Refogava o recheio do peru.
Lembrou dos mortos, da irmã distante.
Sentiu saudade de algo, mas não sabia o quê.
A árvore, com enfeites cafonas, tocava Jingle Bells,
O sobrinho brincava com o carrinho novo.
O vinho barato trouxe um choro barato.
O telefone tocou, a campainha soou e a cerveja gelou.
Separou os miúdos do peru de que não gostava.
E chorou, enquanto o papa rezava o galo
Em latim, atrapalhado pela tradução.
Teve raiva do ano, dos jornais, dos fracassos.
A mãe tinha missa, a avó tinha culto.
Pensou palavrões, defendendo-se das emoções.
E percebeu, assim, o porquê do choro.
Era isso.
Parou de cortar a cebola.
Enxugou os olhos.
E a vida seguiu.
sexta-feira, dezembro 31, 2004
quarta-feira, dezembro 29, 2004
Deus está nos detalhes?
Na manhã de domingo as placas tectônicas do fundo do Oceano Índico moveram-se em até 30 metros, o que teria afetado até o movimento de rotação do planeta. Os dias teriam sido encurtados, a partir de domingo, em uma fração de segundo. Enquanto isso acontecia, Faye Wachs se refugiava, sem saber, no mais seguro dos locais: o Mar.
terça-feira, dezembro 28, 2004
Ele se mexeu. O monstro se mexeu.
Não sei. Às vezes acho que o mar não gosta da gente. Presto atenção ao movimento dele e parece que ele nos cospe de volta à terra, regurgitando corpos estranhos. Sempre que vejo um surfista remando mar adentro, e voltando depois numa parede de espuma, penso nisso. A gente tenta entrar, mas ele sempre nos devolve. Os surfistas são felizes. São os bicões que entram na festa escondidos, rumo aos fundos, mesmo sabendo que serão apanhados. Antes de escurraçados, porém, curtem um pouquinho. Tiram onda com a cara do mar, tomam tubos petulantes e deslizam sobre o seu topete espumante. O mar é talvez o que temos de mais bonito pra ver, mas mata. E precisamos dele, claro. Os gnus também precisam beber água. À beira do rio, ali, ao alcance do monstro. E o monstro não gosta da gente.
Talvez 30 mil tenham morrido ontem. É, o monstro pegou pesado.
O pior é que a natureza não se vingou. Deu só uma tussidinha.
Agora é chorar, reconstruir e esperar a próxima golfada.
segunda-feira, dezembro 27, 2004
Ôxi, mamãe...
E aquela belezinha dos flogs, de gorrinho natalino e boquinha sexy, pede, toda melancólica, abaixo de sua fotinho:
Gente, por favor leiam o que eu tenho a dizer.
O mundo é anti-Sprite.
Imagem é tudo.
Gente, por favor leiam o que eu tenho a dizer.
O mundo é anti-Sprite.
Imagem é tudo.
sexta-feira, dezembro 24, 2004
No Shopping Center
- Pois não, senhor?
- Ehh... tô procurando um presente...
- Claro. E seria pra homem ou mulher?
- Homem.
- Olha, eu tô com essa blusa que chegou agora, lançamento...
- É que... acho que não é muito o estilo do cara, não.
- Ele tem alguma preferência? Camisa, calça, cinto?
- Não deve ser desses caras moderninhos, não.
- Olha, tem também essa carteira. Tá saindo muito.
- Acho que não, ele sempre diz que não gosta dessas coisas.
- Deixover... qual seria a idade dele?
- Aí é que tá, moça. São 2004 anos. O pior é que tão dizendo que ele
nasceu seis anos antes dele mesmo, pode?
- Como?
- Compliquei, né? É que a grana tá meio curta, sabe, e eu decidi não
dar nada pra ninguém esse ano. Só pra ele. Não é ele o aniversariante?
- [constrangida] Ehh... Bem...
- O problema é que ninguém sabe o gosto dele. E eu não quero arriscar
comprar algo que fique justo ou grande demais, sabe?
- hum-rum, hum-rum...
- Além disso, CD tá mais caro que roupa, né? E lá pras bandas dele
parece que já tem uma banda inteira, só de harpas e trombetas. Não vou
comprar esses discos de 9,90 chamados "A Harpa do Natal". É meio
que comprar vinho pra gente chique, sabe? Vai que eu levo porcaria...
- pois não, senhora...[atendendo outra cliente]
- Ei, moça. E aí, você não vai me ajudar?
- Infelizmente não sei como, senhor.
- Mas eu já te expliquei tudo. O cara é homem, solteiro, é velho e não
gosta de carteiras nem de roupas moderninhas...
- Faça o seguinte, senhor: dê de presente um vale-presente. Olha, tem
de 20, 30, 50, 100 e 200 reais. Você dá o vale de presente, e o seu
amigo vem aqui, escolher o que quiser. Fica mais fácil, não?
- É, gostei. Ele mesmo vem escolher o presente?
- ã-hã.
- Beleza, acho que ele vai gostar. Tudo bem que ele vai ter que vir ao
shopping, e você já sabe, né? Shopping Center e homem não combinam...
Bom, pelo menos ele não tem mulher pra deixar ele esperando na porta do
provador, de bolsinha no ombro, em silêncio, junto com os outros
maridos, coitados.
- Claro, senhora... e seria pra homem ou mulher?
Cartoon de Natal do Arnaldo Branco, do Mau Humor
- Ehh... tô procurando um presente...
- Claro. E seria pra homem ou mulher?
- Homem.
- Olha, eu tô com essa blusa que chegou agora, lançamento...
- É que... acho que não é muito o estilo do cara, não.
- Ele tem alguma preferência? Camisa, calça, cinto?
- Não deve ser desses caras moderninhos, não.
- Olha, tem também essa carteira. Tá saindo muito.
- Acho que não, ele sempre diz que não gosta dessas coisas.
- Deixover... qual seria a idade dele?
- Aí é que tá, moça. São 2004 anos. O pior é que tão dizendo que ele
nasceu seis anos antes dele mesmo, pode?
- Como?
- Compliquei, né? É que a grana tá meio curta, sabe, e eu decidi não
dar nada pra ninguém esse ano. Só pra ele. Não é ele o aniversariante?
- [constrangida] Ehh... Bem...
- O problema é que ninguém sabe o gosto dele. E eu não quero arriscar
comprar algo que fique justo ou grande demais, sabe?
- hum-rum, hum-rum...
- Além disso, CD tá mais caro que roupa, né? E lá pras bandas dele
parece que já tem uma banda inteira, só de harpas e trombetas. Não vou
comprar esses discos de 9,90 chamados "A Harpa do Natal". É meio
que comprar vinho pra gente chique, sabe? Vai que eu levo porcaria...
- pois não, senhora...[atendendo outra cliente]
- Ei, moça. E aí, você não vai me ajudar?
- Infelizmente não sei como, senhor.
- Mas eu já te expliquei tudo. O cara é homem, solteiro, é velho e não
gosta de carteiras nem de roupas moderninhas...
- Faça o seguinte, senhor: dê de presente um vale-presente. Olha, tem
de 20, 30, 50, 100 e 200 reais. Você dá o vale de presente, e o seu
amigo vem aqui, escolher o que quiser. Fica mais fácil, não?
- É, gostei. Ele mesmo vem escolher o presente?
- ã-hã.
- Beleza, acho que ele vai gostar. Tudo bem que ele vai ter que vir ao
shopping, e você já sabe, né? Shopping Center e homem não combinam...
Bom, pelo menos ele não tem mulher pra deixar ele esperando na porta do
provador, de bolsinha no ombro, em silêncio, junto com os outros
maridos, coitados.
- Claro, senhora... e seria pra homem ou mulher?
Cartoon de Natal do Arnaldo Branco, do Mau Humor
Natal.
Obrigado, meu Deus.
Obrigado.
E volta logo. Você faz muita falta por aqui.
quinta-feira, dezembro 23, 2004
23 de Dezembro. Manhã de Chuva. 1999.
O teu jeito de dizer que me ama,
E o jeito de me defender de tudo.
O medo do escuro,
Depois do filme bobo,
E o jeito de dormir em segundos.
Os teus 30 tipos de riso,
E a tua elegância inata.
O teu cheiro, os sinais e as curvas.
O jeito como cruzas os pés nos meus
Na cama, debaixo do cobertor.
A tua vontade de ser feliz
E a admiração que inspiras
São minhas paixões.
Ao teu lado quero ser melhor,
Mais homem, mais maduro,
Só pra te acompanhar,
Querendo tua admiração,
Feito menino carente.
Gosto de te ver de longe,
Falando com as pessoas, rindo.
E de sorrir discreto, te admirando.
Queria cantar pra você,
E falar baixinho no teu ouvido,
Pra te roubar de novo aquele primeiro beijo.
Queria te conquistar com meus discos,
E ver de novo garçons levantando cadeiras, apagando luzes,
Nos deixando dançar Summertime,
Quase parados, entre mesas vazias.
Não quero muita coisa,
Não planejo muita coisa,
Quero apenas ser,
Pelo resto da vida, teu marido.
Eu te amo, Hellen.
Muito.
Muito, muito.
Mesmo.
Mesmo, mesmo.
E o jeito de me defender de tudo.
O medo do escuro,
Depois do filme bobo,
E o jeito de dormir em segundos.
Os teus 30 tipos de riso,
E a tua elegância inata.
O teu cheiro, os sinais e as curvas.
O jeito como cruzas os pés nos meus
Na cama, debaixo do cobertor.
A tua vontade de ser feliz
E a admiração que inspiras
São minhas paixões.
Ao teu lado quero ser melhor,
Mais homem, mais maduro,
Só pra te acompanhar,
Querendo tua admiração,
Feito menino carente.
Gosto de te ver de longe,
Falando com as pessoas, rindo.
E de sorrir discreto, te admirando.
Queria cantar pra você,
E falar baixinho no teu ouvido,
Pra te roubar de novo aquele primeiro beijo.
Queria te conquistar com meus discos,
E ver de novo garçons levantando cadeiras, apagando luzes,
Nos deixando dançar Summertime,
Quase parados, entre mesas vazias.
Não quero muita coisa,
Não planejo muita coisa,
Quero apenas ser,
Pelo resto da vida, teu marido.
Eu te amo, Hellen.
Muito.
Muito, muito.
Mesmo.
Mesmo, mesmo.
terça-feira, dezembro 21, 2004
Ide e pregai, até os confins da Terra
Padre Sérgio Lúcio vai embora de Manaus.
Para Belém.
Milhares de empregos diretos e indiretos migram para o Pará.
Nosso Painho, que na língua dos arueu-auau significa “Aquele que Faz”, ora ainda lambendo feridas, fosse prefeito/senador/governador, macho que é, essa hora já estaria no Vaticano, de sobretudo, acompanhado por comitiva de 40 aspones, lutando bravamente pela manutenção dos incentivos paroquiais da Zona Franca Sacra de Manaus, depois de ter procurado a sede da CNBB, vazia e abandonada pelos arcebispos, ocupados, em Brasília, com os resultados da próxima reunião do Copom. Só voltaria com promessas firmes do velhinho de branco.
Mas voltará em 2006, terço suado na mão, com a brand new Zona Franca Cristã, o novo "Projeto da Minha Vida": devolver o pároco de São José Operário aos seus 50 mil discípulos. Custe o que custar, que ele não é leso, maninho. Já vejo as belezuras da Juventude Amazonista nos cruzamentos, adesivando Astras e Golfs com "O Negão é Fiel!" e fazendo Novenas VIP nos postos de gasolina, regadas a água benta que desce redondo.
E eu que teimo em ver motivações políticas em quase tudo o que a Santíssima Igreja faz.
Para Belém.
Milhares de empregos diretos e indiretos migram para o Pará.
Nosso Painho, que na língua dos arueu-auau significa “Aquele que Faz”, ora ainda lambendo feridas, fosse prefeito/senador/governador, macho que é, essa hora já estaria no Vaticano, de sobretudo, acompanhado por comitiva de 40 aspones, lutando bravamente pela manutenção dos incentivos paroquiais da Zona Franca Sacra de Manaus, depois de ter procurado a sede da CNBB, vazia e abandonada pelos arcebispos, ocupados, em Brasília, com os resultados da próxima reunião do Copom. Só voltaria com promessas firmes do velhinho de branco.
Mas voltará em 2006, terço suado na mão, com a brand new Zona Franca Cristã, o novo "Projeto da Minha Vida": devolver o pároco de São José Operário aos seus 50 mil discípulos. Custe o que custar, que ele não é leso, maninho. Já vejo as belezuras da Juventude Amazonista nos cruzamentos, adesivando Astras e Golfs com "O Negão é Fiel!" e fazendo Novenas VIP nos postos de gasolina, regadas a água benta que desce redondo.
E eu que teimo em ver motivações políticas em quase tudo o que a Santíssima Igreja faz.
A linha de produção de pessoas únicas
Eu preferia a época em que éramos todos reprimidos, uns sentimentais enrustidos. O medo de gostar, de chorar, de abraçar... As relações com os pais eram muito mais complicadas. Um abraço ou um “eu te amo, pai” eram coisa rara, de gente pra frente, o que era raro. Chamar os pais de "tu" era coisa apenas dos meus vizinhos cariocas, que emprestavam pro pai camisetas da Quebra-Mar. Eu preferia a reverência das antigas. Hoje todo mundo se ama, se adora. Aliás, se dóla. A despeito do alarde que se faz à modernização das relações, é tudo polarizado demais. Ou se ama ou se odeia tudo. Ninguém mais tem meio-termo, e ficou feio não ter opiniões formadas sobre tudo. Fissão nuclear? eu adoro. A anorexia da princesa da Suécia ou os cuidados extremos com os pandas albinos da China? Detesto, acho um ó.
Dizer "eu te amo" não tem mais o mesmo efeito. A balada do fundo sumiu, a brisa não sopra mais nos cabelos, o olhar e o beijo que se seguem não ficam mais em câmera lenta. Amar é o primeiro estágio de qualquer relação, e odiar também. Beijo de língua virou cumprimento, e todo mundo se dóla se os primeiros dois dias de qualquer relação forem amistosos. Titubear nos julgamentos é não ter personalidade forte, o que todos, absolutamente todos têm hoje em dia. Sou aquele filho à moda antiga, ainda chamo de "senhora" a mãe. Odeio poucas coisas e pessoas. Sim, odeio, e isso é saudável, seguidores dos mantras paraguaios do Dalai Lama. Mas o meu ódio e o meu amor têm mais sustança. São da época em que um "Eu te odeio!" vinha depois de anos de uma relação difícil com o pai, com um irmão, com a mãe. Geralmente eram o clímax do folhetim da vida real, quando ainda havia "cenas do próximo capítulo".
Amar e odiar estão na moda. No sentido ruim, mesmo.
Dizer "eu te amo" não tem mais o mesmo efeito. A balada do fundo sumiu, a brisa não sopra mais nos cabelos, o olhar e o beijo que se seguem não ficam mais em câmera lenta. Amar é o primeiro estágio de qualquer relação, e odiar também. Beijo de língua virou cumprimento, e todo mundo se dóla se os primeiros dois dias de qualquer relação forem amistosos. Titubear nos julgamentos é não ter personalidade forte, o que todos, absolutamente todos têm hoje em dia. Sou aquele filho à moda antiga, ainda chamo de "senhora" a mãe. Odeio poucas coisas e pessoas. Sim, odeio, e isso é saudável, seguidores dos mantras paraguaios do Dalai Lama. Mas o meu ódio e o meu amor têm mais sustança. São da época em que um "Eu te odeio!" vinha depois de anos de uma relação difícil com o pai, com um irmão, com a mãe. Geralmente eram o clímax do folhetim da vida real, quando ainda havia "cenas do próximo capítulo".
Amar e odiar estão na moda. No sentido ruim, mesmo.
segunda-feira, dezembro 20, 2004
E é esse povo que tá in charge agora
Durante quase dois anos Alexandra Pelosi, jornalista da NBC, acompanhou o então governador do Texas em sua campanha à presidência. Com uma câmera de mão, filmou e entrevistou Bush e seus assessores. As imagens e entrevistas viraram "Journeys with George", um documentário que mostra um Bush simpático, galanteador, piadista e... só. A certa altura, Alexandra, sentada a seu lado no avião, pergunta:
- Por que eu, uma democrata, liberal, deveria votar no senhor?
- Porque vai ser melhor pra você.
- É por isso?!
- Sim, é por isso.
Bush canta a jornalista, faz caretas para a câmera, provocando risadas de seus assessores e rebate habilmente questões mais espinhosas, sempre com uma piadinha, seguida das atentas e ágeis risadinhas. Bush prova também que os americanos gostam de moleques riquinhos, farreiros e bêbados, contanto que eles tenham cojones pra admitir isso, até com certo orgulho. Se Nixon quisesse, teria admitido seus erros. Tornaria-se queridíssimo. Pois é.
A HBO comprou o filme e o lançou. A crítica detestou. Disse que o filme é superficial demais, sem conteúdo algum. Alexandra ficou contente, e disse:
- Que bom, porque ele é exatamente sobre isso: algo que não tem conteúdo algum.
- Por que eu, uma democrata, liberal, deveria votar no senhor?
- Porque vai ser melhor pra você.
- É por isso?!
- Sim, é por isso.
Bush canta a jornalista, faz caretas para a câmera, provocando risadas de seus assessores e rebate habilmente questões mais espinhosas, sempre com uma piadinha, seguida das atentas e ágeis risadinhas. Bush prova também que os americanos gostam de moleques riquinhos, farreiros e bêbados, contanto que eles tenham cojones pra admitir isso, até com certo orgulho. Se Nixon quisesse, teria admitido seus erros. Tornaria-se queridíssimo. Pois é.
A HBO comprou o filme e o lançou. A crítica detestou. Disse que o filme é superficial demais, sem conteúdo algum. Alexandra ficou contente, e disse:
- Que bom, porque ele é exatamente sobre isso: algo que não tem conteúdo algum.
sábado, dezembro 18, 2004
O charme internacional da 'baianada'
Fernando Henrique, o príncipe, teria sido grampeado clandestinamente durante as negociações para a privatização da Telebrás. Àquela época surgiram nomes, rumores, boatos, intrigas e investigações. E muito se falou sobre ela, a tal Esquerda, que estaria por trás dessa violência absurda à madura e consolidada democracia de mentirinha nacional. O efelentífimo Lula, o pau-de-arara semi-analfabeto que teima em causar azias nas olavetes de plantão, parece ter sido grampeado, junto com Jaques Chirac, enquanto esteve na sede da ONU, em Nova Iorque. A sala supostamente grampeada foi também usada por Colin Powell e Kofi Anann durante as vésperas da invasão do Iraque. Deduzindo, brasileiro orgulhoso que sou, só posso dizer que foi atrás de Lula e de sua proposta de combate à fome mundial que os meliantes estavam. Quem são Chirac, Powell e Anann?!
Apesar de todas as petices de sua corte, Lula mantém as rédeas do governo, sabiamente tomando para si certas decisões que caberiam aos 'ches' do partidão, não aquele, o PT mesmo. Os indicadores são lindos: superávit lá em cima, artificialmente ou não, desemprego em queda, produção industrial e agrícola nas alturas, exportações deslanchando, etc.
FHC e suas tietes, contrariados, torcem o nariz. Chamam de incompetente o governo que segue sua cartilha e partem para as frases de efeito acadêmicas. Inveja maior deve sentir, ele, FHC, de mais esse sucesso do efelentífimo. Ele, FHC, foi grampeado aqui mesmo, no Bananão, sobre assuntos domésticos, sem charme, sem sotaque sorbonês. O torneiro não. Foi grampeado com um avançadíssimo sistema de escuta de fabricação européia (quem sabe russa) enquanto talvez dividisse garrafas de Romanés Contis com o Chirac, simpatizante do terrorismo islâmico, como se sabe. Isso tudo sem falar um 'ai' em americano. As olavetes se mordem nos dormitórios das universidades européias, decerto.
Mas Lula, provavelmente sem mesmo saber, segue a marcha triunfal da pobreza terceiro-mundista de sucesso. Meses atrás já havia lotado, monoglotamente, o auditório da London School of Economics. Provavelmente para desespero de Diogo Mainardi, que por lá esteve, se preparando para a nobre missão da elite intelectual brasileira (desculpe a expressão de baixo calão) de desconstruir - ui - os mitos da massa incauta brasileira, a saber: Lula e Gilberto Gil.
FHC disse certa vez que a Esquerda brasileira é burra. Concordo. A Esquerda brasileira é aquele chapéu com orelha de burro que se 'vestia', como castigo, nos alunos desordeiros de certas escolas. Não tem dono, o chapéu. O príncipe agora bate os pezinhos, esperneia e xinga, como todo malfazejo castigado pela professora. Ainda não percebeu o chapelão em sua cabeça.
Diriam as pretensamente mais virulentas e 'de-verdademente' inócuas línguas da yuppiezada brasileira: tenho vergonha dessa gente. A esquerda segue burra, mas agora fala inglês, my friend. Lula responderia, com seu americano more-or-less, e eu morreria de rir, com certeza: big shit, companheiro. A ONU tem fones de ouvido pra me traduzir, mané.
Apesar de todas as petices de sua corte, Lula mantém as rédeas do governo, sabiamente tomando para si certas decisões que caberiam aos 'ches' do partidão, não aquele, o PT mesmo. Os indicadores são lindos: superávit lá em cima, artificialmente ou não, desemprego em queda, produção industrial e agrícola nas alturas, exportações deslanchando, etc.
FHC e suas tietes, contrariados, torcem o nariz. Chamam de incompetente o governo que segue sua cartilha e partem para as frases de efeito acadêmicas. Inveja maior deve sentir, ele, FHC, de mais esse sucesso do efelentífimo. Ele, FHC, foi grampeado aqui mesmo, no Bananão, sobre assuntos domésticos, sem charme, sem sotaque sorbonês. O torneiro não. Foi grampeado com um avançadíssimo sistema de escuta de fabricação européia (quem sabe russa) enquanto talvez dividisse garrafas de Romanés Contis com o Chirac, simpatizante do terrorismo islâmico, como se sabe. Isso tudo sem falar um 'ai' em americano. As olavetes se mordem nos dormitórios das universidades européias, decerto.
Mas Lula, provavelmente sem mesmo saber, segue a marcha triunfal da pobreza terceiro-mundista de sucesso. Meses atrás já havia lotado, monoglotamente, o auditório da London School of Economics. Provavelmente para desespero de Diogo Mainardi, que por lá esteve, se preparando para a nobre missão da elite intelectual brasileira (desculpe a expressão de baixo calão) de desconstruir - ui - os mitos da massa incauta brasileira, a saber: Lula e Gilberto Gil.
FHC disse certa vez que a Esquerda brasileira é burra. Concordo. A Esquerda brasileira é aquele chapéu com orelha de burro que se 'vestia', como castigo, nos alunos desordeiros de certas escolas. Não tem dono, o chapéu. O príncipe agora bate os pezinhos, esperneia e xinga, como todo malfazejo castigado pela professora. Ainda não percebeu o chapelão em sua cabeça.
Diriam as pretensamente mais virulentas e 'de-verdademente' inócuas línguas da yuppiezada brasileira: tenho vergonha dessa gente. A esquerda segue burra, mas agora fala inglês, my friend. Lula responderia, com seu americano more-or-less, e eu morreria de rir, com certeza: big shit, companheiro. A ONU tem fones de ouvido pra me traduzir, mané.
quinta-feira, dezembro 16, 2004
Numa manhã de más novas
As campanhas contra a fome, governamentais ou não, estão se tornando nichos de privilegiados, onde frescuras como a falta de comida são bobagens. Afirma o IBGE que há mais gente 'sofrendo' de excesso de comida no país do que gente gemendo de fome. Decerto surgirá quem diga que passar fome no país é um luxo, 'coisa pra poucos'.
What a wonderful world. Uma metade passa fome, a outra faz regime.
What a wonderful world. Uma metade passa fome, a outra faz regime.
terça-feira, dezembro 14, 2004
Por que não me orgulho dos polegares opostos
O Natal.
Um estudo americano revela que o Natal é a data com o maior número de mortes do ano, excluídos os suicídios, assassinatos e acidentes. Os americanos simplesmente se recusam a ir aos hospitais pra não perder as festas.
Eis um dos porquês d'eu invejar as árvores.
segunda-feira, dezembro 13, 2004
A Marta Registrada de São Paulo
Imelda Marcos: Somos auto-suficientes nisso
Marta Suplicy perdeu eleição. Abandonou a cidade com seus túneis inacabados, alagados pela chuva, seus CEUS com funcionários sem salário e alunos sem farda, 2 bilhões em dívidas não pagas e com o Tesouro Nacional batendo à porta, pra sequestrar o que foi sonegado do Governo Federal.
Foi a Milão, coberta de jóias e laquê, para a reabertura do Teatro Alla Scala, a meca da Ópera.
Eu não consigo lembrar de algo mais legitimamente paulistano do que a Marta, véio. Nem o filho, nem os maridos - os dois -, que perdem, tipo assim, por muito pouco.
sexta-feira, dezembro 10, 2004
Welcome to the jungle, baby
Domingos Chalub, o menos votado na eleição para a última vaga de desembargador no Amazonas, é o novo desembargador. Félix Valois, o mais votado, sequer teve o nome incluído na lista de três enviada ao governador. Motivos? Não faço idéia, mas com certeza são os mais nobres, elevados e autruístas que se pode imaginar.
Alfredo Valois, filho de Félix, publica carta aberta ao pai no jornal A Crítica, falando do orgulho de ser seu filho e reclamando da injustiça cometida contra o pai, o mais votado pela classe. Ressalta, magoado, que o Legal foi o escolhido, em detrimento do Justo. Bonito, bonito.
Ué, Alfredinho, você, filho de macaco velho, ainda não sabia que a Justiça funciona assim?!
quinta-feira, dezembro 09, 2004
Vin Diesel vai bombar!
Rumsfeld e Bush pedem ajuda (rárárá) à OTAN, mas os europeus não pretendem mandar seus soldados pra limpar a cagada dos outros. Nesta quarta os soldados americanos, que já não andam tão patriotas quanto antes, partiram pra cima do Pato Donald, reclamando da falta de homens, de armas inadequadas e do tempo de permanência no Iraque, que foi prorrogado. Os cruzados de Bush, que há dois anos dariam a vida pela Liberdade e pela Nação, agora esperneiam ao saber que vão ter que ficar mais tempo disparando liberdade e democracia pra cima dos traiçoeiros civis iraquianos.
Sou só eu ou mais alguém já consegue imaginar a enxurrada de dramas de guerra que invadirá Hollywood daqui a alguns anos? Bom, sejamos razoáveis, já era hora de os cineastas americanos largarem a carniça do Vietnã.
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Yes! Мария Шарапова!
de tragédias e terrores
e gente de má fuça.
Mas de vez em quando aparece
cada tenista russa!
Os versinhos são dele,
o LFV, na série Poesia
Numa Hora Dessas.
Esta é a Sharapova,
mas há Kournikovas,
Bulovas,
Wiborowas...
quinta-feira, dezembro 02, 2004
Para Luciana. Para Amaury.
Eu costumava achar que as pessoas eram eternas, e por isso as deixava na minha prateleira da sala, enfeitando a estante da minha vida. Sempre lustrada, impecável, mas uma prateleira. Agi assim, fria e casualmente, até que amigos morressem sem um abraço, sem um beijo. Há coisas que nunca mais poderei dizer e beijos que nunca mais poderei dar em pessoas que caíram daquela prateleira, sem que sequer eu estivesse perto.
Hoje sou diferente, e devo isso, além de aos tombos e bênçãos dessas três décadas, a duas pessoas belíssimas, com as quais tenho dividido saúde e doença, riqueza e pobreza, alegria e tristeza. Sou quase sempre a imagem insondável do silêncio, e por isso talvez eles não saibam quanto eu os amo. E eu os amo, muito. Em cada riso, em cada abraço, em cada beijo, em cada olhar, em cada tristeza e em cada dor, eu os amo. Nela amo a curiosidade patológica, a inteligência afiada, a frieza com que rouba no jogo, aquele ar de patricinha cínica, que esconde o mulherão que ela é, ao mesmo tempo poderosa e manteiga derretida. Nele amo a afinação única com que canta cada música do acervo mental absurdo que tem, a paixão com que fala de política e de Jorge Amado e o carinho e generosidade com que fala dos amigos. Nele amo as “tiradas” de mestre, o humor ferino e a sinceridade dos beijos amigos quando o abraço. Neles amo a cumplicidade, o amor, a amizade os até os vícios. Neles amo as pequenas e as grandes coisas, mas acima de tudo as pessoas que são.
Amanhã, numa bela duma sexta-feira de dezembro, eles se casam. Inauguram o primeiro ano do resto não só de suas vidas, mas de todas as nossas, os amigos, os irmãos, os pais e os filhos que ainda teremos. A partir de amanhã nos tornamos mais homens, mais mulheres, mais adultos, e as coisas de menino ficarão um pouco mais pra trás. Terão filhos que brincarão no meu quintal e sentarão no meu colo. Carregarão os meus filhos na loja de brinquedos, fazendo-os pedir o mais caro dos carrinhos de controle remoto. Reclamarão de dívidas e dividirão prazeres. Brigarão por toalhas molhadas e chaves perdidas e como todos os casais, sem perceber vão trocar a seção de CDs da loja pela seção de móveis. Recusarão, prazerosos, as madrugadas ébrias, pra curtir a casa, os filhos, o edredon e o DVD.
Eu sei, e como é bom saber que vai ser assim.
A partir de amanhã eles serão mais felizes.
E eu também.
Hoje sou diferente, e devo isso, além de aos tombos e bênçãos dessas três décadas, a duas pessoas belíssimas, com as quais tenho dividido saúde e doença, riqueza e pobreza, alegria e tristeza. Sou quase sempre a imagem insondável do silêncio, e por isso talvez eles não saibam quanto eu os amo. E eu os amo, muito. Em cada riso, em cada abraço, em cada beijo, em cada olhar, em cada tristeza e em cada dor, eu os amo. Nela amo a curiosidade patológica, a inteligência afiada, a frieza com que rouba no jogo, aquele ar de patricinha cínica, que esconde o mulherão que ela é, ao mesmo tempo poderosa e manteiga derretida. Nele amo a afinação única com que canta cada música do acervo mental absurdo que tem, a paixão com que fala de política e de Jorge Amado e o carinho e generosidade com que fala dos amigos. Nele amo as “tiradas” de mestre, o humor ferino e a sinceridade dos beijos amigos quando o abraço. Neles amo a cumplicidade, o amor, a amizade os até os vícios. Neles amo as pequenas e as grandes coisas, mas acima de tudo as pessoas que são.
Amanhã, numa bela duma sexta-feira de dezembro, eles se casam. Inauguram o primeiro ano do resto não só de suas vidas, mas de todas as nossas, os amigos, os irmãos, os pais e os filhos que ainda teremos. A partir de amanhã nos tornamos mais homens, mais mulheres, mais adultos, e as coisas de menino ficarão um pouco mais pra trás. Terão filhos que brincarão no meu quintal e sentarão no meu colo. Carregarão os meus filhos na loja de brinquedos, fazendo-os pedir o mais caro dos carrinhos de controle remoto. Reclamarão de dívidas e dividirão prazeres. Brigarão por toalhas molhadas e chaves perdidas e como todos os casais, sem perceber vão trocar a seção de CDs da loja pela seção de móveis. Recusarão, prazerosos, as madrugadas ébrias, pra curtir a casa, os filhos, o edredon e o DVD.
Eu sei, e como é bom saber que vai ser assim.
A partir de amanhã eles serão mais felizes.
E eu também.
terça-feira, novembro 30, 2004
O Malfazejo recomenda
A revista Veja a chamou de Billie Holiday do pop inglês com razão. A tristeza de sua voz é cortante, frágil, como a de quem luta contra um choro que vai sair em instantes. Era a vocalista do Portishead, banda inglesa dos anos 90 que fazia músicas tristes com arranjos eletrônicos meio feios. Já em carreira solo, aliada ao instrumentista Paul Webb, fez aquele que provavelmente foi o álbum mais triste do ano, Out of Season. 'Mysteries', o cartão de visitas, é lindíssima, com sua simplicidade de violão-e-voz fora dos moldes nacionais. Provoca reações, ou a falta delas, dignas de uma cena do Holocausto no meio de um pastelão italiano. Mas é 'Show', a terceira faixa, que transforma um dia de Disney em um inverno Norueguês. Recomendo essa música, a junção cruel dessa voz com um piano e um violoncelo satisfeitos como coadjuvantes, às pessoas que não prestam e têm armas de fogo em casa. Não tive a oportunidade de incluí-la numa brincadeira que fazia com o Christoph, na qual disputávamos a posse da música mais triste. Nossas bebedeiras sempre acabavam num silêncio de dar dó, depois de umas três rodadas de Nicks Caves, Leonards Cohens e Billies Holidays. Esse disco, Out of Season, desempataria qualquer concurso bobo assim. Até porque o Christoph, austríaco, pisou na bola ao incluir Yolanda, do Chico, no time dele. Gosto tanto dessa música que canto, no refrão, 'Yolanda, eternamente te odeio'.
Beth Gibbons é o que de mais triste eu conheço. E isso, em música, é qualidade garantida.
domingo, novembro 28, 2004
Para um amigo
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Oswaldo Montenegro
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Oswaldo Montenegro
sábado, novembro 27, 2004
quinta-feira, novembro 25, 2004
quarta-feira, novembro 24, 2004
O bom filho à casa volta
Prostrado diante do sapientíssimo Google, pergunto sobre Gilberto Miranda, um dos maiores expoentes da política paulista, digo, amazonense, com três mandatos de senador. Coisa pra poucos. O sábio traz a folha corrida, digo, o histórico parlamentar do nosso suplente profissional. Lá encontro alguém sempre rodeado de personas ilibadas, de nobre caráter, como Paulo Maluf e Fernando Collor, Celso Pitta e ACM, o especulador Naji Nahas, o pastor evangélico Caio Fábio e Carlos Alberto de Carli, além do medalhão PC Farias e o brother Egberto Batista, que dispensa apresentações. Com Malufão, Collor, Nahas e Caio Fábio é suspeito de produzir o dossiê Cayman e o grampo clandestino do BNDES. Com ACM e Pitta protagonizou troca de favores, pelos pagamentos da prefeitura de SP à OAS, do painho, e a absolvição do marido da Nicéa na CPI dos precatórios. Abrigou, em uma de suas casas, em Ilhabela, PC Farias, que fugia da Polícia Federal, antes do tesoureiro do presidente fugir pro exterior. O currículo do nosso senador é bem mais colorido e estufado, mas não vou enlargecer demais o post. Conforta-me ver que até nisso o Google é amigo. Traz como resposta à mesma pergunta uma matéria sobre Gilberto Miranda, adestrador de estrelas, seguida de pequena, rara e franca entrevista. O site é o fofo PetSite, e a entrevista é bombástica. A seguir alguns trechos:
"Gilberto Miranda é um dos profissionais mais solicitados para treinar animais em campanhas publicitárias."
"Em sua propriedade na Granja Viana, em São Paulo, ele mantém 80 animais, entre estrelas reconhecidas ou futuros astros"
"Meu trabalho é muito satisfatório, muito gostoso. Lidar com animais é muito gostoso. Trabalho com caninos, felinos, aves, roedores..."
Bem-vindo, jamais votado nobre Adestrador de Animais, digo, Senador da República.
terça-feira, novembro 23, 2004
Junk food de responsa
Ferran Adrià, O Cara, sobre quem falo logo-logo, criou o Fast Good.
O maior chef do mundo agora vende xis-saladas.
Os franceses, com seu foie gras, ainda não entenderam o que os atingiu.
Mais de quem é O Cara aqui, comentado por Helena Rizzo, e aqui.
segunda-feira, novembro 22, 2004
Brasil, um país de todos
É um sucesso a primeira lanchonete Hooters no Brasil. A rede americana, que tem 300 filiais espalhadas pelo mundo, enfim conseguiu, a duras penas, aterrissar no Bananão. Recebeu 1 milhão e 300 mil reais do BNDES. Mas antes que você reclame que não consegue nem aquele microcrédito para comprar sua máquina de costura, façamos justiça e divulguemos: a Hooters contratou 30 garçonetes e ajudou a melhorar os números do desemprego paulista, digo, brasileiro. Mais detalhes sobre esse caso de orgulho nacional, vá lá na matéria da IstoÉ Dinheiro. A dica é do Fábio Danesi, que também cita o sempre, sempre oportuno Millôr:
"Dinheiro público é dinheiro que o governo tira dos que não podem escapar e dá aos que escapam sempre".
A vida imita o adágio
O caçador de veados Chai Vang teve uma caçada dominical cheia.
Matou 5 caçadores.
A história está aqui.
sábado, novembro 20, 2004
Saturday Night Notes
- Há um funcionário do UOL dedicado exclusivamente a medir o tamanho diário do congestionamento paulistano. Quase um serviço de cotação on-line do dólar ou uma moça do tempo. Algo como se um portal carioca avisasse o resto do país, diariamente, sobre as reviravoltas que o samba-enredo da Mangueira dá ao longo do processo de criação. Ou seja, e daí?
- Alguém que come um ovo, assim, socialmente, à luz do dia, é um insensível. Não só extirpa a vida que brota dentro daquela frágil casquinha como ainda usa requintes de crueldade, mergulhando a criança em água quente ou a chapeando numa frigideira, pra depois, céus!, comer aquele indefeso feto. Será que um dia poderemos discutir livremente sobre quando um ovo deixa de ser ovo e passa a ser pinto, ou seja, vida? Cadê os valores morais desse mundo?!
- "Todo estudante universitário deveria ser obrigado a fazer um 'exame da ordem', fosse qual fosse o seu curso. Por que só os bacharéis em Direito têm esse dever?" Era o que eu pensava, antes de pensar melhor. Mas vi um cenário desolador se isso virasse moda. A julgar pelos índices de reprovação da OAB, seríamos, brevemente, ainda mais desdentados, ainda mais doentes e ainda mais ignorantes.
- Os suecos não precisam de horário de verão. Lá você só é enganado pelo outros, não por si próprio. Também porque dado o tamanho deles, os fusos seriam divididos por bairros, não por estados - impraticável. E também porque eles não doam energia a paises vizinhos enquanto correm risco de sofrer apagões.
- Um cinegrafista embedded (aqueles que vão na garupa dos tanques de guerra) acidentalmente filmou um marine executando um iraquiano ferido e desarmado. Escândalo! O episódio resultou em reuniões tensas na Casa Branca e no Pentágono. Decisão unânime, registrada nas atas: a presença de jornalistas no front será revista, pois está prejudicando os esforços cristãos pela libertação da demoníaca Faluja.
- Estou preso em casa, sem dinheiro pra pedir sequer uma pizza. Quase uma prisão domiciliar, como a do Nicolau. A diferença é que ele tem dinheiro pra pedir a pizza.
- Jesus W. Christ faz o alerta: O Irã e a Coréia do Norte estão preparando suas bombas nucleares. Ao que me recorde, nunca se usou - com uma irônica exceção - armas nucleares contra um inimigo antes, na história do mundo.
- Falando nisso: eu vou para o Oriente Médio - ou pro Chile, quem sabe - vender bandeiras americanas. Vou ganhar muito dinheiro. Já pensei até numa promoção microsoftiana: o isqueiro sai de graça, meu patrão.
sexta-feira, novembro 19, 2004
A popularidade segundo Josias
Josias tinha dessas. Moleque, às vezes coração mole, mexia com a vida das pessoas, curando cegos e coxos quando não tinha trocado. Querido pelo bairro, deu um beijo na mãe e saiu, ainda penteando a longa cabeleira com os dedos. Chegou à casa do velho amigo Luiz pra comer o tradicional pão asmo de sábado e encontrou uma pequena multidão à porta da humilde casa, incrédula, chorando pela morte do boa-praça da rua. Luiz tivera um tilt de noite, enquanto dormia. O povo chorava, e Josias chorou, apegado que era ao finado.
Mas revoltado com os caprichos do velho, decidiu agir, e colocou as mãos sobre a fronte do amigo morto. Depois de trazer Luiz de volta à vida, saiu da casa, e os vizinhos e amigos não acreditavam naquele prodígio. Andar sobre a água não causara tamanho furor, meses antes, pois se sabia da capacidade de Josias de inovar. Além disso, o preço da passagem de barco andava pela hora da morte. A alegria voltara ao bairro, e Josias, vaidoso, regozijava-se, sorrindo discretamente.
Aí, Cezar, amigo interesseiro de Josias, mais tarde, no boteco do Filisteu, perguntou: você não acha que passou dos limites dessa vez? O que o Luiz te fez para merecer morrer duas vezes? O Filisteu, dono do boteco, maranhense que ficara rico vendendo vinho feito de água batizada às custas de Josias, desesperou-se em silêncio. Uns pigarros constrangidos ecoaram no silêncio da pergunta, e Josias sentiu falta da época em que discutia com os sábios da Igreja, velhos esnobes, apegados apenas a rezas decoradas e roupas solenes.
Mais gente chegava em euforia, e os pães ficaram poucos. Luiz, ainda tonto, mal acostumado pelo amigo camarada, procurava Josias para ajudá-lo com aquele pequeno problema alimentar. Josias nada mais poderia fazer. Tinha ido pra casa, chorando discretamente.
Mas revoltado com os caprichos do velho, decidiu agir, e colocou as mãos sobre a fronte do amigo morto. Depois de trazer Luiz de volta à vida, saiu da casa, e os vizinhos e amigos não acreditavam naquele prodígio. Andar sobre a água não causara tamanho furor, meses antes, pois se sabia da capacidade de Josias de inovar. Além disso, o preço da passagem de barco andava pela hora da morte. A alegria voltara ao bairro, e Josias, vaidoso, regozijava-se, sorrindo discretamente.
Aí, Cezar, amigo interesseiro de Josias, mais tarde, no boteco do Filisteu, perguntou: você não acha que passou dos limites dessa vez? O que o Luiz te fez para merecer morrer duas vezes? O Filisteu, dono do boteco, maranhense que ficara rico vendendo vinho feito de água batizada às custas de Josias, desesperou-se em silêncio. Uns pigarros constrangidos ecoaram no silêncio da pergunta, e Josias sentiu falta da época em que discutia com os sábios da Igreja, velhos esnobes, apegados apenas a rezas decoradas e roupas solenes.
Mais gente chegava em euforia, e os pães ficaram poucos. Luiz, ainda tonto, mal acostumado pelo amigo camarada, procurava Josias para ajudá-lo com aquele pequeno problema alimentar. Josias nada mais poderia fazer. Tinha ido pra casa, chorando discretamente.
quinta-feira, novembro 18, 2004
Oops, I did it again!
Joseph Bartucci, de 28 anos, passou os últimos dez* anos sem ter a menor noção de quem era o astro de Billie Jean e Thriller. Agora, ao ver os restos do que um dia foi Michael Jackson na tevê, subitamente lembrou de seu terrível drama. Alega que em 1984, aos 18, foi forçado pelos seguranças do astro, com armas apontadas para sua cabeça, a lambuzar-se nos desejos doentios de Jacko. Como todas as outras angelicais e indefesas criancinhas que frequentaram a Terra do Nunca Fiz Isso, Bartucci não quer Michael preso. O que ele quer? Dou um pirulito - ôpa! - pra quem adivinhar. Sim, Uma indenização em dinheiro, ainda não informada, por danos psicológicos e pelo infindável sofrimento causado pelo episódio.
Os irmãos de Michael, sabendo de sua propensão a comer criancinhas feito um comunista das antigas, deviam parar de ir à tevê defendê-lo e fazer algo mais eficaz: ficar à porta de NeverLand, dispersando, com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, a aglomeração de pais e mães que insistem em empurrar seus fedelhos, com suas lancheirinhas do Peter Pan, para dentro da propriedade da fera, na esperança de que a criança saia dali com os shortinhos sujos e uma expressão de horror no rostinho.
Agora uma pergunta de um ignorante: Como alguém fica traumatizado, com sequelas psicológicas, por algo que não se lembra que ocorreu?
Em agosto esse blog já falou nesse assunto.
* Com a ajuda do Jan, percebi um erro no texto. Onde lê-se 10 anos, troque-se por 20, ok? Obrigado, Jan, só agora percebi o deslize. Aproveitando: a fonte foi a France Presse.
Os irmãos de Michael, sabendo de sua propensão a comer criancinhas feito um comunista das antigas, deviam parar de ir à tevê defendê-lo e fazer algo mais eficaz: ficar à porta de NeverLand, dispersando, com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, a aglomeração de pais e mães que insistem em empurrar seus fedelhos, com suas lancheirinhas do Peter Pan, para dentro da propriedade da fera, na esperança de que a criança saia dali com os shortinhos sujos e uma expressão de horror no rostinho.
Agora uma pergunta de um ignorante: Como alguém fica traumatizado, com sequelas psicológicas, por algo que não se lembra que ocorreu?
Em agosto esse blog já falou nesse assunto.
* Com a ajuda do Jan, percebi um erro no texto. Onde lê-se 10 anos, troque-se por 20, ok? Obrigado, Jan, só agora percebi o deslize. Aproveitando: a fonte foi a France Presse.
segunda-feira, novembro 15, 2004
É com grande pesar...
Um dos homens mais sortudos da recente história nacional, João Alves, anão do orçamento, ganhador de 221 prêmios de loteria, mór-reu. Tinha câncer de pulmão e estava internado numa UTI há duas semanas. Como se vê, não era tão sortudo assim. Confesso-me um tanto confortado, eu que assisti ótimas pessoas morrerem assim esse ano, sobre o que eu já falei antes. Nada nobre, admito. Paciência.
O bom é que agora o nosso combalido e desvalorizado Amazonas sobe no ranking. Nosso ilustre Francisco Garcia, com seus pífios 43 prêmios, entra na briga pela sucessão, como atesta a Folha. Nossa gente tem valor mesmo, um dia o Brasil reconhece, ah, se reconhece.
E que chorem os ímpios.
Só pra equilibrar um pouco a balança.
O bom é que agora o nosso combalido e desvalorizado Amazonas sobe no ranking. Nosso ilustre Francisco Garcia, com seus pífios 43 prêmios, entra na briga pela sucessão, como atesta a Folha. Nossa gente tem valor mesmo, um dia o Brasil reconhece, ah, se reconhece.
E que chorem os ímpios.
Só pra equilibrar um pouco a balança.
sexta-feira, novembro 12, 2004
O Senhor é o meu pastor, não o dele!
Exercício pessoal de honestidade e liberdade de expressão.
A tolerância religiosa me impõe a mentira, a falsidade de dizer levar a sério religiões. Cheias de rituais medonhos como orações em jejum, com testas viradas para Meca, da proibição do álcool combinada ao cultivo do ópio; Com procissões e sírios em homenagem a santos e santas, como fiéis que chicoteiam a si próprios por Alá. Dói ver o planeta depender de gente que mata pelo que acredita. Dói imaginar gente se explodindo, explodindo desconhecidos, pela promessa de um paraíso com 72 virgens, assim como dói saber que há santos, entidades divinas, que se ocupam em proteger os endividados e taxistas.
Fosse eu honesto, admitiria que nada há de sagrado em roupas e cruzes, em lágrimas e batinas, em turbantes, em templos, mesquitas e sinagogas, em dízimos ou em rifas, em quermesses pelo telhado da igreja, em jejuns e terços, em promessas e velas, no mês de fome do Ramadã, em bíblias cristãs com 37 versões ou em torás judias com 613 mandamentos. No fim tudo é ritual, e só. Se Deus valesse mais do que isso, não seríamos um planeta refém de gente que se mata por causa de um pedaço de terra, sagrado (!), menor que o Sergipe, onde teria Jesus apanhado até morrer, onde teria Davi vivido e onde teria Maomé virado purpurina.
Acho injusto não poder falar de coisas que, independente do que faço, digo ou quero, mudam a minha vida, quase sempre pra pior. Se hoje pago mais caro pela gasolina que uso, é por causa de religião. Se hoje sou revistado por tentar tirar fotos em Washington como turista, é por causa de religião. Se hoje as bolsas caem, os prédios ruem e os restaurantes explodem, é por causa de religião. Jerusalém é a Terra Santa para as três maiores religiões monoteístas do planeta. Para as três, Deus, seja o nome que Ele tenha, é acima de tudo Amor, e por esse Amor as três assassinam inocentes.
A manter-se o quadro mundial atual, piorado com a morte de Arafat, herói da paz e terrorista ao mesmo tempo, estaremos no mais tecnológico, avançado e livre dos mundos. Mundo ironicamente refém de Beatos-Salús, Jims Jones e Reverendos Moons, ratos de igreja, religiosos fariseus, hipócritas, que para ficar com sua terra sagrada são capazes de coisas nada sagradas. Continuações não costumam superar o filme original, como se sabe. A prova é que religiosos e líderes responsáveis pelo fim nuclear do mundo se confundem nas mesmas pessoas, com suas orações à mesa, com suas velinhas de oito dias, com suas bananas de dinamite e seus tanques M-1. Você gostaria de Henri Sobel, Bispo Macedo e a CNBB como donos de nossas vidas?
Resta a mim continuar a minha prece diária: Senhor, protegei-me dos teus seguidores!
A tolerância religiosa me impõe a mentira, a falsidade de dizer levar a sério religiões. Cheias de rituais medonhos como orações em jejum, com testas viradas para Meca, da proibição do álcool combinada ao cultivo do ópio; Com procissões e sírios em homenagem a santos e santas, como fiéis que chicoteiam a si próprios por Alá. Dói ver o planeta depender de gente que mata pelo que acredita. Dói imaginar gente se explodindo, explodindo desconhecidos, pela promessa de um paraíso com 72 virgens, assim como dói saber que há santos, entidades divinas, que se ocupam em proteger os endividados e taxistas.
Fosse eu honesto, admitiria que nada há de sagrado em roupas e cruzes, em lágrimas e batinas, em turbantes, em templos, mesquitas e sinagogas, em dízimos ou em rifas, em quermesses pelo telhado da igreja, em jejuns e terços, em promessas e velas, no mês de fome do Ramadã, em bíblias cristãs com 37 versões ou em torás judias com 613 mandamentos. No fim tudo é ritual, e só. Se Deus valesse mais do que isso, não seríamos um planeta refém de gente que se mata por causa de um pedaço de terra, sagrado (!), menor que o Sergipe, onde teria Jesus apanhado até morrer, onde teria Davi vivido e onde teria Maomé virado purpurina.
Acho injusto não poder falar de coisas que, independente do que faço, digo ou quero, mudam a minha vida, quase sempre pra pior. Se hoje pago mais caro pela gasolina que uso, é por causa de religião. Se hoje sou revistado por tentar tirar fotos em Washington como turista, é por causa de religião. Se hoje as bolsas caem, os prédios ruem e os restaurantes explodem, é por causa de religião. Jerusalém é a Terra Santa para as três maiores religiões monoteístas do planeta. Para as três, Deus, seja o nome que Ele tenha, é acima de tudo Amor, e por esse Amor as três assassinam inocentes.
A manter-se o quadro mundial atual, piorado com a morte de Arafat, herói da paz e terrorista ao mesmo tempo, estaremos no mais tecnológico, avançado e livre dos mundos. Mundo ironicamente refém de Beatos-Salús, Jims Jones e Reverendos Moons, ratos de igreja, religiosos fariseus, hipócritas, que para ficar com sua terra sagrada são capazes de coisas nada sagradas. Continuações não costumam superar o filme original, como se sabe. A prova é que religiosos e líderes responsáveis pelo fim nuclear do mundo se confundem nas mesmas pessoas, com suas orações à mesa, com suas velinhas de oito dias, com suas bananas de dinamite e seus tanques M-1. Você gostaria de Henri Sobel, Bispo Macedo e a CNBB como donos de nossas vidas?
Resta a mim continuar a minha prece diária: Senhor, protegei-me dos teus seguidores!
quinta-feira, novembro 11, 2004
Bem-vindos ao casamento
Não importa quão linda, loura e rica é sua esposa. Se já é sua esposa, é assim que você faz perante um topless marital. Um livrinho na mão, a outra mão apoiando a cabeça, a esposa meio entediada... E isso porque os dois se casaram dia desses, hein...
Numa coisa os petistas têm razão: essa tucanada é um bando de chatos mesmo.
Beto, eu não te pedi, mas obrigado pela foto.
quarta-feira, novembro 10, 2004
Spell Checking
This is Taiti
This is Haiti
Se hoje você ganhar a Megasena, meu amigo considerado, tenha muito, mas muito cuidado com a diferença que uma solitária letra faz. Na agência de viagens soletre, vagarosa e pausadamente, pra onde você quer ir.
This is Haiti
Se hoje você ganhar a Megasena, meu amigo considerado, tenha muito, mas muito cuidado com a diferença que uma solitária letra faz. Na agência de viagens soletre, vagarosa e pausadamente, pra onde você quer ir.
terça-feira, novembro 09, 2004
Ben-di-ta Ge-ni!
Me agrada pensar no amazonense como um boa-gente. Que se permita, assim, que nos chamem de passivos, dóceis e mansos, whatever. O estado do Amazonas, histórica e contemporaneamente povoado por migrações nordestinas e paraenses, sempre foi, e continuará sendo, uma mãe para todo tipo de visitantes. Paulistas sem lugar ao sol em Sumpáulo, cariocas fugindo dos milhares de Zé Pequenos do Rio, maranhenses procurando melhores condições e paraenses buscando uma prazerosa dor saudosista de suas Beléins, Santaréins, de seus Remos, de seus Paysandus e de seu açaí. Manaus é mulher fácil, sorridente, calorosa e ingênua. Acolhe fugitivos do Linha Direta sorrindo, como acolhe a arrogância de paulistas, paranaenses e gaúchos. Uma Geni, que todos comem e em quem todos cospem. Por isso gosto de pensar, já que nasci numa província metida a cidade, cercada de províncias metidas a metrópoles, que somos mais felizes. Nesse rodamoinho de ilusões, bairrismos e tolices medíocres, estamos mais perto da realidade do que paulistas, cariocas e paraenses, pra citar três. Os primeiros com seu sangue bugre e sua pose européia – baixa auto-estima eu perdôo; os do meio achando que são bons malandros – saudosismo eu também relevo; e os últimos achando que sua Canaã, linda nos porta-retratos sobre as tevês da sala, será sempre a última Skol – desculpem, Cerpinha - nesse seco e inóspito deserto de medíocres amazônidas. E que venham, todos os felizes, para a minha capital do mormaço, a terra dos infelizes.
Temperado com generalizações ao gosto do autor.
Temperado com generalizações ao gosto do autor.
segunda-feira, novembro 08, 2004
Não seja apenas mais um
Acabo de receber mais um arquivo powerpoint fofinho, com gatinhos abraçados e letrinhas caindo, uma a uma, ao som de Yesterday naquela versão midi que mais parece tocada por um chimpanzé num pianinho de brinquedo. Enfim, uma bosta de bom dia. O autor – desconhecido, por supuesto - me informa que se eu não sonhar minha vida não vale a pena. “Um homem sem sonhos não vive, apenas existe”. Bonito, bonito. Nasci, cresci, existo, não atrapalho ninguém, não incomodo ninguém – até onde sei. Não roubo o que é dos outros, trabalho pra comer o que a Bíblia diz que eu ganhei de Deus. Pago impostos que aqueles que os roubam não pagam, sigo as leis de trânsito, não urino nos muros e postes, não ouço música alta tarde da noite, não fumo em lugares fechados e desligo o telefone no cinema. Mas não, não é o suficiente. Além disso preciso fazer algo, fazer a diferença, me destacar, ser lembrado. Todos os outros à minha volta precisam do mesmo. Precisamos ter sonhos, almejar algo, deixar algo para a humanidade, um livro, uma empresa de sucesso, um exemplo de vida, filhos com nosso nome, nossos genes.
Há dias em que dá vontade de apenas existir. Chega de sonhos, chega de ambições, chega de competição. Carpe Diem o cacete.
Há dias em que dá vontade de apenas existir. Chega de sonhos, chega de ambições, chega de competição. Carpe Diem o cacete.
sexta-feira, novembro 05, 2004
Groupies ricas, ídolos jecas
Eu comecei a entender a distância que separa a riqueza dos Estados Unidos da pobreza brasileira. Basta pensar que os eleitores jecas, caipiras, gordos, fundamentalistas e retrógrados de Bush são aplaudidos por parte da elite intelectual brasileira. E quando a nata pensante de um país suspira pelo que há de pior noutro, fica fácil entender a disparidade entre ricos e pobres - e isso vale para Bushs, Fidéis e Hugos. Os mauricinhos brasileiros não chegam aos pés dos Zecas Diabos americanos. O Brasil é a favela intelectual do mundo. Uma Rocinha, com tevê a cabo, clínica particular e academia de ginástica, mas ainda uma favela.
Fico com o SSoB, que elaborou um novo mapa, com grandes oportunidades turísticas, da América do Norte. Junta-se Canadá, Califórnia e Nova Iorque num país novo. Vou ganhar dinheiro, assim como o Smart, fretando vôos para lá. Quem topa?
Fico com o SSoB, que elaborou um novo mapa, com grandes oportunidades turísticas, da América do Norte. Junta-se Canadá, Califórnia e Nova Iorque num país novo. Vou ganhar dinheiro, assim como o Smart, fretando vôos para lá. Quem topa?
quinta-feira, novembro 04, 2004
Esquema? Não? Então a fila é ali, ó.
Tento abrir minha empresa há 4 meses. Há dois meu processo viaja pela IMPLURB - Instituto Municipal de Planejamento Urbano, que hoje, depois de um feriado de 7 dias, foi indeferido. A atendente, bronzeadérrima pelo sol de Maués, guarda seu Sabrina e sua serrinha de unhas, mas não diminui o volume do toca-discos, que vai de Bruno & Marrone. Sugere um recurso, e que eu procure alguém que conheça os trâmites (alguém de dentro) para agilizar o processo. Me apresento então como Antônio Cordeiro, primo de Bosco Saraiva, genro de Ari Moutinho, cunhado de Amazonino Mendes, filho de João Gomes, assessor de Eduardo Braga. Ela não gosta da gracinha, mas sorri, como quem faz côro com os colegas desse mundo de almas sebosas: Vai, otário.
quarta-feira, novembro 03, 2004
Four More Years
Ele venceu.
E que caiam mais bombas.
E que explodam mais crianças.
E que degolem mais inocentes.
E que mais 100.000 civis morram no Iraque.
E que mais 215 bi sejam gastos.
E que mais desmoralizado fique o Ocidente.
E que mais simpatizantes consiga Osama.
E que mais homens-bomba se apresentem.
E que mais guerras venham, em nome da paz.
segunda-feira, novembro 01, 2004
Agradecimentos
Às 18:00 senti um passamento, e corri pra dentro de casa, lembrando do Velho Testamento. Lá Deus anunciou o dilúvio, que limparia toda a iniqüidade humana. Entrei com minha família e esperei a tormenta acalmar. Passados 40 minutos (o tempo da bíblia tem outro ritmo), soltei uma pomba, e eis que ela nunca voltou, decerto por ter encontrado pouso para seus pés. Abri a janela e vi que a terra estava enxuta, lavada, e que todos haviam sido levados na enxurrada. As picapes, as camisetas, os adesivos, as bandeirinhas. Nélson deles.
Presto aqui justa homenagem a Bruno Sabbá, à Juventude Amazonista, a todos os secretários estaduais e municipais militantes, aos milhares de assessores de porra nenhuma, ao funcionalismo público-particular, a Arlindo Jr., Braz Silva, Sabino Castelo Branco, Bosco Saraiva, Francisco Garcia, aos financiadores - como faço pra tirar o sorriso da cara? - da campanha mais cara da história da cidade, a Egberto Batista, José Lopes, Robério Braga, Josué Filho e agregados, [musica crescendo e microfone diminuindo...], meu Deus, é tanta gente... àqueles que agora trocam os adesivos nas garagens e se preparam para puxar um saco novinho em folha. A todas essas pessoas, que brindaram a população durante esses longos meses com seu carisma, seu cinismo, seus programas de tevê, rádio, seus jornais - e revistas -, suas festinhas e baladinhas politizadas, seus indiciamentos, suas prisões, suas médicas grávidas, enfim, a todos, e me perdoem se esqueço de alguém [música aumentando mais...], o meu desejo sincero é que todos vocês, igualmente, sem distinção de idade, cor, religião, raça, vão pras putas que lhes pariram.
Fuck you very much, fuck you very much.
sábado, outubro 30, 2004
Sinal dos tempos
Amazonino Mendes e sua turma de estelionatários, puxa-sacos, traficantes, ladrões, fraudadores e eleitores que rodam bolsinha na esquina das avenidas Vergonha na Cara e Memória Política, reclamando do nível baixo de um debate. Renata Sorrah precisa de aulas.
sexta-feira, outubro 29, 2004
Jornais e jornalecos
Fica fácil entender o que difere gente fina e ralé quando vemos o apoio declarado que os jornais americanos e europeus tradicionalmente dão a seus candidatos políticos. Muita gente no Brasil não entende essa prática pois já se acostumou com o fingimento e a dissimulação de sua mídia, e assim, finge também não perceber isso. Fingimento, aliás, devia estar escrito na bandeira nacional. Os jornais de lá confrontam suas idéias com a dos leitores, porque os leitores pensam, só e somente só. A The Economist, revista britânica conservadora no último, por exemplo, apoiou Bush antes da guerra do Iraque. Mudou o voto porque Bush mostrou-se incompetente, mentiroso e conivente com tortura e abusos similares. Tudo isso apesar de não confiar muito em Kerry. Seu editorial diz que se o jornal tivesse um voto, seria do democrata. Assim, na bucha, sem entrelinhas, sem fingimento, sem insinuações. Os jornais de gente grande apostam em idéias e resultados, e seu apoio não tem dono, pois têm mais credibilidade do que qualquer candidato, e credibilidade é 110% no jornalismo. Quanto aos jornais do Bananão? Give me a break... Diriam seus editores e chefões, numa improvável crise de transparência: Pra que desperdiçar pérolas com porcos?
quinta-feira, outubro 28, 2004
Essa gente maldizente
Leio A Mentira das Urnas, de Maurício Dias, que acaba de ser lançado pela Editora Record. Maurício escreve em Carta Capital, já foi repórter político de Veja e chefe das revistas IstoÉ e Senhor, além de editor-chefe do JB. Trecho do capítulo A Caixinha do Ademar:
Nos anos 1960, estava se consolidando a prática do "rouba mas faz". O método, hoje generalizado, foi colado no ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros, um aspirante fracassado à presidência da República em 1955. (...) Político folclórico e populista, Ademar de Barros foi, por duas vezes (1947-1951 e 1963-1966), governador de São Paulo. Seu primeiro governo inspirou o lema - "rouba mas faz" – perpetuado na prática político-administrativa brasileira que, por injustiça, só Ademar celebrizou. Enfrentando os boatos de peito aberto e usando o talento e a disposição da dupla Herivelto Martins e Benedito Lacerda, Ademar divulgou a história da “Caixinha do Ademar” à sua maneira:
Quem não conhece/Não ouviu falar,
Na famosa “caixinha do Ademar”,
Que deu livro, deu remédio, deu estrada,
Caixinha abençoada (...)
Deixa falar toda essa gente, maldizente,
Deixa quem quiser falar (...)
Enquanto eles engordam tubarões,
A caixinha defende o bem-estar de milhões.
Herivelto e Benedito eram verdadeiros poetas. Se fossem amadores, cantariam simplesmente Chega de blá-blá-blá, é no Ademar que eu vou votar!
Nos anos 1960, estava se consolidando a prática do "rouba mas faz". O método, hoje generalizado, foi colado no ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros, um aspirante fracassado à presidência da República em 1955. (...) Político folclórico e populista, Ademar de Barros foi, por duas vezes (1947-1951 e 1963-1966), governador de São Paulo. Seu primeiro governo inspirou o lema - "rouba mas faz" – perpetuado na prática político-administrativa brasileira que, por injustiça, só Ademar celebrizou. Enfrentando os boatos de peito aberto e usando o talento e a disposição da dupla Herivelto Martins e Benedito Lacerda, Ademar divulgou a história da “Caixinha do Ademar” à sua maneira:
Quem não conhece/Não ouviu falar,
Na famosa “caixinha do Ademar”,
Que deu livro, deu remédio, deu estrada,
Caixinha abençoada (...)
Deixa falar toda essa gente, maldizente,
Deixa quem quiser falar (...)
Enquanto eles engordam tubarões,
A caixinha defende o bem-estar de milhões.
Herivelto e Benedito eram verdadeiros poetas. Se fossem amadores, cantariam simplesmente Chega de blá-blá-blá, é no Ademar que eu vou votar!
quarta-feira, outubro 27, 2004
Narcisa entrevista Narcisa
Irritada com as cenas que via nas ruas – além, claro, da falta de luz, água, esgoto e dignidade -, Maria Narcisa, moradora da periferia da cidade, conseguiu marcar horário para entrevistar Narcisa Tamberindeguy, notória panfleteira de conhecido e nacionalmente mal visto político local, para esclarecer algumas dúvidas, além de dar chance à entrevistada de defender seu voto.
O que te convenceu a votar nele?
O que importa para mim é ser feliz! U-hú!
O que você acha dos indiciamentos dele na justiça?
Ai, que loucura! Você vota em quiser, que coisa! U-hú!
O que você pensa do marqueteiro dele?
Feliz aniversário pros aniversariantes de hoje, U-hú!
E os apadrinhados indiciados dele?
Hahahahahahahahaha, u-hú!
E os crimes eleitorais que eles vêm cometendo?
Todo mundo lá, hein! U-hú!
E o uso da máquina pública a favor dele?
Beijokas pra todos, u-hú!
O que você pensa sobre a fraude daquela médica?
O feriado vai abalar, u-hú!
O que você faz profissionalmente?
Hã? U-hú!
E quanto aos funcionários públicos do povo, coagidos a fazer panfletagem pro seu candidato?
Você só sabe falar sério?! Seja feliz, meninaaaa!
Você só sabe responder assim?
Assim como? U-hú!
Eu queria que você respondesse...
A inveja mata, u-hú!
Peraí, é sério...
Pois é, você leva a vida muito a sério, fofa! U-hú!
Tudo bem, um bate-bola mais ameno: Coisas que você odeia?
Coisas que eu odeio? Hipocrisia, claro! U-hú!
O que você acha do serviço de saúde da cidade?
Aê galera, hoje todo mundo abalando, hein?! U-hú!
Você ou alguém que você conhece vai receber algo em troca pelo apoio ao seu candidato?
Lá vem você de novo! O que importa para mim é ser feliz! U-hú!
Seus amigos vêm de que parcela produtiva da sociedade?
Hahahahahahahahaha! u-hú!
Você conhece o bairro onde eu moro, na periferia?
Claro, U-hú! Fui a um comíssio do meu candidato lá! Abalamos muuuuuuiito, u-hú!
Você já passou a noite na fila do hospital?
Já, um amigão que eu aaammuuuuu, o Nandão, beijoka, Nandão!, tomou 79 cervejotas numa balada típica de segunda-feira e passou mal. Foi horrível, Narcisa! Ficamos a noite inteira, eu, a Ju, a Lu, e Fê, a Ma, o Fi, a Ro e o Si, na fila das visitas, esperando o nosso momento pra entrar e gritar U-hú, Nandão! Abalou geral!
Você já foi assaltada no seu bairro, quando voltava do trabalho?
Ai, que loucura! Claro que não, no meu bairro são todos felizes, u-hú!
Bom, Narcisa, obrigado pela entrevista. [pffff....]
Obrigado você, mana! U-hú!
Notícias dos fronts.
Sumiram 60.000 cédulas de votação. Na Flórida.
Eis o mundo mais seguro e mais democrático de Bush.
terça-feira, outubro 26, 2004
Joyce para menores
Se você já se atreveu a ler Ulisses, do irlandês James Joyce, aclamado por grande parte da crítica como um dos melhores romances de todos os tempos, deve ter caído em depressão nas primeiras páginas, como um alemão numa gafieira, covardemente lambendo as feridas e defendendo-se com um "Que livro chato!". Comigo foi assim, mas eu tenho sentido vontade de tentar novamente, por dois motivos principais:
- Um dos caras que eu mais admiro mandou que eu desrespeitasse Joyce.
- Encontrei alguém mais difícil de ler: Ishtar dos Sete Véus, do Club dos Terríveis.
segunda-feira, outubro 25, 2004
O Beijo, A Foto.
Em 14 de agosto de 1945 Alfred Eisenstaedt, fotógrafo da revista LIFE, corria pelas ruas de Nova Iorque, buscando fotos sobre a rendição japonesa. Encontrou um marinheiro que beijava moças por toda Times Square e começou a seguí-lo até encontrar a composição perfeita, o constraste de cores, a postura, a beleza do momento. O marinheiro e a enfermeira, protagonistas anônimos de uma das mais belas fotos de todos os tempos, não se conheciam, e sua identidade até hoje é reclamada por várias pessoas. Uma das provas fotográficas de que a beleza e a feiúra do mundo não precisam de ensaios ou retoques.
sexta-feira, outubro 22, 2004
Passa a certidão, dona!
Sim, Soraia foi vítima de assalto, espancamento de três horas e tentativa de sequestro relâmpago, na Estrada do Turismo, quando dirigia, sozinha, seu carro. Pensou em pedir ajuda à Juventude Amazonista, mas o som do Bora-Bora estava muito alto e ninguém ouviu seus gritos de desespero.
A certidão de nascimento do filho de Serafim?
Os assaltantes levaram.
Acredite: Isso não é ficção, é real, e é pelo seu dinheiro.
Patrocínio: Sabino Castelo Branco, o vereador mais votado de Manaus
quinta-feira, outubro 21, 2004
Negue se for capaz
A diferença entre você e um ladrão é que ele luta para que os sonhos dele se realizem.
quarta-feira, outubro 20, 2004
Mentir sozinho eu sou capaz
No astronaut left behind!
Apesar de trocar de domicílio eleitoral a cada 0.000472 nanosegundos, viajando a mais de 27.000 Km/h, o astronauta americano Leroy Chiao, que está na Estação Espacial Internacional, deve votar nas eleições americanas, no próximo dia 2. Segundo a CNN, a diretoria da Nasa, empresa pública, depois de reuniões noturnas com o comitê de campanha de um dos candidatos, pediu autorização para as autoridades federais e locais para que Chiao possa votar por e-mail, além de enviar camisetas e broches eleitorais para o espaço. A maioria dos astronautas americanos que vive perto de Houston ganhou o direito de votar do espaço depois que o então governador George W. Bush aprovou uma lei prevendo a prática. Confirmando as previsões de Jimi Carter de bagunça generalizada – de novo – nas eleições presidenciais, o astronauta não vai precisar se dirigir ao TRE e pedir transferência de título de eleitor, muito menos justificar sua ausência. Sua votação está marcada para 23:51:14 de amanhã, o exato momento em que a Estação Espacial passará sobre o estado da Flórida, onde a votação já começou - of course.
"Com certeza (sic!), exercerei meu direito civil", afirmou o astronauta.
...Ué, a República das Amazonas tem convênio de cooperação com a Nasa?!
terça-feira, outubro 19, 2004
Abalando na Política, u-hú!
Da Política Internacional
Vladimir Putin ressurgiu ontem, no Tadjiquistão, fazendo campanha pela reeleição de Bush, ao dizer que os atentados terroristas no Iraque são um ataque pessoal contra seu colega americano. Bush, com aquele inconfundível e quase imperceptível sorrisinho maroto, disse, em cadeia nacional "thank you, my fellow assassin, Mr. Putin. God's on our side.".
Da Política Nacional
Celso Pitta declarou seu apoio irrestrito à candidatura de José Serra, provando, mais uma vez, que São Paulo é a face mais brasileira e maquiada do Brasil. Antes com 12% de vantagem – nas pesquisas, diga-se – sobre a perua do PT, Serra viu sua popularidade imediatamente cair, e disse "Eu não aceito esse apoio, gente! Eu não aceito esse apoio, gente!".
Da Política Local
Padecendo das limitações de uma campanha artesanal, feita apenas com o amor do povo e com as doações dos amigos do peito, Amazonino Mendes recebe o apoio Tamborindeguista da Juventude Amazonista, que entre uma balada e outra, uma cervejota e outra, uma fotinha e outra, também tem – acredite – consciência política. Com direito a camisetas com os engajados dizeres “O Negão é Legal!” e carreatas de Golfs e Audis adesivados, parte das cantinas italianas da moda e das festinhas de Halloween VIP da cidade. Amazonino suspira, arqueado, com aquela camisa pólo suada, e grita, rouco, "U-húúú! Abalei geral, gentein!".
Nota: Estão errados os que ofendem a Juventude Amazonista. Merecem elogios. Ao contrário do que muitos falam, eles são os mais inteligentes de todos nós. Vá por mim. Mesmo nessa extenuante rotina cívica de festa-ressaca-festa-ressaca, têm consciência do preço de seu papelão, mas como quem não chora não mama, fazer o quê...
Nota 2: O voto é livre, graças a Deus. Vote no ladrão que você escolher. Só não me peça depois pra botar a mão no fogo por você.
Nota 3: Esse blog não tem partido nem candidato.
Vladimir Putin ressurgiu ontem, no Tadjiquistão, fazendo campanha pela reeleição de Bush, ao dizer que os atentados terroristas no Iraque são um ataque pessoal contra seu colega americano. Bush, com aquele inconfundível e quase imperceptível sorrisinho maroto, disse, em cadeia nacional "thank you, my fellow assassin, Mr. Putin. God's on our side.".
Da Política Nacional
Celso Pitta declarou seu apoio irrestrito à candidatura de José Serra, provando, mais uma vez, que São Paulo é a face mais brasileira e maquiada do Brasil. Antes com 12% de vantagem – nas pesquisas, diga-se – sobre a perua do PT, Serra viu sua popularidade imediatamente cair, e disse "Eu não aceito esse apoio, gente! Eu não aceito esse apoio, gente!".
Da Política Local
Padecendo das limitações de uma campanha artesanal, feita apenas com o amor do povo e com as doações dos amigos do peito, Amazonino Mendes recebe o apoio Tamborindeguista da Juventude Amazonista, que entre uma balada e outra, uma cervejota e outra, uma fotinha e outra, também tem – acredite – consciência política. Com direito a camisetas com os engajados dizeres “O Negão é Legal!” e carreatas de Golfs e Audis adesivados, parte das cantinas italianas da moda e das festinhas de Halloween VIP da cidade. Amazonino suspira, arqueado, com aquela camisa pólo suada, e grita, rouco, "U-húúú! Abalei geral, gentein!".
Nota: Estão errados os que ofendem a Juventude Amazonista. Merecem elogios. Ao contrário do que muitos falam, eles são os mais inteligentes de todos nós. Vá por mim. Mesmo nessa extenuante rotina cívica de festa-ressaca-festa-ressaca, têm consciência do preço de seu papelão, mas como quem não chora não mama, fazer o quê...
Nota 2: O voto é livre, graças a Deus. Vote no ladrão que você escolher. Só não me peça depois pra botar a mão no fogo por você.
Nota 3: Esse blog não tem partido nem candidato.
segunda-feira, outubro 18, 2004
Ironias da vida. E da morte também.
Há treze anos Helmut Simon encontrou os restos de um homem pré-histórico numa geleira alpina. A múmia, com idade aproximada de 5 mil anos, é a mais antiga e inteiraça já desenterrada. Otzi, como ficou conhecida, já recebeu até homenagens por ter morrido lutando (Badan Palhares atestaria Crime Passional) e papéis principais em documentários do Discovery Channel – O título de um deles era “Quem matou Otzi?”, juro. Pois bem, há três dias Helmut está desaparecido nos Alpes. Há poucas chances de ser encontrado, devido à quantidade de neve e ao mau tempo na região.
Daqui a 5.300 anos Helmut deverá ser encontrado. Diferente de Otzi, será homenageado por ter inventado a morte recursiva, provando, assim, que o tempo é um ciclo de repetições e que morria de inveja da múmia, que se tornara mais famosa do que ele. Otzi, é verdade, nunca quis os holofotes nem ser apresentador de tevê como Helmut, mas morreu com dignidade, lutando ("diz-que"), e não como todo alpinista, idiota e desocupado. Já Helmut, morreu, é verdade, mas com um propósito maior. Daqui a 5 milênios, quando for encontrado, nunca mais ninguém falará na porra do Otzi. Só lá, então, seremos capazes de entender o feito heróico de Helmut Simon.
A parte fictícia da história veio da Reuters.
Daqui a 5.300 anos Helmut deverá ser encontrado. Diferente de Otzi, será homenageado por ter inventado a morte recursiva, provando, assim, que o tempo é um ciclo de repetições e que morria de inveja da múmia, que se tornara mais famosa do que ele. Otzi, é verdade, nunca quis os holofotes nem ser apresentador de tevê como Helmut, mas morreu com dignidade, lutando ("diz-que"), e não como todo alpinista, idiota e desocupado. Já Helmut, morreu, é verdade, mas com um propósito maior. Daqui a 5 milênios, quando for encontrado, nunca mais ninguém falará na porra do Otzi. Só lá, então, seremos capazes de entender o feito heróico de Helmut Simon.
A parte fictícia da história veio da Reuters.
sexta-feira, outubro 15, 2004
Por obséquio, por caridade, por compaixão
Por favor, hoje é sexta. Hoje, só hoje!, não fale assim comigo:
"As pessoas da Melhor Idade"
para se referir às pessoas na pior idade
"Máquina Fotográfica Digital"
como quem diz “tevê a cores”
"Um Bom vinho"
fingindo conhecer, se não conhece
"Um Bom livro"
fingindo que lê, se não lê
"Ninguém merece!"
Pois é.
"Com certeza"
de qualquer conterrâneo
"...né?"
idem
"O jornal TANTOFAZ fica por aqui"
de qualquer noticiário
"Quente hoje, né?"
no elevador
"Essa turma do barulho vai aprontar altas confusões"
na tevê
Post aberto a sugestões dos visitantes
"As pessoas da Melhor Idade"
para se referir às pessoas na pior idade
"Máquina Fotográfica Digital"
como quem diz “tevê a cores”
"Um Bom vinho"
fingindo conhecer, se não conhece
"Um Bom livro"
fingindo que lê, se não lê
"Ninguém merece!"
Pois é.
"Com certeza"
de qualquer conterrâneo
"...né?"
idem
"O jornal TANTOFAZ fica por aqui"
de qualquer noticiário
"Quente hoje, né?"
no elevador
"Essa turma do barulho vai aprontar altas confusões"
na tevê
Post aberto a sugestões dos visitantes
quarta-feira, outubro 13, 2004
Vamos puní-los exemplarmente!
Você quer ver as autoridades cariocas agindo com todo o rigor necessário quando se fala de violência e tráfico de drogas?
Publique uma matéria em um jornal estrangeiro mostrando o que acontece no Rio de Janeiro. Vão todos rodar a baiana na hora. Bigodinhos, óculos ray-ban e barrigas de cerveja vão tremer de raiva nos gabinetes e quartéis.
O primeiro link, em português, deve pedir dados para cadastro, sem compromisso de assinatura. Mas se você não quer nem isso, o segundo link é o da matéria original, em inglês.
Publique uma matéria em um jornal estrangeiro mostrando o que acontece no Rio de Janeiro. Vão todos rodar a baiana na hora. Bigodinhos, óculos ray-ban e barrigas de cerveja vão tremer de raiva nos gabinetes e quartéis.
O primeiro link, em português, deve pedir dados para cadastro, sem compromisso de assinatura. Mas se você não quer nem isso, o segundo link é o da matéria original, em inglês.
segunda-feira, outubro 11, 2004
O inferno é aqui mesmo.
Glória Perez convidou Preta Gil para participar da próxima novela das oito, na Globo. Se aceitar - é, se aceitar! -, Preta vai interpretar - é, interpretar! - uma cantora de funk da Baixada Fluminense. Preta também poderá incluir uma música sua na trilha sonora da novela.
Uma vez eu disse que deveria haver lei contra esse tipo de coisa. Em vez disso, fazem leis contra as leis do capitalismo, contra humoristas, jornalistas e cineastas. Aliás, meu carinho por esse assunto é tão grande que eu já deixara escapar outra vez.
Um resumo desses deveria vir com aquele selinho de "Parental Advisory - Explicit Lyrics" na capa. Ou você acha que tem coisa mais pornográfica do que "Preta Gil vai interpretar cantora de funk em novela de Glória Perez, com direito a faixa na trilha sonora"?
Perguntada sobre o convite, Preta respondeu: "Isso tudo é real e muito tentador. O convite me deixou em ebulição e aflição. Quem não quer fazer uma novela da Glória Perez?".
E a sensação de que meu halloween particular é hoje continua...
Uma vez eu disse que deveria haver lei contra esse tipo de coisa. Em vez disso, fazem leis contra as leis do capitalismo, contra humoristas, jornalistas e cineastas. Aliás, meu carinho por esse assunto é tão grande que eu já deixara escapar outra vez.
Um resumo desses deveria vir com aquele selinho de "Parental Advisory - Explicit Lyrics" na capa. Ou você acha que tem coisa mais pornográfica do que "Preta Gil vai interpretar cantora de funk em novela de Glória Perez, com direito a faixa na trilha sonora"?
Perguntada sobre o convite, Preta respondeu: "Isso tudo é real e muito tentador. O convite me deixou em ebulição e aflição. Quem não quer fazer uma novela da Glória Perez?".
E a sensação de que meu halloween particular é hoje continua...
sexta-feira, outubro 08, 2004
Ele está no meio de nós
Sim, Ele mesmo. Fala sozinho, feito um professor de macroeconomia às 8:00 da noite de sexta-feira, enquanto procuramos provas de sua existência - e a de sua mãe - num pedaço de pano encardido do século 12 ou numa vidraça empenada, numa cidade caipira qualquer de São Paulo.
Definitivamente, Ele não é pro nosso bico.
Definitivamente, Ele não é pro nosso bico.
quinta-feira, outubro 07, 2004
Más novas nessa manhã tão cinza...
Abro os jornais e sites de notícias:
123 comissários da Polícia Civil amazonense, que passaram 4 anos estudando a Lei, especialmente a Constituição Brasileira, a maior delas, estão caladinhos sobre sua promoção, sem concurso, a delegados.
As 17 prostitutas mirins de Barcelos, presenteadas com lingerie comprada no Amazonas Shopping, devem ter a cara cheia de espinha e a mão peluda. Foram contratadas por 20 empresários paulistas, ao custo de R$ 3.500 individuais para, simplesmente, se masturbarem durante dois dias seguidos. Ninguém, nenhum deles fez sexo com elas.
O site BetaVote simula a “primeira eleição global”, questionando de pessoas do mundo inteiro sua preferência entre Kerry e aquele cujo nome não cito mais. Kerry tem 87%, “o contrário” tem 12%. “O contrário” só venceria as eleições em Andorra, Azerbaijão, Ilhas Faroë, Líbia e Nigéria. Esses países sim, são fortíssimos candidatos a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU a partir de agora.
Aquele cujo nome não cito mais invadiu ilegalmente um país soberano e mata todos os dias centenas de civis. Contra o mundo inteiro e contra a Verdade e a decência, ignorou ONU, inspetores de armas, conselheiros e o resto do mundo. Por ter mentido sobre seu caso com a estagiária, Clinton quase caiu, por perjúrio. Onde anda Kenneth Starr, o promotor que perseguia Clinton e amava tanto A Verdade? Num país sério esse presidente já estaria expulso do poder e provavelmente respondendo a processo por crimes de guerra. Nos EUA vai ser reeleito.
E ninguém entende meu mau humor matinal...
123 comissários da Polícia Civil amazonense, que passaram 4 anos estudando a Lei, especialmente a Constituição Brasileira, a maior delas, estão caladinhos sobre sua promoção, sem concurso, a delegados.
As 17 prostitutas mirins de Barcelos, presenteadas com lingerie comprada no Amazonas Shopping, devem ter a cara cheia de espinha e a mão peluda. Foram contratadas por 20 empresários paulistas, ao custo de R$ 3.500 individuais para, simplesmente, se masturbarem durante dois dias seguidos. Ninguém, nenhum deles fez sexo com elas.
O site BetaVote simula a “primeira eleição global”, questionando de pessoas do mundo inteiro sua preferência entre Kerry e aquele cujo nome não cito mais. Kerry tem 87%, “o contrário” tem 12%. “O contrário” só venceria as eleições em Andorra, Azerbaijão, Ilhas Faroë, Líbia e Nigéria. Esses países sim, são fortíssimos candidatos a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU a partir de agora.
Aquele cujo nome não cito mais invadiu ilegalmente um país soberano e mata todos os dias centenas de civis. Contra o mundo inteiro e contra a Verdade e a decência, ignorou ONU, inspetores de armas, conselheiros e o resto do mundo. Por ter mentido sobre seu caso com a estagiária, Clinton quase caiu, por perjúrio. Onde anda Kenneth Starr, o promotor que perseguia Clinton e amava tanto A Verdade? Num país sério esse presidente já estaria expulso do poder e provavelmente respondendo a processo por crimes de guerra. Nos EUA vai ser reeleito.
E ninguém entende meu mau humor matinal...
quarta-feira, outubro 06, 2004
My private Animal Planet
Minha casa tem 6 tartarugas, que ganhamos quando crianças e encostamos como ferroramas no fundo do quarto. Tem um papagaio que literalmente caiu do céu. Tem quatro cachorros, já teve uma boa dúzia de gatos, periquitos, e toda sorte de passarinhos, que meu irmão teimava em prender num dia, e que eu teimava em soltar no outro. Pretendo soltar todos, a começar pelas tartarugas. O papagaio não quer saber de liberdade, já aprendeu a exigir comida e a rir da nossa cara nas piores horas. Tenho certeza que os cachorros pretendem nos expulsar de casa. Embriagado de sono, vou tirar o carro da garagem, onde também fica o loft do arremedo de Louro José. Sinfonia de cães, de gente, de carros na rua e de notícias ruins no rádio. Uma família de pombos saqueia o saco de ração de R$ 46 dos cachorros. Cocô de pombo no pára-brisa do carro - provavelmente a ração roubada ontem, já processada – o reservatório de água do carro vazio e o limpador espalhando a merda pelo resto do vidro. A garagem cheia de cocô de cachorro. Um gato de rua dorme em cima do carro. O carro do vizinho bloqueia a saída do meu, o sol das 7:30 escaldando e o cachorro do vizinho, um pincher que juro de morte toda manhã, dando aquelas latidinhas que martelam a minha sanidade mental. Até que o mundo pára num silêncio assustador. Longos segundos, uma leve tontura e minha mãe apenas mexendo os lábios, me oferecendo um copo de suco, em câmera lenta, numa lente sepia. Penso "beleza, tô surdo pra sempre, não vou trabalhar". Mas tudo volta ao normal e o papagaio grita na minha orelha:
- Quero cafééé!!!
Histérico, respondo automaticamente na orelhinha invisível dele: "Então vai à merda, filha da puta!!!".
- Quero cafééé!!!
Histérico, respondo automaticamente na orelhinha invisível dele: "Então vai à merda, filha da puta!!!".
segunda-feira, outubro 04, 2004
Festival de Parintins repaginado
Quem sabe - não duvide - um dia nosso festival seja algo assim:
Enfeitiçada pela magia de vários pajés, a tribo se vê cercada por feiticeiros e suas pirogas de cabine-dupla, adesivadas com a carranca do cacique. Os feiticeiros, dotados de super-poderes, hipnotizam os canoeiros, os macanudos dos rios, e os convencem a transportar a tribo, em transe, para a festa. Feiticeiros em outra frente transformam zeros em oitos, oitos em zeros, e exibem os índices maquiados do cacique à indiada. Música etérea, clima de sedução, velas acesas na galera, em perfeita sincronia de rostos e braços. Batucadas e marujadas psicodélicas, levando a tribo ao Nirvana. Jurados, convocados da platéia em última hora, arrepiados, vão às lágrimas. No momento da redenção, luzes ofuscantes e sinfonias corais enchem o bumbódromo, na apoteose do primeiro ato.
A tribo dorme, cansada, sem forças. Os feiticeiros correm aos vestiários, trocam roupa e tiram máscaras. Dali, tudo volta ao normal. Mulheres cuidando dos curumins e do beiju, homens caçando e pescando o sustento diário, enquanto o cacique, seus feiticeiros e os chefes de tribo vivem em harmonia, em porres de aluá, pegando, na escuridão da madrugada na floresta, suas pirogas de cabine-dupla, para enfeitiçar cunhantãs, a esmo, nas beiras dos igarapés.
Bocejos nas cabines dos jurados. Então, na escuridão da noite, uma grande zoada se ouve. Espantada, a tribo se esconde nos cantos das ocas. A terra levanta, em poeira, do chão. Enormes jacintas, libélulas pretas, surgem nos céus, envoltas em ventos e luzes tremendos, trazendo a ira de Tupã. O terror se instala, os apresentadores gritam “Olha que espetáculo, senhores jurados!!! São as jacintas de Tupã!!! Esse é o item número 27, senhores jurados!!! Que maravilha, que maraviiiiiilhaaaa!!!”. Aterrorizada, a tribo vê as jacintas cuspindo feiticeiros do Mal, vestidos em preto, com os rostos cobertos, que escorregam por cordas até as super-ocas dos feiticeiros do Bem. Sem acreditar, a tribo se entreolha, vê seus feiticeiros sendo levados, cabisbaixos, escondendo os rostos e, coletivamente, se esquece do feitiço que aqueles homens lhes haviam infligido. Então o cacique se vê só, e o Mal parece reinar. Feiticeiros fogem das garras das jacintas e dos guerreiros de colete preto, e são marcados em suas testas, como profetizou João no Apocalipse. Suas testas não trazem seu número, mas a palavra “Indiciado”.
Só que Tupã é Amor, e se compadece da tribo e de seu cacique. Na forma de pajés capazes de fazer prodígios, seu poder prevalece, e as jacintas pousam, os guerreiros de colete preto somem e as amarras são soltas, em meio à escuridão da madrugada na floresta. A tribo dorme, sem saber que seus feiticeiros já estão livres, correndo para adesivar novamente as pirogas. Dali a alguns tempos, novamente do colo do cacique, sairão para enfeitiçar o povo. Nova apoteose, fogos, luzes e cores, muitas cores. O povo volta à alegria. O boi preferido do patrão é sacrificado, mas tanto faz, há muitos bois preferidos. Todos dançam, comemorando a volta de seus chefes. Com novas máscaras, cobrindo suas testas, eles irão mais uma vez deixar a tribo em transe, e a vida na tribo será, de sempre a sempre, uma eterna espera pelos ventos e tremores de Tupã, que passaram do terror ao folclore. Sua ira não os assusta mais, pois sabem de sua misericórdia. Olhos para o alto, danças e cantos, à espera, novamente, das jacintas de Tupã.
Elas vão voltar, pois os feiticeiros já correram para os vestiários e novas pirogas e super-ocas estão sendo construídas. Vai ser bonito, vai ser bonito.
Com o perdão do texto longo. Afinal, são 3 horas de festa, pessoal.
Enfeitiçada pela magia de vários pajés, a tribo se vê cercada por feiticeiros e suas pirogas de cabine-dupla, adesivadas com a carranca do cacique. Os feiticeiros, dotados de super-poderes, hipnotizam os canoeiros, os macanudos dos rios, e os convencem a transportar a tribo, em transe, para a festa. Feiticeiros em outra frente transformam zeros em oitos, oitos em zeros, e exibem os índices maquiados do cacique à indiada. Música etérea, clima de sedução, velas acesas na galera, em perfeita sincronia de rostos e braços. Batucadas e marujadas psicodélicas, levando a tribo ao Nirvana. Jurados, convocados da platéia em última hora, arrepiados, vão às lágrimas. No momento da redenção, luzes ofuscantes e sinfonias corais enchem o bumbódromo, na apoteose do primeiro ato.
A tribo dorme, cansada, sem forças. Os feiticeiros correm aos vestiários, trocam roupa e tiram máscaras. Dali, tudo volta ao normal. Mulheres cuidando dos curumins e do beiju, homens caçando e pescando o sustento diário, enquanto o cacique, seus feiticeiros e os chefes de tribo vivem em harmonia, em porres de aluá, pegando, na escuridão da madrugada na floresta, suas pirogas de cabine-dupla, para enfeitiçar cunhantãs, a esmo, nas beiras dos igarapés.
Bocejos nas cabines dos jurados. Então, na escuridão da noite, uma grande zoada se ouve. Espantada, a tribo se esconde nos cantos das ocas. A terra levanta, em poeira, do chão. Enormes jacintas, libélulas pretas, surgem nos céus, envoltas em ventos e luzes tremendos, trazendo a ira de Tupã. O terror se instala, os apresentadores gritam “Olha que espetáculo, senhores jurados!!! São as jacintas de Tupã!!! Esse é o item número 27, senhores jurados!!! Que maravilha, que maraviiiiiilhaaaa!!!”. Aterrorizada, a tribo vê as jacintas cuspindo feiticeiros do Mal, vestidos em preto, com os rostos cobertos, que escorregam por cordas até as super-ocas dos feiticeiros do Bem. Sem acreditar, a tribo se entreolha, vê seus feiticeiros sendo levados, cabisbaixos, escondendo os rostos e, coletivamente, se esquece do feitiço que aqueles homens lhes haviam infligido. Então o cacique se vê só, e o Mal parece reinar. Feiticeiros fogem das garras das jacintas e dos guerreiros de colete preto, e são marcados em suas testas, como profetizou João no Apocalipse. Suas testas não trazem seu número, mas a palavra “Indiciado”.
Só que Tupã é Amor, e se compadece da tribo e de seu cacique. Na forma de pajés capazes de fazer prodígios, seu poder prevalece, e as jacintas pousam, os guerreiros de colete preto somem e as amarras são soltas, em meio à escuridão da madrugada na floresta. A tribo dorme, sem saber que seus feiticeiros já estão livres, correndo para adesivar novamente as pirogas. Dali a alguns tempos, novamente do colo do cacique, sairão para enfeitiçar o povo. Nova apoteose, fogos, luzes e cores, muitas cores. O povo volta à alegria. O boi preferido do patrão é sacrificado, mas tanto faz, há muitos bois preferidos. Todos dançam, comemorando a volta de seus chefes. Com novas máscaras, cobrindo suas testas, eles irão mais uma vez deixar a tribo em transe, e a vida na tribo será, de sempre a sempre, uma eterna espera pelos ventos e tremores de Tupã, que passaram do terror ao folclore. Sua ira não os assusta mais, pois sabem de sua misericórdia. Olhos para o alto, danças e cantos, à espera, novamente, das jacintas de Tupã.
Elas vão voltar, pois os feiticeiros já correram para os vestiários e novas pirogas e super-ocas estão sendo construídas. Vai ser bonito, vai ser bonito.
Com o perdão do texto longo. Afinal, são 3 horas de festa, pessoal.
sexta-feira, outubro 01, 2004
O trabalho faz a diferença
Há quem duvide da competência administrativa do governo estadual e do governo municipal. Eu acho uma grande injustiça. Todos têm metas muito bem definidas, claras, com indicadores de desempenho e reuniões quase diárias, que entram pela madrugada, em que discutem, à exaustão, estratégias de trabalho. Os secretários comandam tudo com atenção, pois seus cargos dependem do alcance das metas. Não é assim que deve ser? Pois é. Nunca houve tanto foco nos resultados. Há até um clima de competição entre as secretarias. Quais as metas?
E nós, injustos e exigentes, falando mal do funcionalismo público.
- Conseguir os nomes, RGs, CPFs e títulos de todos à volta;
- Distribuir camisetas, brincos e cartazes da Aliança;
- Prestar contas dos votos conseguidos ao comitê central;
- Arregimentar recrutas para a boca de urna do domingo;
- Organizar ações multidisciplinares com médicos, dentistas, professores, administradores, economistas e advogados, para:
- Conseguir os nomes, RGs, CPFs e títulos de todos à volta;
- Distribuir camisetas, brincos e cartazes da Aliança;
- Prestar contas dos votos conseguidos ao comitê central;
- Arregimentar recrutas para a boca de urna do domingo;
E nós, injustos e exigentes, falando mal do funcionalismo público.
quinta-feira, setembro 30, 2004
Aniversário do Galvez Botequim, hoje
Há quem diga que ele tem um quê de refúgio intelectual. Nada disso. O Galvez Botequim é um bar. Óbvio? Nem tanto, já que vivemos dias em que um Bar com B maiúsculo chega a ser coisa exótica. Se hoje os pedidos são feitos por palmtops, os telões são os protagonistas e as bandas de jazz-forró-r&b-pop-brega-rock-samba-reggae-acústico não deixam ninguém mais conversar em paz, o Galvez é inovador. Álvaro e Ana poderiam ser chamados de visionários, daqueles que dão o nome de Rex pro cachorro, nessa época de cachorros com nome de ator de cinema ou de remédio pra gastrite. Alguns têm até sobrenome, como o Silvio Paranhos, o saudoso gato do meu amigo Afonso Rodrigues (peraí, o gato pertence ao meu amigo, entendeu?).
Aqui já ouvi as rimas perfeitas do Chico Buarque, já matei as saudades do som dos velhinhos do Buena Vista Social Club e já tive a audácia de ouvir o meu Dark Side of The Moon, do começo ao fim. Aqui Célio Cruz, Lucinha Cabral, Pereira, Gean Sales e tantos outros já interromperam, maravilhosamente, meus papos.
O Galvez não é um genérico arrumadinho. Mas como nossa época teima em dizer que aparência não é tudo, valorizamos também a beleza interior, o espírito, a sustança. E essa beleza vem exatamente da variedade de pessoas, de conversas, de rostos e até de nacionalidades que por aqui se vêem. Nada de chope em ritmo de linha de produção, nada de público-alvo, mesmice, roupas iguais, idades iguais, conversas iguais. Nada de homogeneidade. No Galvez Botequim a diversidade impera. E se você já não se contenta em ser um número num cartão de consumo ou apenas mais um detalhe da decoração de um lugar abarrotado, experimente a diversidade.
Galvez Botequim
Rua Altair Severiano Nunes nº8, Conj. Eldorado
Em frente à praça da UTAM
Fone:6425566.
Aqui já ouvi as rimas perfeitas do Chico Buarque, já matei as saudades do som dos velhinhos do Buena Vista Social Club e já tive a audácia de ouvir o meu Dark Side of The Moon, do começo ao fim. Aqui Célio Cruz, Lucinha Cabral, Pereira, Gean Sales e tantos outros já interromperam, maravilhosamente, meus papos.
O Galvez não é um genérico arrumadinho. Mas como nossa época teima em dizer que aparência não é tudo, valorizamos também a beleza interior, o espírito, a sustança. E essa beleza vem exatamente da variedade de pessoas, de conversas, de rostos e até de nacionalidades que por aqui se vêem. Nada de chope em ritmo de linha de produção, nada de público-alvo, mesmice, roupas iguais, idades iguais, conversas iguais. Nada de homogeneidade. No Galvez Botequim a diversidade impera. E se você já não se contenta em ser um número num cartão de consumo ou apenas mais um detalhe da decoração de um lugar abarrotado, experimente a diversidade.
Rua Altair Severiano Nunes nº8, Conj. Eldorado
Em frente à praça da UTAM
Fone:6425566.
terça-feira, setembro 28, 2004
Estamos chocados com o quê?!
André Muggiati tocou na ferida que teimamos em esconder com band-aids da cor da pele, e a imprensa nacional dá destaque às mortes das putinhas do Princesa Laura. A prostituição, inclusive a infantil, é coisa nossa, como a caldeirada de tucunaré e o Amazonino Mendes. Estão aí as casas noturnas, os bares, os shoppings e os barcos, sempre floridos de cunhantãs, doidas pra sofrer de um tudo pelos 800 reais dos turistas. A prostituição das adolescentes amazonenses não vem apenas do desespero da pobreza, da falta de perspectivas e da exclusão social, como teimamos, cínicos, em dissimular. Vem de uma cultura banhada em ignorância e escambo, puro e simples. O que farão as sobreviventes, com seus 800 reais? Sair "dessa vida"? Nada, esse holofote já vai apagar, e talvez novas meninas já se amontoem nas casas noturnas depois da divulgação dos valores. Agora é só comprar calças de cintura baixa na Marechal Deodoro, chamar as amigas pra bater perna no shopping e decidir, afinal, quem era o mais gato dos paulistas, entre gargalhadas e provadores da Riachuelo. Quem sabe um dia elas aprendem a fazer como tantas mulheres de respeito daqui, que adoram um galego, mas que não falam assim, tão claramente, em dinheiro. Etiqueta faz diferença.
segunda-feira, setembro 27, 2004
Por que os furacões nos odeiam?
Toda a grande imprensa informa, alerta e relata, com preocupação e sobriedade, os prejuízos americanos com o "triste recorde" - termo do UOL - da Flórida, de ser atingida por 4 furacões em uma única temporada, fato que não ocorria há 118 anos. As mortes são noticiadas em tom preocupado: "Já são 7 os mortos pelo Jeanne nos EUA" ou "Charley faz sua oitava vítima nos EUA". Os prejuízos são calculados em 10, 15 bilhões de dólares, e as autoridades, resignadas, falam em prejuízos "sem precedentes históricos". O JN, por exemplo, faz matérias de 3 minutos, mostrando as palmeiras esvoaçantes, as imagens de satélite, os caipiras martelando chapas de alumínio nas janelas, etc. Lojas do Wall-Mart fechadas, alunos sem escola, jogos dos Dolphins cancelados, casas destelhadas, estradas congestionadas, enfim, um pandemônio total. A pergunta acima foi título de matéria da revista Time, semana passada. A América toda se perguntava a mesma coisa, depois de 23 mortes, cerca de um mês atrás, atribuídas a Charley, Frances e Ivan. Lendo, se tem a mesma impressão. Os furacões devem mesmo odiar os americanos.
No fim de todas as matérias, o mesmo rodapé:
"O furacão Jeanne matou mais de 2.800 pessoas no Haiti".
Assim, com as mesmas 10 palavras - uma a mais aqui, outra ali, tanto faz.
No fim de todas as matérias, o mesmo rodapé:
"O furacão Jeanne matou mais de 2.800 pessoas no Haiti".
Assim, com as mesmas 10 palavras - uma a mais aqui, outra ali, tanto faz.
quinta-feira, setembro 23, 2004
A jaguar subiu no telhado
Uma semana depois de a Ford anunciar a intenção de vender a equipe Jaguar, de F-1, os funcionários da escuderia "se colocaram à venda" em uma manifestação nesta quinta-feira, em Xangai, onde será realizado o GP da China neste final de semana.
O amazonense naturalizado brasileiro Antônio Pizzonia, piloto de testes da equipe BMW-Williams e substituto de Ralph Schumacher nas últimas corridas, nas quais vem pontuando sempre, foi procurado pela imprensa, que adora fazer as vezes de moleque de escola, que diz "olhaí, rapá. O cara falou da tua mãe, vai fazer nada não?! Iiiiihhhh...". Tudo porque a passagem do brasileiro pela equipe inglesa terminou "espalhando", com o "motor fumando", pra aproveitar o dialeto Galvonense. Visivelmente consternado com a notícia de que sua ex estava rodando bolsinha no calçadão, Pizzonia foi flagrado numa boate, fazendo uma jam session depressiva com sua banda de rock. Pizzonia, que aceitou fazer uma foto em homenagem à prematura morte da equipe, confessou tristeza com o fato de até mark Webber, piloto titular e pivô de sua demissão, estar à venda. A imagem é tocante, e Pizzonia prova, assim, ser um esportista exemplar.
O amazonense naturalizado brasileiro Antônio Pizzonia, piloto de testes da equipe BMW-Williams e substituto de Ralph Schumacher nas últimas corridas, nas quais vem pontuando sempre, foi procurado pela imprensa, que adora fazer as vezes de moleque de escola, que diz "olhaí, rapá. O cara falou da tua mãe, vai fazer nada não?! Iiiiihhhh...". Tudo porque a passagem do brasileiro pela equipe inglesa terminou "espalhando", com o "motor fumando", pra aproveitar o dialeto Galvonense. Visivelmente consternado com a notícia de que sua ex estava rodando bolsinha no calçadão, Pizzonia foi flagrado numa boate, fazendo uma jam session depressiva com sua banda de rock. Pizzonia, que aceitou fazer uma foto em homenagem à prematura morte da equipe, confessou tristeza com o fato de até mark Webber, piloto titular e pivô de sua demissão, estar à venda. A imagem é tocante, e Pizzonia prova, assim, ser um esportista exemplar.
terça-feira, setembro 21, 2004
Filme B de fim de semana
Maria da Conceição viajava de táxi-lotação pela feira da Panair, sábado de manhã. Levou um tiro no olho, num confronto entre traficantes da Colônia Oliveira Machado. Foi levada ao Serviço de Pronto Atendimento da Zona Sul. Duas horas depois, sem atendimento, foi mandada para o Getúlio Vargas para fazer avaliação neurológica. No fim da tarde, sem avaliação neurológica, Maria foi mandada para o 28 de Agosto, onde recebeu sutura no olho furado. Com a bala na cabeça, foi mandada novamente para o Getúlio Vargas, onde ficou até domingo no corredor, sem atendimento.
A vários milhares de reais de distância dali, num sarau de início de noite, membros da nobreza local se reuniam no décimo segundo andar do Tropical Flat, na borda do Rio Negro. Discutiam a Direita e a Esquerda. Uns, entre uma carreira e outra, estavam com o governo do PT, que é de esquerda. Outros, estavam contra, porque quem está no poder é sempre direita. Filosoficamente, direitistas e esquerdistas confundiam-se, fazendo alusão à polarização americana. Hitlers, Mussolinis, Bushes e Tsetungs foram citados, e precisavam parar nalguma prateleira de livros, malmente organizados em correntes de pensamento e biografias. O uísque levantava o tom, a mesa de centro tinha salgadinhos e maços de Carlton empilhados. Um pires passava de mão em mão, outros preferiam maconha de cachimbo. Entre direita e esquerda, todos foram classificados – à exceção de Heloísa, esquerdista que fazia oposição à esquerda -, mas as posições eram muito voláteis, e o tabuleiro imaginário de War ia sendo reorganizado, conforme o pires rodava e o Johnny Walker continuava caminhando pelas pedras do gelo turvo nos copos.
"Romarinho", o provável autor do disparo, estava em casa, anotando o pedido de um cliente da Ponta Negra. Só Maria da Conceição não tinha essas aflições políticas e ideológicas. Foi declarada morta, às 23:12 de domingo. Uma bala lhe varara o olho pela esquerda, mas estava alojada no muro que divide a fala e a coordenação motora. Havia controvérsia. Alguns atestariam que sua bala era de centro-esquerda.
Ficção baseada em não-ficção
A vários milhares de reais de distância dali, num sarau de início de noite, membros da nobreza local se reuniam no décimo segundo andar do Tropical Flat, na borda do Rio Negro. Discutiam a Direita e a Esquerda. Uns, entre uma carreira e outra, estavam com o governo do PT, que é de esquerda. Outros, estavam contra, porque quem está no poder é sempre direita. Filosoficamente, direitistas e esquerdistas confundiam-se, fazendo alusão à polarização americana. Hitlers, Mussolinis, Bushes e Tsetungs foram citados, e precisavam parar nalguma prateleira de livros, malmente organizados em correntes de pensamento e biografias. O uísque levantava o tom, a mesa de centro tinha salgadinhos e maços de Carlton empilhados. Um pires passava de mão em mão, outros preferiam maconha de cachimbo. Entre direita e esquerda, todos foram classificados – à exceção de Heloísa, esquerdista que fazia oposição à esquerda -, mas as posições eram muito voláteis, e o tabuleiro imaginário de War ia sendo reorganizado, conforme o pires rodava e o Johnny Walker continuava caminhando pelas pedras do gelo turvo nos copos.
"Romarinho", o provável autor do disparo, estava em casa, anotando o pedido de um cliente da Ponta Negra. Só Maria da Conceição não tinha essas aflições políticas e ideológicas. Foi declarada morta, às 23:12 de domingo. Uma bala lhe varara o olho pela esquerda, mas estava alojada no muro que divide a fala e a coordenação motora. Havia controvérsia. Alguns atestariam que sua bala era de centro-esquerda.
Ficção baseada em não-ficção
segunda-feira, setembro 20, 2004
Taí pra ti
Clique no link aí ao lado, que diz "Taqui pra Ti".
Como diria meu colega Wladimir, sobre o Amazonas:
"Que fase hein!..."
Como diria meu colega Wladimir, sobre o Amazonas:
"Que fase hein!..."
sexta-feira, setembro 17, 2004
Predadores
Transcrevo aqui matéria do site da revista Carta Capital, que na edição 308, de anteontem, traz entrevista com Milton Hatoum, ex-professor da UFAM, falando de Manaus. A versão impressa da revista traz mais coisa, mas essa amostra já vale.
PREDADORES
Numa região governada por uma “elite mercenária”, depois das festas, “a vida volta ao seu martírio”, diz Milton Hatoum.
Hoje um dos mais importantes escritores brasileiros, Milton Hatoum nasceu e passou a maior parte da sua vida em Manaus. Em 1999, pediu demissão da Universidade Federal do Amazonas, onde lecionava, e mudou-se para São Paulo. “Queria sair de um lugar que estava me deprimindo”, explica Hatoum, que considera a Amazônia um “Jardim do Éden” governado – sobretudo no caso do Amazonas – por uma elite “incompetente e mercenária”. Prestes a lançar o romance Vila Amazônia, Hatoum falou a CartaCapital sobre os problemas da região.
CartaCapital: Por que a vida em Manaus era deprimente?
Milton Hatoum: Manaus virou um monumento de viadutos e edifícios, a caricatura de uma modernidade manca. O Amazonas é um estado rico, graças à Zona Franca, mas as condições de vida da população são tenebrosas. Do ponto de vista político e social, eu vejo avanço em todo o Brasil, menos lá. Enquanto outros estados, como o Pará e o Amapá, passaram por mudanças políticas, o Amazonas é dominado pelo mesmo grupo há décadas. Trata-se, com honrosas exceções, de uma elite incompetente e mercenária, composta por gente de lá mesmo e por aventureiros vindos de outras regiões. Você quer contestar a barbaridade, a demência dos poderosos e não consegue. É enlouquecedor.
CC: Como o senhor vê o velho impasse amazônico entre a necessidade do desenvolvimento e a luta por preservação ambiental?
MH: Para mim, a miséria é mais chocante que o desmatamento. Volto ao exemplo emblemático de Manaus, uma cidade de 1,6 milhão de habitantes, onde 50% são favelados e menos de 15% têm esgoto. A 1 quilômetro do maior rio do mundo, falta água nos bairros pobres. Para onde vai o dinheiro do imposto? É um crime plantar soja onde há floresta. A exploração da natureza deve ser sustentável. Mas o pior é ver a degradação da população.
CC: O senhor já foi a festas folclóricas do interior da Amazônia?
MH: Já. Eu conheço o interior do Amazonas. É paupérrimo. Antes e depois da festa, a vida volta ao seu martírio. Mas a elite e o povo do Pará souberam preservar mais a cultura popular. Manaus foi sempre uma cidade daquele que não quer se fixar lá, do predador que explora e vai embora. O que houve foi a aliança de uma elite fragilizada com os poderosos da Zona Franca, que dão as cartas. Os políticos ficaram reféns desse capital, que é de fora, seja do exterior, seja do Sul-Sudeste.
CC: Como o Amazonas deveria promover seu desenvolvimento?
MH: Muita coisa pode ser feita em matéria de exploração sustentável dos recursos naturais. Mas a principal vocação do Estado é para o turismo. Uma vocação desperdiçada pela elite dirigente que só se interessa em proteger e fortalecer a Zona Franca. Da forma como o Amazonas tem sido governado, se um dia a Zona Franca acabar, o Estado estará liquidado.
PREDADORES
Numa região governada por uma “elite mercenária”, depois das festas, “a vida volta ao seu martírio”, diz Milton Hatoum.
Hoje um dos mais importantes escritores brasileiros, Milton Hatoum nasceu e passou a maior parte da sua vida em Manaus. Em 1999, pediu demissão da Universidade Federal do Amazonas, onde lecionava, e mudou-se para São Paulo. “Queria sair de um lugar que estava me deprimindo”, explica Hatoum, que considera a Amazônia um “Jardim do Éden” governado – sobretudo no caso do Amazonas – por uma elite “incompetente e mercenária”. Prestes a lançar o romance Vila Amazônia, Hatoum falou a CartaCapital sobre os problemas da região.
CartaCapital: Por que a vida em Manaus era deprimente?
Milton Hatoum: Manaus virou um monumento de viadutos e edifícios, a caricatura de uma modernidade manca. O Amazonas é um estado rico, graças à Zona Franca, mas as condições de vida da população são tenebrosas. Do ponto de vista político e social, eu vejo avanço em todo o Brasil, menos lá. Enquanto outros estados, como o Pará e o Amapá, passaram por mudanças políticas, o Amazonas é dominado pelo mesmo grupo há décadas. Trata-se, com honrosas exceções, de uma elite incompetente e mercenária, composta por gente de lá mesmo e por aventureiros vindos de outras regiões. Você quer contestar a barbaridade, a demência dos poderosos e não consegue. É enlouquecedor.
CC: Como o senhor vê o velho impasse amazônico entre a necessidade do desenvolvimento e a luta por preservação ambiental?
MH: Para mim, a miséria é mais chocante que o desmatamento. Volto ao exemplo emblemático de Manaus, uma cidade de 1,6 milhão de habitantes, onde 50% são favelados e menos de 15% têm esgoto. A 1 quilômetro do maior rio do mundo, falta água nos bairros pobres. Para onde vai o dinheiro do imposto? É um crime plantar soja onde há floresta. A exploração da natureza deve ser sustentável. Mas o pior é ver a degradação da população.
CC: O senhor já foi a festas folclóricas do interior da Amazônia?
MH: Já. Eu conheço o interior do Amazonas. É paupérrimo. Antes e depois da festa, a vida volta ao seu martírio. Mas a elite e o povo do Pará souberam preservar mais a cultura popular. Manaus foi sempre uma cidade daquele que não quer se fixar lá, do predador que explora e vai embora. O que houve foi a aliança de uma elite fragilizada com os poderosos da Zona Franca, que dão as cartas. Os políticos ficaram reféns desse capital, que é de fora, seja do exterior, seja do Sul-Sudeste.
CC: Como o Amazonas deveria promover seu desenvolvimento?
MH: Muita coisa pode ser feita em matéria de exploração sustentável dos recursos naturais. Mas a principal vocação do Estado é para o turismo. Uma vocação desperdiçada pela elite dirigente que só se interessa em proteger e fortalecer a Zona Franca. Da forma como o Amazonas tem sido governado, se um dia a Zona Franca acabar, o Estado estará liquidado.
quarta-feira, setembro 15, 2004
A Guerra Fria e a República das Amazonas
Numa troca de acusações em homenagem à Guerra Fria, Moscou rejeita as posições de Washington sobre as medidas anunciadas pelo governo para combater o terror. Na terça, o secretário de Estado americano Colin Powell disse que a Rússia estava regredindo no seu caminho rumo à democracia (sentiu o “no seu caminho rumo”?). Ele comentava o anúncio de que os governos regionais não seriam mais escolhidos através de voto direto na Rússia. O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, alfinetou Powell. "Isso não é da conta dele. Nós, por exemplo, não comentamos o sistema eleitoral americano". O grifo é meu, com todo o prazer. Tem passarinho que come pedra sem saber o c* que tem (ei, sem querer fiz uma versão gráfica do c*!)
Enquanto isso, o IBGE divulgou pesquisa na qual 13 regiões (do total de 14 pesquisadas) tiveram aumento na produção industrial. A única região com nota vermelha foi... a amazônica. Até aí, nada demais, afinal, os ânimos de boa parte dos empresários amazonenses do Distrito (inclusive os amazonenses que falam “os mano e as mina”) devem estar abalados pela cisma – infundadíssima! - da PF com a gente. Interessante mesmo foi a manchete da Veja on-line para o assunto: “Indústria cresce em todo o Brasil”. Deduzi, triste e indignado, que nós, amazonenses, não ganhamos nenhuma medalha na olimpíada, que não temos nenhum título no futebol.
E ainda há quem diga que o Mercosul morreu. Que nada. A Veja que recebo semanalmente, por exemplo, é isenta de tarifa de importação.
Enquanto isso, o IBGE divulgou pesquisa na qual 13 regiões (do total de 14 pesquisadas) tiveram aumento na produção industrial. A única região com nota vermelha foi... a amazônica. Até aí, nada demais, afinal, os ânimos de boa parte dos empresários amazonenses do Distrito (inclusive os amazonenses que falam “os mano e as mina”) devem estar abalados pela cisma – infundadíssima! - da PF com a gente. Interessante mesmo foi a manchete da Veja on-line para o assunto: “Indústria cresce em todo o Brasil”. Deduzi, triste e indignado, que nós, amazonenses, não ganhamos nenhuma medalha na olimpíada, que não temos nenhum título no futebol.
E ainda há quem diga que o Mercosul morreu. Que nada. A Veja que recebo semanalmente, por exemplo, é isenta de tarifa de importação.
Citação de citação, de citação.
O assassinato dos mendigos paulistanos (paulistanos não, meu! nordestinos!) quase reacendeu a discussão sobre a exclusão social e sobre o desprezo das grandes cidades, em especial da rica São Paulo, por seus marginais. Procurei uma charge do Angeli, da época dos atentados de 2001, em que uma família de mendigos era solenemente ignorada, numa esquina, pelos paulistanos, com suas camisetas "I [coração] NY" e "God Bless America", mas não a encontrei. Aí vi no blog Farsantes algo que vi, também, anos atrás, na saudosa TV Pirata:
Mendigo: Moça, me dá um dinheiro pra eu beber alguma coisa?
Moça: De jeito nenhum. Eu conheço seu tipo. Você quer dinheiro é pra comprar comida!
Mendigo: Não, eu juro que é pra cachaça, moça. Por favor!
Moça: Não insista, meu filho. Você vai é encher essa cara de pão!
Os farsantes citam também este ótimo texto, do blog do Ruy Goiaba.
Mendigo: Moça, me dá um dinheiro pra eu beber alguma coisa?
Moça: De jeito nenhum. Eu conheço seu tipo. Você quer dinheiro é pra comprar comida!
Mendigo: Não, eu juro que é pra cachaça, moça. Por favor!
Moça: Não insista, meu filho. Você vai é encher essa cara de pão!
Os farsantes citam também este ótimo texto, do blog do Ruy Goiaba.
Ainda estou aqui
Como os últimos dois dias foram marcados pelo imprevisto de ter que trabalhar muito, vou deixando uma palha do Dicionário do Diabo, cujo endereço informo mais tarde.
A definição de egoísta é
"Um indivíduo de péssimo gosto, que se preocupa mais com ele do que comigo"
A definição de egoísta é
"Um indivíduo de péssimo gosto, que se preocupa mais com ele do que comigo"
segunda-feira, setembro 13, 2004
"Eu sou brasileiro e não sinto vergonha nunca"
Eu gostava de monopolizar o Atari. Jogava Missile Command por horas, batendo recordes olímpicos e mundiais todo dia. Quando finalmente minha mão começava a desobecer aos comandos do cérebro, eu chamava o meu irmão, que reclamava do tratamento diferenciado que mamãe nos dava. Ele sempre assumia o controle do jogo, e enquanto se arrumava entre almofadas e cartuchos, eu dizia, maioral : "Tá, agora você pode brincar um pouquinho, enquanto eu descanso. Aproveita!"
Só há um tipo de pessoa mais patético do que um piloto como Rubens Barrichelo.
Alguém que comemore uma vitória sua.
sexta-feira, setembro 10, 2004
Mentalize a cena
"Alguém no apartamento de cima tem um pé só. Joga sempre um sapato pesado no chão, eu fico esperando o outro e nada. Perneta filho de uma puta."
Por Sérgio Faria, do blog Catarro Verde.
Pra mim, provavelmente o post mais engraçado em muito tempo.
Por Sérgio Faria, do blog Catarro Verde.
Pra mim, provavelmente o post mais engraçado em muito tempo.
Flórida, here we go!
Primeiro foi o Charley, depois o Frances. Agora vem o Ivan. Todos furacões de classes 4 ou 5, ou seja, merda garantida. Todos atacando a Flórida (sabem, a Flórida, né?). Aquele cujo nome não cito mais vai decretar alerta laranja nos próximos dias, e trocar os nomes dos furacões para Ibrahim Al-Zauiri, Mohammed El-Zarquaui e Moqtada Ali-Bainmi. Toda a população da Flórida será transferida para estados como Wisconsin ou Iowa, onde ficará confinada em trailers monitorados pela CIA, incomunicável até as eleições. O serviço de inteligência encontrará vestígios de ligações entre as atividades destruidoras de Ibrahim-Mohammed-Moqtada e o modus operandi da Al-Qaeda. Aquele cujo nome não cito mais pedirá a aprovação, no Senado, da verba de 2 trilhões de dólares para a construção, pela Halliburton, de um escudo anti-furacão, batizado "Freedom Shield". Não sei se os três furacões vão ajudar ou atrapalhar a reeleição dEle. Vejamos o que Michael Gerson, o principal escritor de discursos dEle, vai bolar.
quinta-feira, setembro 09, 2004
O aparte de Waldir Barros
Maio de 1977. O vereador Fábio Lucena, líder do MDB na Câmara Municipal, está discursando violentamente sobre as conseqüências nefastas do “pacote de abril”, uma série de medidas draconianas com que o presidente-general Ernesto Geisel manietou o Congresso Nacional:
- A grei que exerce o poder, desde o rei ao palafreneiro, conseguiu que o Senado e a Câmara dos Deputados deixassem em segundo plano a questão econômica. Nem mesmo a decretação dos novos níveis de salário mínimo, em níveis que mal dão, e se assim o forem, para uma cesta de alimentação semanal, nem mesmo esses níveis mereceram a obsequiosa atenção do nosso Congresso.
Baixinho como um anão de Velásquez, o vereador Waldir Barros, líder da Arena, resolve revidar:
- Permite V. Ex.ª um aparte?
Fábio Lucena faz de conta que não é com ele e continua:
- Não que o Congresso tivesse querido descurar desses problemas. Em absoluto, Sr. Presidente, é que uma questão mais alto se alevanta, e é a questão institucional. E o debate sobre a questão institucional deve prevalecer sobre todos os demais. Nós, quando como oposicionistas, cumprimos aqui o nosso papel de divergência, de conflito legítimo com o aparelho de poder, com o Governo, quando nós verberamos a ação militarista, nós não verberamos a conduta do militar. O militar, entregue aos seus afazeres profissionais, em qualquer das armas, merece o respeito e os encômios de toda a cidadania, de toda a nação brasileira. O que nós desejamos na verdade é que, para a conquista do poder, por militar, por civil ou por padres, qualquer que seja o postulante do poder, nós desejamos que ele se submeta à vontade popular, pelo caminho legítimo do banho lustral das urnas.
Waldir Barros volta à carga:
- Sr. Presidente, o orador está fugindo ao debate e ferindo o regimento interno ao não me conceder o aparte...
- V. Ex.ª me desculpe, mas quem está ferindo o regimento desta casa é V. Ex.ª. O regimento interno diz que para solicitar um aparte, o nobre edil deve ficar de pé ao lado do microfone, e V. Ex.ª continua sentado, numa clara manifestação de desprezo pelo orador...
Pego no contrapé, o baixinho Waldir Barros começa a pular feito um desesperado e a gritar a plenos pulmões:
- Eu estou de pé, Sr. Presidente! Eu estou de pé, Sr. Presidente!
As gargalhadas da platéia quase fizeram a galeria desabar com o inusitado da cena. Não houve aparte, claro. Quem manda o cara ser baixinho?
Folclore Político Amazonense, Simão Pessoa.
- A grei que exerce o poder, desde o rei ao palafreneiro, conseguiu que o Senado e a Câmara dos Deputados deixassem em segundo plano a questão econômica. Nem mesmo a decretação dos novos níveis de salário mínimo, em níveis que mal dão, e se assim o forem, para uma cesta de alimentação semanal, nem mesmo esses níveis mereceram a obsequiosa atenção do nosso Congresso.
Baixinho como um anão de Velásquez, o vereador Waldir Barros, líder da Arena, resolve revidar:
- Permite V. Ex.ª um aparte?
Fábio Lucena faz de conta que não é com ele e continua:
- Não que o Congresso tivesse querido descurar desses problemas. Em absoluto, Sr. Presidente, é que uma questão mais alto se alevanta, e é a questão institucional. E o debate sobre a questão institucional deve prevalecer sobre todos os demais. Nós, quando como oposicionistas, cumprimos aqui o nosso papel de divergência, de conflito legítimo com o aparelho de poder, com o Governo, quando nós verberamos a ação militarista, nós não verberamos a conduta do militar. O militar, entregue aos seus afazeres profissionais, em qualquer das armas, merece o respeito e os encômios de toda a cidadania, de toda a nação brasileira. O que nós desejamos na verdade é que, para a conquista do poder, por militar, por civil ou por padres, qualquer que seja o postulante do poder, nós desejamos que ele se submeta à vontade popular, pelo caminho legítimo do banho lustral das urnas.
Waldir Barros volta à carga:
- Sr. Presidente, o orador está fugindo ao debate e ferindo o regimento interno ao não me conceder o aparte...
- V. Ex.ª me desculpe, mas quem está ferindo o regimento desta casa é V. Ex.ª. O regimento interno diz que para solicitar um aparte, o nobre edil deve ficar de pé ao lado do microfone, e V. Ex.ª continua sentado, numa clara manifestação de desprezo pelo orador...
Pego no contrapé, o baixinho Waldir Barros começa a pular feito um desesperado e a gritar a plenos pulmões:
- Eu estou de pé, Sr. Presidente! Eu estou de pé, Sr. Presidente!
As gargalhadas da platéia quase fizeram a galeria desabar com o inusitado da cena. Não houve aparte, claro. Quem manda o cara ser baixinho?
Folclore Político Amazonense, Simão Pessoa.
A Santa Casa fechou
Por falta de R$ 300.000,00 reais, duas mil e quinhentas pessoas deixarão de ser atendidas, trezentas cirurgias e trezentos e cinquenta partos deixarão de ser realizados por mês. O convênio com o Governo do Amazonas foi suspenso. Dane-se. Os ladrões amazonenses sabem direitinho o caminho do Albert Einstein, em São Paulo, quando precisam de um stent ou de um check-up.
Ah, sim, já ia esquecendo: uma das empresas do deputado Cordeiro, indiciada pela Polícia Federal por roubo, está lá, na CGL, disputando mais uma concorrência, essa de 9 milhões (R$ 9.000.000,00).
Dúvida de um ateu político
Marta Suplicy afirmou, nesta quarta-feira, em palestra na Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamentos e Investimentos (Acrefi), que uma vitória da oposição na cidade de São Paulo pode resultar numa crise política no país, o que impediria o governo federal de criar condições para dar sustentabilidade ao crescimento econômico. A afirmação partiu depois que Serra apareceu 4 pontos à frente da pessimista prefeita nas últimas pesquisas.
Mas peraí: não foi o PT que chamou esse expediente suspeito – lembram do papelão de Dona Regina Duarte, encomendado justamente pelo tucano Serra em 2002? - de terrorismo, e que depois da vitória de Lula aclamou a vitória da esperança sobre o medo?!
Mas peraí: não foi o PT que chamou esse expediente suspeito – lembram do papelão de Dona Regina Duarte, encomendado justamente pelo tucano Serra em 2002? - de terrorismo, e que depois da vitória de Lula aclamou a vitória da esperança sobre o medo?!
segunda-feira, setembro 06, 2004
Acostume-se: Não vai acabar.
Não consigo acreditar no noticiário de hoje
Não consigo fechar os olhos e fazê-lo desaparecer
Por quanto tempo teremos de cantar esta canção?
Porque esta noite... Nós podemos ser um
Garrafas quebradas sob os pés das crianças
Corpos espalhados num beco sem saída
Mas não vou atender ao clamor da guerra
Ele me irrita, me encurrala,
E a batalha apenas começou
Muitos perderam,
Mas me diga: quem ganhou?
Trincheiras cavadas dentro dos nossos corações
E mães, crianças, irmãos, irmãs separados
Por quanto tempo teremos de cantar essa canção?
Quanto tempo, quanto tempo?
Porque hoje à noite nós podemos ser um
Enxugue suas lágrimas
Enxugue seus olhos injetados
E é verdade que somos imunes
Quando o fato é ficção e a tevê realidade
E hoje milhões choram
Nós comemos e bebemos enquanto amanhã eles morrem
A verdadeira batalha começou
Para reivindicar a vitória que Jesus conquistou
(Sunday, Bloody Sunday - U2)
Dica pro feriadão
Se você ainda acha que já viu de tudo sobre farsas orquestradas por governos, principalmente os americanos, dê uma olhada nesse vídeo. Teorias conspiratórias há, aos montes, e são praticamente todas apenas bobas. O que o vídeo mostra talvez seja mais uma bobagem, e acredito que seja. Mas que deixa uma pulga (mais uma) atrás da orelha, isso deixa. A dica foi da Mônica, do blog Eu...@ Big Apple, que está linkado aí ao lado. Bom, tome como entretenimento, mas preste bastante atenção aos detalhes.
PS.: A qualquer momento um post novo.
PS.: A qualquer momento um post novo.
sexta-feira, setembro 03, 2004
Isso sim, é "rolar" a dívida
Fevereiro de 1985. eleito pelo PDS, o prefeito Raimundo Sobrinho, de Boa Vista do Ramos, estava tendo dificuldades de “rolar” a dívida da prefeitura e pediu ajuda ao deputado estadual Átila Lins para agendar um encontro dele com o governador Gilberto Mestrinho. A ajuste fiscal que o governador estava promovendo no Estado estava tirando o sono dos alcaides. Na manhã de uma sexta-feira, o telefone do prefeito tocou. do outro lado da linha, Átila Lins:
- Prefeito, estou aqui em Urucurituba. Pega uma voadeira e se manda pra cá, que o governador vai te receber em audiência.
No início da tarde, Sobrinho chegou a Urucurituba, debaixo de um temporal diluviano. As ruas de barro haviam se transformado em cachoeiras de lama. Para não sujar a imaculada calça de linho, o prefeito enrolou a bainha da calça até o meio da canela. Quando entrou na sala da Prefeitura, onde o governador estava realizando as audiências, o deputado percebeu que ele ainda estava com as calças enroladas. Átila Lins se aproximou discretamente do prefeito e sussurrou em seu ouvido:
- Abaixa a calça, prefeito!
Sobrinho levou um susto.
- Já?! – reagiu. “Eu pensei que a gente pudesse primeiro negociar...”
O deputado teve um trabalho do cão para desfazer o mal-entendido.
Folclore Político Amazonense, de Simão Pessoa.
- Prefeito, estou aqui em Urucurituba. Pega uma voadeira e se manda pra cá, que o governador vai te receber em audiência.
No início da tarde, Sobrinho chegou a Urucurituba, debaixo de um temporal diluviano. As ruas de barro haviam se transformado em cachoeiras de lama. Para não sujar a imaculada calça de linho, o prefeito enrolou a bainha da calça até o meio da canela. Quando entrou na sala da Prefeitura, onde o governador estava realizando as audiências, o deputado percebeu que ele ainda estava com as calças enroladas. Átila Lins se aproximou discretamente do prefeito e sussurrou em seu ouvido:
- Abaixa a calça, prefeito!
Sobrinho levou um susto.
- Já?! – reagiu. “Eu pensei que a gente pudesse primeiro negociar...”
O deputado teve um trabalho do cão para desfazer o mal-entendido.
Folclore Político Amazonense, de Simão Pessoa.
quinta-feira, setembro 02, 2004
Uma saudade sem dono
O ar rarefeito do trigésimo andar (onde cheguei arfante no último fevereiro) tem cobrado seu preço. O álcool sempre me causou lapsos de memória recente, mesmo nos andares de baixo, mas hoje a coisa complicou. Acordei triste, inexplicavelmente pensando no meu pai, que não conheci. Morreu quando eu tinha três anos, e se havia uma chance de que um dia um pop-up de lembrança saltaria na minha tela, os anos de mé a anularam. Quando alguém me fala dele, um misto de tristeza e conforto me pega. Meu Deus, como as pessoas o amavam... e eu não o conheci. Então eu penso, covardemente, que estou livre da dor de perdê-lo. Mas como eu queria que ele estivesse aqui, pra eu poder chorar, como os outros. Confesso, eu o quis, mesmo que depois chorasse. Sei, preciso cuidar de quem ficou, mas essa ausência doeu muito hoje. Não tive a dor, mas também não tenho as lembranças.
Ah, vai ver só preciso de uma xícara de chá de boldo e de uma boa chorada. Voltemos à luz do dia, por favor.
Ah, vai ver só preciso de uma xícara de chá de boldo e de uma boa chorada. Voltemos à luz do dia, por favor.
quarta-feira, setembro 01, 2004
A pobreza tomou um "banho de livraria"
Toda vez que vejo um literato esnobe citando Kant, Kafka e Dostoievski, penso num sabre milenar da arte dos samurais, nas mãos de alguém que o usa para sacrificar uma galinha caipira no quintal de casa. Triste como a convivência com os livros torna as pessoas desinteressantes. Acho que falta acompanhamento psicológico, tanto à Mari do vôlei quanto a essa gente. Enfim, pretendo escrever um livro chamado "Os 7 hábitos das pessoas altamente sem graça".
* * *
O que dá ser tão bonito...
FABÍOLA REIPERT
Colunista do Agora
Está explicado o motivo das brigas que Daniela Cicarelli tem arrumado com o namorado. Ela descobriu que Fernanda Lima foi para Madri e ficou uma noite na casa de Ronaldo. O craque jura que não rolou nada, que eles são apenas bons amigos etc. Cicarelli, que já avisou que não aceita traição, decidiu desculpá-lo. Mas tem um detalhe da vida agitada do jogador que a modelo não sabe: ele foi visto com uma bela loira americana em Nova York.
O que dá ser tão bonito...
FABÍOLA REIPERT
Colunista do Agora
Está explicado o motivo das brigas que Daniela Cicarelli tem arrumado com o namorado. Ela descobriu que Fernanda Lima foi para Madri e ficou uma noite na casa de Ronaldo. O craque jura que não rolou nada, que eles são apenas bons amigos etc. Cicarelli, que já avisou que não aceita traição, decidiu desculpá-lo. Mas tem um detalhe da vida agitada do jogador que a modelo não sabe: ele foi visto com uma bela loira americana em Nova York.
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