma mulher sensualmente vestida é mais sexy do que uma mulher nua. Dessa forma, peço, na condição de homem, que se deixe a sensualidade de Daiane do jeito que está, encoberta por aquele maiôzinho. Como, aliás, deveria ter sido feito com Cissa Guimarães e Hortência. Deixem minha imaginação fluir, por favor.
quinta-feira, maio 12, 2005
Beleza é fundamental...
Está 15 milhões de reais mais pobre um dos homens mais belos e cobiçados do mundo. Um minuto de silêncio, por obséquio.
O que seria desse mundo sem homens burros e mulheres inteligentes...
quarta-feira, maio 11, 2005
Não tente isso em casa.
Claro, palavrão é feio, chulo, às vezes até escroto. Mas indispensável em certos momentos-chave. Na hora certa, com o ouvinte certo – ou sem ouvinte – é quase bonito, às beiras da elegância. Acho que foi em A Partilha, aquele filme adaptado da peça do Falabella (é isso?), que vi a Andréa Beltrão (é isso?) mandar alguém ir tomar no olho do cu com uma dicção tão perfeita e firme, e num momento tão crucial, que a platéia do cinema gritou “u-hú!”. O que dizer então do Dadinho, digo, Zé Pequeno, em Cidade de Deus?
Eu falo palavrão, mas muito raramente. Palavrões são como alguns poucos foguetes de sinalização à disposição numa ilha deserta. Ou seja, não podem ser desperdiçados com qualquer situação. Se seu time tomou um gol, se você é um afortunado motorista manauense ou se furaram a fila no banco, troque seus palavrões por coisas mais politicamente corretas como um “pôxa”, um “caramba” ou um singelo “que pena”. Meu primeiro palavrão foi desperdiçado, e dele nunca esqueço por causa da bofetada desdentante que tomei da minha mãe. Ouvi o Matinha (figura da minha infância que merece um post exclusivo) dizendo na rua que alguém estava todo fodido e achei aquela palavra bonita, nova, adulta. Fui pra casa, cheio de novidade, contar para a mamãe que tinha alguém na rua todo fodido. Ainda hoje tenho dores no lado esquerdo do rosto (minha mãe é destra) em dias frios.
Esse post é mais uma amostra da paciência (e capacidade) que tenho tido para elucubrações mais nobres e relevantes para a história do Brasil. E já que o tema é esse, aproveito para fechar esse momento raro e necessário (falar palavrão) com uma piadinha fofa que me contaram dia desses.
No convento, uma freirinha costura um véu novo e se machuca:
- Merda, furei o dedo!
- Porra, falei “merda”!
- Caralho, falei “porra”!
- Puta que o pariu, falei “caralho”!
- Ah, foda-se, eu não quis vir pra cá mesmo!
Motivado por este post da Themis.
Internet Nota 10
O Márcio Guilherme, do Apostos, indicou essa página, a página dos Coelhinhos Suicidas. É por páginas assim que lembro do quanto a Internet é importante na minha vida. Por páginas assim.
terça-feira, maio 10, 2005
Disque Vésper para Morrer...
Documentos internos da Telemar, obtidos pela Folha de S. Paulo, mostram com desconcertante clareza a prática de espionagem durante os últimos 3 anos. Funcionava (ou funciona) assim: de posse de toda a infra-estrutura de telefonia fixa nas áreas onde atua, 16 estados, a empresa "capturava" todas as ligações de clientes para a central de atendimento da Vésper/Embratel. Com a listinha dos potenciais "desertores", a empresa os procurava e oferecia vantagens "matadoras", evitando a debandada de seu curral. Os documentos chegam a usar textualmente o termo "estratégia anticoncorrência". Você, afortunado usuário da Telemar que já discou para a Vesper, foi agraciado com a participação no mais secreto programa da empresa, mimosamente apelidado pela diretoria (com documento timbrado e tudo) de "Estratégia de Rastreamento e Bloqueio".
A reportagem da Folha cita os resultados das duas empresas em 2004. Telemar, lucro de 751 milhões. Embratel, prejuízo de 330 milhões. Como podemos - consternados e chocados - perceber, vale muito a pena manter sob chicotes e ameaças centenas de operadores de telemarketing, quase literalmente forçados a nos fazer raiva à primeira menção do termo "cancelamento de conta". Ou vai dizer que você, afortunado cliente da Telemar, já conseguiu cancelar o seu telefone?! Duvi-dê-ó-dó!
Os idiotas de plantão deviam parar de escalar Everests sem oxigênio e preparar-se mental e fisicamente para cancelar o serviço da Telemar. Isso sim, devia merecer reportagens diárias no Jornal Nacional: Clientes que chegaram ao outro lado do call-center da Telemar e sobreviveram para contar a história.
Foi você que perguntou.
Rola na rodinha dos blogueiros cult uma correntinha sobre livros preferidos, ilhas desertas na companhia de livros (!) e outras coisas. Eu não pretendia me envolver, e vocês já saberão por que, mas um convite do Marcus Pessoa eu aceito.
1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Acho que "Minhas mulheres e meus homens", do Mário Prata. Divertido como só as leituras bobas podem ser. E rende citações boas entre um chope e outro. Sou assim mesmo, profundo.
2. Já alguma vez ficaste perturbado/apanhado por uma personagem de ficção?
Annie Wilkes, a fã psicótica do escritor de Misery, de Stephen King. Cathy Bates a levou muito bem para a tela, aterrorizando James Cann, mas a que eu pintei na mente lendo o livro era ainda pior. Mas a perturbação também vem porque conheço uma senhora no trabalho que é exatamente a Annie que eu pintei na mente. E aparentemente com o tempero da psicopatia também.
3. O último livro que compraste?
"A Vida de Pi", de Yann Martel.
4. Os últimos livros que leste?
"A Vida de Pi", de Yann Martel, e "O que é ser Jornalista", de Ricardo Noblat.
5. Que livros estás a ler?
Nenhum.
6. Que livros que levarias para uma ilha deserta?
Nenhum. Penso como o Jerry Seinfeld, que não entendia por que as pessoas guardam os livros que já leram. Assim soa chato, mas com o Jerry em cena ficava ótimo.
7. Quatro pessoas a quem vais passar este testemunho e porquê?
Sarah Moura, Bruno Sabbá, Claudemir Amarelo Ivan e a minha colega horripilante de trabalho. Os dois primeiros porque vai ser muito divertido, o terceiro porque confio no gosto do camarada (assim como no do Amaury) e a última porque é sempre bom saber o que anda lendo a fonte de boa parte dos seus pesadelos. Lembrei do John Lennon por alguma razão...
segunda-feira, maio 09, 2005
Notas de segunda-feira
Durante show no Rio de Janeiro, Felipe Dylon jogou uma toalha suada para a platéia, que "abriu um pogo", digno de um show do Slayer, em disputa pelo tecido com as valiosas secreções do cantor. Resultado 1: A adolescente Bárbara Cristina Alves Assumpção, de 17 anos, que estava vendo o ídolo de perto pela primeira vez, teve o piercing do supercílio direito afundado, causando um ferimento. Resultado 2: Antônio Carlos, pai da moça, vai processar Felipe Dylon. Conclusão 1: Que coisa ridícula, meu Deus.
Dois noruegueses, ex-funcionários da empresa americana Conoco Philips que visitavam sites pornográficos e por isso foram demitidos, vão receber indenização da empresa, que teve seus recursos negados pela justiça norueguesa. Cada um vai receber 40 mil dólares. Definitivamente, vou abrir uma seção exclusiva para a Noruega nessas notas.
Depois de anunciar um insosso divórcio com o técnico Larri Passos (pra ficar sozinho, dizia), Guga agora anda por aí, de novo amor, nova paixão, todo contente. Num ato de trairagem, casou-se com um técnico argentino. Os resultados já se podem ver: em quatro jogos, uma vitória. Larri deve estar larrindo à toa.
Microsoft oferece XP mais barato para piratas. Desde a semana passada, por 149 dólares, os usuários que fazem gato de Windows poderão adquirir uma cópia original do sistema. No Brasil o programa é oferecido a 999 reais desde fevereiro. Para computadores pessoais, desde então a empresa atingiu a marca histórica de 11 unidades vendidas.
O republicano Corbin Van Arsdale é autor de um projeto que proíbe coreografias sensuais para as animadoras de torcida do Texas. Argumentou que vai ao estádio para ver rapazes jogando, não moças semi-nuas. Existem, sim, coisas mais patéticas e incômodas do que gays homófobos e cristãos praticantes, mas são poucas.
A justiça de Minas Gerais condenou uma viúva a indenizar a amante do marido em R$ 6.300. Por quê? Ora, porque "Na fazenda eu cozinhava, costurava e cuidava de animais, entre outros serviços". Ou seja, a amante era também diarista do marido. Como o figura morreu, é a viúva que paga a conta. Como eu queria demonstrar, é o sexo gratuito - não o pago – aquele que sai mais caro.
A Unesco entregou a Severino Cavalcante pesquisa que aponta o Brasil como o segundo colocado no ranking mundial de mortes por armas de fogo, atrás apenas da Venezuela, nosso importante aliado internacional. Severino recebeu o relatório e disse apoiar um referendo (sim, Hugo Chavez faz escola) sobre o veto à venda de armas. Imediatamente nomeou dois filhos, estudados, duas noras, estudadas, e um neto, estudado, para a leitura e interpretação dos dados.
Uma marcha neonazista em Berlim foi interrompida por milhares de manifestantes antifascismo no domingo, após um tenso encontro que ofuscou as celebrações na Alemanha pelo fim da Segundo Guerra Mundial. Corajosos, esses nazistas. Têm orgulho, não vergonha, de serem doentes mentais. Muito diferentes dos "direitas" comuns, que se ofendem por serem chamados de "direitas".
A cantora virgem Sandy&Júnior, cansada das baladinhas que embalam strip-teases em boates de terceira categoria, juntou papai, mamãe, titios, amiguinhos e namoradinho no Bourbon Street, em São Paulo, para cantar jazz, estilo no qual também era virgem. Afinadíssima, segundo a imparcial platéia.
Segundo Ronaldo Evangelista, em contribuição com a Folha de São Paulo, "assim é Sandy&Júnior: nem bom nem ruim nem demais nem de menos, bonitinha, afinadinha, simpática, asséptica, assexuada. O oposto do jazz, enfim". No final, fãs foram barradas no camarim, pois Sandy&Júnior tinha aula de manhã cedinho. Decepcionadas, se limitaram a dizer "Puta meirrda, depois de aguentar essas músicas chatérrimas essa vaca não recebe a gente?!"
domingo, maio 08, 2005
Ao fim do clipping diário
Os índices da produção industrial do Brasil estão nos ares. Não sei você, mas eu consigo imaginar: a repórter Elaine Bast, de tailleurzinho verde-oliva, no "chão de fábrica" do Angeli, constatando o fato. Ao fundo, o cinegrafista mostra as pranchetas do cartunista, já trabalhando em três turnos.
Este é, realmente, o País do Futuro. Sempre será, esse título ninguém nos tira.
sexta-feira, maio 06, 2005
Já não se faz mais drama como antes...
Incrível como se usa a palavra "drama" pra definir a situação dos milhares de brasileiros que são presos todos os anos tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos. Agora uma proposta: que alguém me explique onde está o “drama” dessas pessoas. Passam pelo drama do ar rarefeito, também, os alpinistas brasileiros Totó e Raineri, que foram torrar dinheiro e pôr a vida em risco na expedição chamada, veja só, "Everest Sem Oxigênio". A idéia é dar mais emoção à conquista da montanha mais alta do mundo, privando-se das máscaras de oxigênio, só pra ver como é.
Muito estranha essa mania de trepar num monte, voltar pra casa (com dedos gangrenados e propostas para palestras de auto-ajuda em faculdades com conceito “E” no provão) e usar a expressão "conquistei o Kilimanjaro" ou "conquistei o K9". Que conquista? Se essas montanhas falassem, viravam umas para as outras e riam entre si. As conversas também seriam divertidas:
- Ouviu essa, parceiro? – perguntaria o Aconcágua.
- Fala! – gritaria o K9, lá do Himalaia.
- Os babacas continuam com essa mania de dizer que nos conquistam.
- Esquenta, não, Conca.
- Também acho, Conca – diria o Everest, todo superior. – Aproveita e joga aí pra mim um tira-gosto!
- Vai ser o que, agora? – perguntaria o velho Conca.
- Ah, sei lá. Manda um brasileiro, um sueco e um argentino, daquele grupão que se fodeu na avalanche de ontem de manhã.
- Ok. Segura aí! – Wushhh, wushhh, wushhh!!!
- Opa, peguei! Valeu, Conca!
- Pois é, vou chegando, galera. Tem um grupo de holandeses me fazendo cosquinha ali embaixo. Amanhã tem carne branca na mesa! – brincaria cruelmente o mal afamado K9.
- Vá lá, grande K! – despedir-se-iam o Everest e o simpático Conca, lambuzando-se com seus picolés de idiota.
E naquele estúdio de rádio...
- Alô! Quem fala?
- Alô? Alô?
- Pode falar, mermão!
- Petelequino, eu queria fazer uma denúncia!
- Diga lá, irmão!
- É que...
- Irmão, é contra a Prefeitura ou contra o Governo?
- Nenhum, é contra uma empresa que...
- Vamo pra outra ligação, por favor!
- Alô? Alô?
- Pode falar, minha irmã!
- Petelequino, eu queria fazer uma denúncia!
- Irmã, é contra a Prefeitura ou contra o Governo?
- Prefeitura, prefeitura!
- Certa resposta, minha irmã quirída! Diga lá, baixe o cacete! (ô, mermão, põe a sirene policial aí!)
- É que esses temporal que tem arriado aqui no Manoa deixou as rua cheia de buraco, Petelequino!
- E até o ano passado tinha buraco na tua rua, minha irmã?
- Não, Petelequino. Era tudo lisinho, seco, seco.
- Pois é! Essa Prefeitura é um fracasso total! Desde que esse prefeito assumiu, a chuva vem castigando nossa querida Manaus. Isso é tudo obra dessa administração incompetente, que humilha o povo!
- E isso aí, Petelequino!
- Mas pode deixar, minha irmã! Eu tô mandando uma patrulha agora mesmo aí pra dar um jeito nessa situação!
- Ô, Petelequino, Deus te pague! Você é um homem digno, viu?!
- E é por isso, meu irmão e minha irmã, que eu escolhi essa vida, essa missão de lutar pela comunidade. Pode deixar, minha irmã, esse seu irmão aqui não vai lhe abandonar, não, viu?
- Deus te abençoe, Petelequino! Outra coisa: eu queria denunciar também a Polícia Militar...
- Passa outra ligação, mermão, rápido!
quinta-feira, maio 05, 2005
Direto dos Medalhas de Prata em execuções
Um marine americano, que foi filmado enquanto disparava contra um iraquiano desarmado e ferido em uma mesquita, durante um ataque em Faluja em 2004, foi eximido de culpa depois que os investigadores determinaram que atuou em defesa própria, afirmou um comunicado dos marines divulgado nesta quinta-feira.
A defesa do soldado, cujo nome é mantido em segredo pela terra da liberdade, usou um precedente histórico, cuja foto mostra o exato momento em que o general Nguyen Ngoc Loan defende-se (desesperadamente, como se vê) de um prisioneiro vietcongue.
Eddie Adams ganha seu Pulitzer
Do maior e mais exposto crime do século
Ribeirinhos saúdam o governador na calha do Juruá
Depois de 100.000 civis e quase 2.000 soldados americanos mortos (impressionante como esse povo mata tanto e morre tão pouco; mataram 3 milhões de vietnamitas, enquanto menos de 60 mil loirinhos foram para o saco), finalmente foi feita uma auditoria nas contas da reconstrução do Iraque. E eis que – pasmem - há corrupção entre americanos. 100 milhões de dólares simplesmente sumiram das contas do exército. Do quase meio trilhão de dólares já liberado pelo povo americano para a invasão da casa dos outros, relatórios diziam, meses atrás, que menos de 2% haviam sido usados para a reconstrução do país, mesmo que, no Congresso, Bush tivesse pedido o dinheiro exatamente para reconstruir o Iraque (algo como ocorre em outro país, que arrecada bilhões com um imposto criado para a saúde e que os usa para criar superávits artificiais). Mas os americanos podem ficar tranqüilos, o dinheiro roubado não era deles, e sim dos iraquianos, proveniente da venda do petróleo iraquiano. Quer saber mais? Ligue a tevê. O saque é transmitido via satélite.
quarta-feira, maio 04, 2005
Quarto luga-ar, quarto luga-ar, olê, olê, olêê...
E então minha pujante, quase européia Manaus, uma das nove ilhas de riqueza do Brasil, é a quarta cidade mais rica do país. Espoquem os morteiros, aumentem a fonte das manchetes dos jornais, vamos celebrar! A construção do gasoduto Coari-Manaus, conquista de dez entre dez políticos amazonenses (comunistas, pefelistas, petebistas e pessedebistas, todos papais do tubão da Mamãe Petrobras), fica para escanteio. Injustamente; foi a exploração do petróleo, em todas as cidades com o maior PIB per capita do Brasil, a responsável pelos resultados da pesquisa do IBGE. Já são refeitos os scripts das propagandas partidárias locais. Vem aí os "Graças ao trabalho incansável do deputado [de quem é a vez?], Manaus é a quarta cidade mais rica do país!" e os "Essa é mais uma conquista do deputado [Vamos, pessoal, a fila é grande!], que tanto lutou, em Brasília, pela aprovação do gasoduto Coari-Manaus!".
Em sua recente boa-ação pela calha do Rio Juruá, Eduardo Braga distribuiu energia, médicos e hospitais. Silas Câmara ali, do ladinho, no programa do PTB, segunda-feira. Os ribeirinhos, agradecidos, louvavam o governador e seus peixes-piloto pela bondade e misericórdia de ter lembrado daqueles rincões do mais absoluto Nada Amazônico.
Não quero soar ingrato, mas mesmo vendo toda essa riqueza que transborda de nossas ruas, favelas e invasões de terra, escolas, postos de saúde, nossa Santa Casa e nossos hospitais universitários maravilhosamente equipados, ainda acho que poderíamos estar mais bem servidos. A despeito de termos à frente apenas São Paulo, Rio e Brasília e sermos esse oásis tropical, cheio de oportunidades, empregos, benfeitorias públicas e segurança pública invejáveis, suspeito que há muito mais dinheiro, mas muito mesmo, entrando nos cofres do Amazonas. Tudo bem, temos tudo do bom e do melhor. Carros alemães pra todos, casas populares no Jardim das Américas, charutos cubanos, bolsas Luis-Vitton, canetas Mont Blanc e contratões com o governo. Mas poderíamos ir além. Poderíamos deixar paulistas, cariocas e brasilienses pra trás e disputar, de igual pra igual, com os xeques sauditas. Rhiad é o limite, irmãos arigós e cunhantãs do meu Amazonas!
Combinemos assim, amazonenses. Vamos todos espocar o Don Perignon e abrir as latas do mais nobre caviar Beluga. Vamos tirar os Bentleys das garagens, comprar nossos bilhetes de trem-bala ou do metrô de superfície (lembram?), acionar nossos pilotos particulares e vamos, todos os ricaços da ricaça Manaus, comemorar em Urucurituba ou em Santo Antônio do Içá. Mas lembremos de levar nossa equipe particular de médicos especialistas para o caso de uma emergência. Por aquelas bandas a saúde do povo é tamanha que não se precisa de médicos e professores, essas regalias supérfluas. Além disso, Mamãe Petrobras também manda, de vez em quando, médicos e professores em barcos-escola - e melhor, não só durante campanhas eleitorais.
Arremate da receita: tome todos os complexos e detalhados números da pesquisa do IBGE, adicione duas colheres de sopa de dedução, uma pitada de noz-moscada e um copo de transparência, e teremos um país miserável, com nove manchas de óleo e o letreiro BR, além de uma dinheirama pra cada vag... servidor público de Brasília. Não somos 26 estados e um Distrito Federal. Somos 9 filiais da Petrobras e um Ralo Federal.
terça-feira, maio 03, 2005
Paulo, por Mário.
Li, há algum tempo, uma coluna do Mário Prata no Estadão, falando dele, O Paulo. Agora, meses depois (ou terá sido mais?) esbarrei com ela, a coluna. Deu vontade de reproduzi-la aqui, primeiro porque ele, O Paulo, está novamente na boca do povo, com o lançamento planetário do seu novo livro, O Zahir. Depois porque concordo com ele, O Mário.
O Paulo
Em toda palestra que eu faço, chega uma hora que uma mocinha com uma voz preconceituosa me pergunta o que eu acho do Paulo. Sei que ela espera que eu espinafre com ele. E, para decepção dela, elogio. Quem sou eu para duvidar da capacidade profissional de um brasileiro que já vendeu 20 milhões de livros pelo mundo afora? Sem falar que é o autor predileto da Julia Roberts! Quem me dera que ela lesse uma única palavrinha minha. E o Bill Clinton, que não é nenhum débil, passeava com ele debaixo do braço pela Casa Branca, entre um charuto e outro.
Agora, eleito pela Academia Brasileira de Letras, vejo os colegas dos cadernos de cultura fazerem comentários nada favoráveis ao colega imortal. Colega que recebeu do presidente francês a condecoração máxima dada a um intelectual por aquele país.
Não me cabe discutir a qualidade literária do Paulo. Mas, como escritor, sei mais ou menos a origem do preconceito. No Brasil, escritor não pode ganhar dinheiro. É chamado de mercenário. Me lembro que, falando para estudantes em Campinas, disse que estava recebendo para fazer aquela palestra. Levei porradas ao vivo. Engenheiro pode cobrar por palestras. Médico, pode. Nós, não. Não sei do que eles pensam que vivemos.
Mas voltemos ao Paulo. Vamos começar pelas letras que ele fazia para o Raul Seixas na década de 70. Oito em cada dez músicas do Raulzito têm letra dele. Letras que já passaram para uma nova geração, que delira com o rock daquele músico. Tudo texto do Paulo. Só aquelas letras já bastariam para colocar o Paulo em qualquer academia de letras do mundo. Afinal, o cara nasceu há 10 mil anos atrás.
O que os "críticos" da literatura do Paulo precisam entender é que, se ele foi lido por 5 milhões de brasileiros, você pode ter certeza que 4 milhões leram um livro pela primeira vez. Ou seja, ele está formando um contingente (palavrinha esquisita esta) de novos leitores. Mais ou menos como a criadora do Harry Porter. Ninguém na Academia vendeu mais letras do que o Paulo. Tem gente lá dentro que vende sorrisos plásticos e ninguém fala nada. Sou mais o sorriso de mago do Paulo. Ele é a mosca que pousou na sua sopa, minha filha.
Não conheço o Paulo pessoalmente, mas tenho o maior respeito desde os anos 70. Temos a mesma idade e a mesma formação. Trabalhava na Última Hora quando ele e o Raul estouraram. Fui dos primeiros jornalistas a abrir espaços para aqueles roqueiros, já, na época, olhados meio de lado pelos compositores de esquerda, pelos acadêmicos da USP-PUC. O rock deles deu uma guinada na música brasileira. Tocavam guitarra elétrica (um ultraje ao pudor musical naquele tempo), enchiam a cara e fumavam maconha. Os militares ficavam irritadíssimos com aqueles meninos. E o Samuel Wainer, diretor do jornal, me dizia: página inteira pra eles, página inteira! E, do alto de sua sabedoria, assoviava aquelas músicas todas. Era engraçado.
Paulo Coelho, ao receber uma grana preta da Editora Objetiva há uns cinco anos, profissionalizou o nosso ofício. Fez com que as editoras brasileiras começassem a encarar o livro como um produto de 1 milhão de dólares e não apenas de 10 mil reais. Paulo Coelho deu-nos a dignidade de podermos cobrar pelo nosso trabalho. E, se você acha que isso é ser um mau escritor, que isso é ser mercenário, é porque você não nasceu há 10 mil anos atrás.
Parabenizo a Academia Brasileira de Letras. Aqueles 22 simpáticos velhinhos que votaram no Paulo sabem muito bem o que fizeram pela literatura brasileira.
Se os livros do Paulo são bons ou ruins, depende do ponto de vista e exigência de cada um. Mas que ele é muito melhor que o Saramago (Prêmio Nobel de Literatura), por exemplo, eu não tenho a menor dúvida.
Úh!
Penelope Cruz nega affair com Salma Hayek
Do Mix Brasil - Penélope Cruz fez questão de negar os fortes rumores de que estaria tendo um caso amoroso com sua amiga, a atriz Salma Hayek. O tititi começou durante sessão de fotos para imprensa do novo filme estrelado pela dupla, Bandidas, Cruz agarrou o traseiro de Hayek. Semana passada revistas de fofoca no México estampavam a surpreendente imagem afirmando ainda que as duas estariam tendo um caso.
As duas seriam amigas de longa data e são vistas freqüentemente juntas em Hollywood. Penélope, que oficialmente está namorando Matthew McConaughey, declarou recentemente em entrevista para um programa de tv Americano que o melhor beijo que já deu em cena foi na atriz Charlize Theron, no filme Nas Nuvens (Head In The Clouds).
Poucas vezes uma notinha noticiosa avivou tanto minha imaginação. Penélope Cruz, Salma Hayek, Charlize Theron, o traseiro de Hayek, um filme chamado Bandidas... Põe mais gente aí, pô. Que tal Nicole Kidman, Angelina Jolie, Jennifer Connely, Jennifer Aniston, Jennifer Garner e Monica Belucci?
segunda-feira, maio 02, 2005
Notas de segunda-feira
Noruega - Um homem dormia na casa de um amigo. Ao acordar, a namorada do amigo praticava sexo oral sem seu consentimento. Resultado: ela pegou 9 meses de prisão, e ele ainda receberá uma indenização de 40.000 coroas norueguesas (cerca de R$ 16 mil). Nas rodinhas femininas da Noruega, a maioria defendia a moça, alegando que um homem bonito daqueles, andando por aí com roupinhas minúsculas, como uma cuequinha "P" e o peito à mostra, está praticamente pedindo pra ser estuprado. "Andam com essas roupas e depois reclamam!", diziam elas.
Manchete do BOL: "Celular invade Febem e ameaça segurança". Imediatamente visualizei a cena, um telefone encapuzado, empunhando uma pistola prateada, apontada para a cabeça de um refém, listando suas exigências: duas baterias de lítio de longa vida, uma câmera fotográfica integrada, a troca do sistema TDMA pelo GSM, um dispositivo Blue Tooth e novas musiquinhas polifônicas. Promete atirar num refém a cada hora, enquanto não for atendido.
Hoje foi registrado o segundo maior índice de lentidão do ano em São Paulo. Índice de lentidão, isso mesmo. Tem coisas que só se encontra em São Paulo.
"O Grito", obra-prima do artista norueguês Edvard Munch, roubado em agosto do ano passado em Oslo, foi queimado por falsificadores para eliminar as provas do crime. De certo modo, a expressão de horror no rosto retratado está, enfim, explicada. De certa forma, também está explicado o sorrisinho cínico da Monalisa, como quem diz "sifú" para um de seus principais concorrentes de fama.
O dono de uma lanchonete Denny's na Flórida alegou que "não servia Bin Ladens" a sete homens americanos descendentes de árabes. Está sendo processado por racismo. A mesma rede Denny’s já pagou 54 milhões de dólares por ter maltratado clientes negros, em 1994. Como se vê, burrice não tem remédio e custa caro.
Os advogados de Déborah Secco anunciam que também vão processar a rede Denny’s. Depois de chegar a Miami e procurar a lanchonete, onde pretendia fazer laboratório como faxineira, atriz e garçonete, a brasileira ouviu um sonoro "Não servimos cucarachas com asma, problemas de dicção e de interpretação".
A Argentina anunciou que vai "jogar mais duro" contra o Brasil, que estaria trabalhando para ser o líder da América Latina lá fora. O presidente Kirshner teria inclusive criticado o fato de o Brasil querer escolher até o novo papa. Em outra frente, também anunciou que vai protestar à UE sobre as Ilhas Malvinas, que ainda teimam serem suas. Brasileiros e ingleses, eternos alvos da implicância argentina, respondem com a mesma frase, com pequenas diferenças de sotaque: "Vay a mierda, Argentina".
Responda rápido: você consegue imaginar algo mais babaca do que ficar atrapalhando o "parabéns pra você" dos aniversários, recomeçando a musica no meio, indefinidamente?
Assinar:
Postagens (Atom)